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14/11/2002
-
18h22
da Folha Online
O Hospital São Paulo, o maior dos 45 hospitais universitários no país mantidos pelo governo federal, decidiu restringir o atendimento no pronto-socorro a partir de segunda-feira (18) por falta de verbas. Com isso, somente emergências -casos com risco de morte- serão atendidas. A previsão é de que aproximadamente mil pessoas fiquem sem atendimento médico diariamente.
O hospital atende todos os dias uma média de 4.500 pessoas. Somente pelo pronto-socorro passam cerca de 1.500 pacientes.
O déficit mensal do hospital é de R$ 2 milhões, além de uma dívida de R$ 60 milhões, acumulada ao longo dos anos.
Segundo o diretor-superientendente do Hospital São Paulo, José Roberto Ferraro, para cumprir a folha de pagamento, são utilizados recursos do SUS (Sistema Único de Saúde) e outros "que vão emendando a receita", como o convênio interministerial e emendas parlamentares.
Três dessas emendas, no valor de R$ 11,5 milhões, não foram liberadas este ano. Segundo o Ministério da Saúde, o presidente Fernando Henrique assinou decreto em fevereiro contingenciando emendas coletivas na área da Saúde. Essas emendas totalizam R$ 617,8 milhões, dos quais R$ 11,1 milhões destinam-se ao apoio à manutenção dos hospitais universitários.
"Esses recursos de emendas não estão sendo liberados, eu perco a capacidade de negociar com os fornecedores para colocar remédios e insumos no hospital. Seria muita irresponsabilidade nossa colocar um doente internado sem ter o potencial, recursos financeiros, para poder comprar os insumos. Por isso que essa atitude foi de controle de demanda dos doentes do pronto-socorro, embora a gente vá atender as emergências", disse Ferraro.
O Ministério da Saúde diz ainda que não há qualquer dívida para com os hospitais universitários. O ministério diz que o compromisso com os 147 hospitais universitários -41 mil leitos- é de pagar pelo atendimento que prestam aos usuários do SUS. De janeiro a setembro deste ano foram repassados R$ 807,8 milhões referentes a 1,033 milhão de internações hospitalares. Ao longo do ano passado, foram repassados R$ 1 bilhão.
O diretor-superientendente do Hospital São Paulo disse que já entrou em contato com outros hospitais da cidade, para comunicar que pacientes serão encaminhados a eles. Ferraro afirma também que procurou políticos -estaduais e federais- para tentar "a liberação imediata dessas verbas".
Ele disse que entrou em contato com a equipe de transição do futuro governo Luiz Inácio Lula da Silva e encaminhou cartas para o presidente da República, Fernando Henrique Cardoso, e para o Ministro da Saúde, Barjas Negri.
"O que ele [Barjas Negri] diz é que a área econômica é que não está liberando recursos para que o Ministério da Saúde cumpra com o orçamento. A nossa emenda está no orçamento desde o início do ano. Falta sensibilidade da área econômica para a área social", afirmou.
Motivos da crise
Os motivos da crise são "muitos e antigos", conforme o hospital.
Um deles "é que há anos não há reposição de funcionários por meio de concursos. A saída é contratar trabalhadores com recursos do SUS".
O Hospital São Paulo é o que tem o maior número de funcionários terceirizados. São 3.014.
Dados do hospital mostram que do total de 4.535 funcionários, apenas 30% (1.521) são concursados e recebem do Ministério da Educação. O restante é pago com a verba do SUS, que deveria ser usada no custeio do hospital.
Outro fator gerador da crise diz respeito à tabela de remuneração do SUS, que estabelece um teto de pagamento independentemente do número de atendimentos realizados, além de se basear em uma tabela defasada.
O preço pago pelo governo por consulta médica é de R$ 2,55. O SUS paga ao Hospital São Paulo, uma média mensal de R$ 9 milhões, "valor insuficiente para o número e complexidade de procedimentos realizados".
"Precisamos ter um orçamento próprio, ao qual estariam atreladas metas de atendimento estabelecidas conjuntamente com o gestor", diz Ferraro.
Hospitais Universitários
Dados fornecidos pelo Hospital São Paulo revelam que entre os 6.900 hospitais integrados ao SUS, 154 são reconhecidos pelos Ministérios da Saúde e da Educação como de ensino, ou auxiliares de ensino.
Em 2001, esses hospitais foram responsáveis por aproximadamente 9% dos leitos, 12% das internações e 24% dos recursos do SUS destinados ao pagamento de internações. Eles responderam por algo em torno de 50% das cirurgias cardíacas, 70% dos transplantes, 50% das neurocirurgias e 65% dos atendimentos na área de malformações craniofaciais.
"Por seu caráter de referência, concentram os pacientes mais graves, que exigem mais recursos e atenção", diz o Hospital São Paulo.
Os hospitais universitários também respondem pela formação de praticamente todos os estudantes da área de saúde de nível superior.
A Universidade Federal de São Paulo, única especializada na área de saúde e à qual está atrelado o Hospital São Paulo, é responsável pela maior produção científica em saúde do país, além de manter o maior programa de residência médica do sistema federal, diz Ferraro.
