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25/09/2003 - 21h24

Após depoimento de Gugu, inquérito sobre entrevista é encerrado

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LÍVIA MARRA
da Folha Online

A Polícia Civil de São Paulo encerrou hoje o inquérito que apurou a entrevista exibida no programa "Domingo Legal", do SBT, com falsos integrantes da facção criminosa PCC. O depoimento do apresentador Gugu Liberato, ocorrido durante a tarde, foi o último a ser colhido pelos policiais do Deic (Departamento de Investigações sobre o Crime Organizado).

Exibida no último dia 7, a entrevista mostrava dois homens encapuzados que afirmavam integrar o PCC (Primeiro Comando da Capital) e fizeram ameaças a diversas personalidades, entre elas o vice-prefeito de São Paulo, Hélio Bicudo, e os apresentadores José Luiz Datena (Bandeirantes) e Marcelo Rezende (Rede TV!). Sob suspeita de fraude, a gravação virou alvo de investigação policial.

Para a polícia, Hamilton Tadeu dos Santos, o Barney, foi responsável por intermediar com o programa "Domingo Legal" a entrevista com os falsos criminosos. Os entrevistados, que usaram os codinomes Alfa e Beta, foram identificados como os atores Wagner Faustino da Silva e Antônio Rodrigues da Silva, o Beta. Os três foram indiciados por apologia ao crime.

O repórter Wagner Maffezoli e o produtor Rogério Casagrande, ambos do programa "Domingo Legal", também foram indiciados pela polícia com base no artigo 16 da Lei de Imprensa. O artigo prevê punição para quem publicar ou divulgar notícias falsas ou fatos verdadeiros truncados ou deturpados que causem comoção social.

O advogado Adriano Salles Vanni, que defende Gugu Liberato, conseguiu evitar que o apresentador fosse indiciado em inquérito policial. Ele foi beneficiado por um habeas corpus preventivo concedido pelo Dipo (Departamento de Inquéritos Policiais).

Finalizado, o inquérito será encaminhado ao Ministério Público. Segundo o promotor Roberto Porto, do Gaeco (Grupo de Atuação Especial de Combate ao Crime Organizado), Gugu ainda poderá ser responsabilizado.

"O indiciamento, nesse caso, não interfere no resultado final do inquérito policial. As provas já são claras no inquérito. O fato do indiciamento ou não de uma pessoa, nesse caso, é uma mera formalidade, que não interfere em nada em nossa convicção e no conteúdo das provas", disse.

Depoimento

O depoimento do apresentador ao delegado Alberto Pereira Matheus Júnior, do Deic, durou cerca de duas horas e foi acompanhado por promotores do Gaeco e por deputados da Comissão de Segurança Pública da Assembléia Legislativa de São Paulo.

Jorge Araújo/Folha Imagem

O apresentador Gugu Liberato depõe no Deic
Gugu chegou ao Deic por volta das 13h, escoltado por seguranças particulares, e entrou pelos fundos do departamento. Na porta principal, policiais evitavam que fãs entrassem no prédio. Sem falar com a imprensa, Gugu deixou o local por volta das 15h30.

Segundo o advogado Adriano Salles Vanni, que defende Gugu, o apresentador afirmou à polícia que a forma como as reportagens são produzidas não chegam a seu conhecimento. Gugu disse ainda, também segundo Vanni, que sua equipe é competente e que pode ter sido enganada pela fonte. Barney, segundo a polícia, foi a "fonte" para a entrevista.

O depoimento atraiu a atenção de moradores, principalmente de um conjunto habitacional e de uma favela da região, e fãs do apresentador. A cabeleireira Lucimara Aparecida da Silva, 34, saiu de Santo Amaro, na zona sul, com uma filha de 10 anos e outra de um mês para entregar uma carta para Gugu.

"Eu só queria entregar a carta que diz para ele ter força em Deus e confiar no serviço dele", disse a cabeleireira, que afirma ter faltado no emprego. Lucimara, segurando o bebê no colo, pediu para que a filha de 10 anos ficasse na porta da delegacia para tentar entregar a carta ao apresentador.

Crime

Segundo o delegado Alberto Pereira Matheus Júnior, Gugu disse em depoimento ter solicitado ao repórter Wagner Maffezoli uma reportagem com o PCC após suposta ameaça feita pela facção ao padre Marcelo Rossi. Gugu, porém, disse que não tinha conhecimento do teor da entrevista ou da forma como ela foi produzida. O apresentador já havia negado ter conhecimento da farsa no último dia 15, quando participou do programa de Hebe Camargo, também do SBT, e pediu desculpas às pessoas ameaçadas na gravação.

E. de Freitas/Folha Imagem

O promotor Roberto Porto, que acompanha o caso
O delegado entende que Gugu infringiu o artigo 16 da Lei de Imprensa, independente do fato de saber ou não que a entrevista era uma farsa.

"Ele veiculou matéria mentirosa. Não se cogita, agora, no âmbito policial, o fato de ele saber ou não saber, mas essa mentira causou comoção pública, então, minha linha de investigação é que ele seria responsável pela veiculação".

O caso do apresentador pode se enquadrar na lei 9.099/95. A lei permite penas alternativas para acusados primários de crimes de menor poder ofensivo. Com isso, um acordo pode ser feito para que, se responsabilizado, seja aplicada a Gugu uma sanção, que pode ser certo valor ou serviço à comunidade.

Sigilo telefônico

O delegado Alberto Pereira Matheus Júnior afirmou hoje que houve a quebra do sigilo telefônico das pessoas envolvidas na entrevista durante as investigações. Barney, Alfa e Beta teriam dito que o apresentador havia telefonado durante as gravações.

"Nenhuma ligação do senhor Augusto Liberato foi encontrada nas contas das pessoas que o acusavam de ter ligado", disse o delegado.

"Não existem provas nos autos do inquérito policial de que o apresentador tenha conhecimento dos fatos [da farsa]."

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