Leia mais:
Hospitais públicos devem absorver pacientes do Hospital São Paulo
Hospital São Paulo nega falta de remédios, mas admite escassez
HC de Belo Horizonte deve suspender atendimento por falta de verba
Crise faz Hospital São Paulo cortar mil atendimentos por dia
LÍVIA MARRAda Folha Online
O Hospital São Paulo, o maior dos 45 hospitais universitários no país mantidos pelo governo federal, decidiu restringir o atendimento no pronto-socorro a partir de segunda-feira (18) por falta de verbas. Com isso, somente emergências -casos com risco de morte- serão atendidas. A previsão é de que aproximadamente mil pessoas fiquem sem atendimento médico diariamente.
O hospital atende todos os dias uma média de 4.500 pessoas. Somente pelo pronto-socorro passam cerca de 1.500 pacientes.
O déficit mensal do hospital é de R$ 2 milhões, além de uma dívida de R$ 60 milhões, acumulada ao longo dos anos.
Segundo o diretor-superientendente do Hospital São Paulo, José Roberto Ferraro, para cumprir a folha de pagamento, são utilizados recursos do SUS (Sistema Único de Saúde) e outros "que vão emendando a receita", como o convênio interministerial e emendas parlamentares.
Três dessas emendas, no valor de R$ 11,5 milhões, não foram liberadas este ano. Segundo o Ministério da Saúde, o presidente Fernando Henrique assinou decreto em fevereiro contingenciando emendas coletivas na área da Saúde. Essas emendas totalizam R$ 617,8 milhões, dos quais R$ 11,1 milhões destinam-se ao apoio à manutenção dos hospitais universitários.
"Esses recursos de emendas não estão sendo liberados, eu perco a capacidade de negociar com os fornecedores para colocar remédios e insumos no hospital. Seria muita irresponsabilidade nossa colocar um doente internado sem ter o potencial, recursos financeiros, para poder comprar os insumos. Por isso que essa atitude foi de controle de demanda dos doentes do pronto-socorro, embora a gente vá atender as emergências", disse Ferraro.
O Ministério da Saúde diz ainda que não há qualquer dívida para com os hospitais universitários. O ministério diz que o compromisso com os 147 hospitais universitários -41 mil leitos- é de pagar pelo atendimento que prestam aos usuários do SUS. De janeiro a setembro deste ano foram repassados R$ 807,8 milhões referentes a 1,033 milhão de internações hospitalares. Ao longo do ano passado, foram repassados R$ 1 bilhão.
O diretor-superientendente do Hospital São Paulo disse que já entrou em contato com outros hospitais da cidade, para comunicar que pacientes serão encaminhados a eles. Ferraro afirma também que procurou políticos -estaduais e federais- para tentar "a liberação imediata dessas verbas".
Ele disse que entrou em contato com a equipe de transição do futuro governo Luiz Inácio Lula da Silva e encaminhou cartas para o presidente da República, Fernando Henrique Cardoso, e para o Ministro da Saúde, Barjas Negri.
"O que ele [Barjas Negri] diz é que a área econômica é que não está liberando recursos para que o Ministério da Saúde cumpra com o orçamento. A nossa emenda está no orçamento desde o início do ano. Falta sensibilidade da área econômica para a área social", afirmou.
Motivos da crise
Os motivos da crise são "muitos e antigos", conforme o hospital.
Um deles "é que há anos não há reposição de funcionários por meio de concursos. A saída é contratar trabalhadores com recursos do SUS".
O Hospital São Paulo é o que tem o maior número de funcionários terceirizados. São 3.014.
Dados do hospital mostram que do total de 4.535 funcionários, apenas 30% (1.521) são concursados e recebem do Ministério da Educação. O restante é pago com a verba do SUS, que deveria ser usada no custeio do hospital.
Outro fator gerador da crise diz respeito à tabela de remuneração do SUS, que estabelece um teto de pagamento independentemente do número de atendimentos realizados, além de se basear em uma tabela defasada.
O preço pago pelo governo por consulta médica é de R$ 2,55. O SUS paga ao Hospital São Paulo, uma média mensal de R$ 9 milhões, "valor insuficiente para o número e complexidade de procedimentos realizados".
"Precisamos ter um orçamento próprio, ao qual estariam atreladas metas de atendimento estabelecidas conjuntamente com o gestor", diz Ferraro.
Hospitais Universitários
Dados fornecidos pelo Hospital São Paulo revelam que entre os 6.900 hospitais integrados ao SUS, 154 são reconhecidos pelos Ministérios da Saúde e da Educação como de ensino, ou auxiliares de ensino.
Em 2001, esses hospitais foram responsáveis por aproximadamente 9% dos leitos, 12% das internações e 24% dos recursos do SUS destinados ao pagamento de internações. Eles responderam por algo em torno de 50% das cirurgias cardíacas, 70% dos transplantes, 50% das neurocirurgias e 65% dos atendimentos na área de malformações craniofaciais.
"Por seu caráter de referência, concentram os pacientes mais graves, que exigem mais recursos e atenção", diz o Hospital São Paulo.
Os hospitais universitários também respondem pela formação de praticamente todos os estudantes da área de saúde de nível superior.
A Universidade Federal de São Paulo, única especializada na área de saúde e à qual está atrelado o Hospital São Paulo, é responsável pela maior produção científica em saúde do país, além de manter o maior programa de residência médica do sistema federal, diz Ferraro.
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