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21/06/2004
-
08h28
da Folha de S.Paulo
Apesar de liderarem as ocorrências de tráfico de drogas e de concentrarem o maior número de internos da Febem por esse tipo de crime, o Jardim Brasil, na zona norte de São Paulo, e regiões próximas não registram os piores índices de pobreza e de violência da capital.
Segundo especialistas, conselheiros tutelares, dirigentes de organizações não-governamentais e moradores, esse aparente contraste revela que a pobreza não é único fator para se explicar o crescimento do envolvimento dos jovens no tráfico.
Jaçanã e Vila Medeiros --distrito territorial do município do qual o Jardim Brasil faz parte-- apresentam problemas sociais, mas não estão entre as piores localidades identificadas pelo IVJ (Índice de Vulnerabilidade Juvenil), da Fundação Seade. Eles ocupam o 28º e o 38º lugares, respectivamente, no ranking dos distritos com maior risco dos jovens serem cooptados pelo crime.
No Mapa da Exclusão/Inclusão Social 2000, os dois distritos também não estão no grupo mais problemático. Jaçanã ocupa o 55º lugar no ranking da avaliação do melhores e Vila Medeiros a 68ª colocação entre 96 distritos.
Autoridades
"Não é só a pobreza, mas sim a negligência das autoridades que favorece a estrutura do tráfico", afirmou Karyna Batista Sposato, diretora-executiva do Ilanud (Instituto Latino-americano das Nações Unidas para Prevenção do Delito e Tratamento do Delinqüente). Segundo ela, a ociosidade dos jovens pela falta de locais de lazer, o desemprego e o descrédito de instituições, como a polícia, aumentam a força do tráfico.
O resultado é uma população descrente, amedrontada e desorganizada. "Isso influi até na consciência política das pessoas, que se submetem ao tráfico e perdem sua capacidade de organização."
"O que fazer? As pessoas têm medo e fazem a política da boa vizinhança", disse Leni Rita Brito da Costa, 43, conselheira tutelar da região. "Falta investimentos de empresários na região. Eles só vêm para sugar e não retribuem."
Segundo Rafael Neves Maciel Júnior, 44, outro conselheiro, a ineficácia da polícia em alguns casos também agrava o problema. Há dois meses, uma adolescente denunciou anonimamente um traficante, mas a polícia não tomou cuidado, segundo Maciel Júnior, e o criminoso descobriu a identidade da jovem no mesmo dia. Isso obrigou o Conselho Tutelar a retirá-la do bairro.
Segundo os conselheiros tutelares, a falta de vagas em creches --cerca de 8.000-- e problemas na qualidade do ensino agravam ainda mais a situação na região.
Quando conversava com a Folha sobre o tráfico no Jardim Brasil, a estudante do terceiro ano do ensino médio Ana (nome fictício), 17, também disse que, pelo segundo dia consecutivo, não teve aula por causa da falta de professores em uma escola estadual do no bairro. "Não posso pagar curso pré-vestibular. Como vou competir com alguém que tem aula todo dia", disse.
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Jaçanã e Vila Medeiros --distrito territorial do município do qual o Jardim Brasil faz parte-- apresentam problemas sociais, mas não estão entre as piores localidades identificadas pelo IVJ (Índice de Vulnerabilidade Juvenil), da Fundação Seade. Eles ocupam o 28º e o 38º lugares, respectivamente, no ranking dos distritos com maior risco dos jovens serem cooptados pelo crime.
No Mapa da Exclusão/Inclusão Social 2000, os dois distritos também não estão no grupo mais problemático. Jaçanã ocupa o 55º lugar no ranking da avaliação do melhores e Vila Medeiros a 68ª colocação entre 96 distritos.
Autoridades
"Não é só a pobreza, mas sim a negligência das autoridades que favorece a estrutura do tráfico", afirmou Karyna Batista Sposato, diretora-executiva do Ilanud (Instituto Latino-americano das Nações Unidas para Prevenção do Delito e Tratamento do Delinqüente). Segundo ela, a ociosidade dos jovens pela falta de locais de lazer, o desemprego e o descrédito de instituições, como a polícia, aumentam a força do tráfico.
O resultado é uma população descrente, amedrontada e desorganizada. "Isso influi até na consciência política das pessoas, que se submetem ao tráfico e perdem sua capacidade de organização."
"O que fazer? As pessoas têm medo e fazem a política da boa vizinhança", disse Leni Rita Brito da Costa, 43, conselheira tutelar da região. "Falta investimentos de empresários na região. Eles só vêm para sugar e não retribuem."
Segundo Rafael Neves Maciel Júnior, 44, outro conselheiro, a ineficácia da polícia em alguns casos também agrava o problema. Há dois meses, uma adolescente denunciou anonimamente um traficante, mas a polícia não tomou cuidado, segundo Maciel Júnior, e o criminoso descobriu a identidade da jovem no mesmo dia. Isso obrigou o Conselho Tutelar a retirá-la do bairro.
Segundo os conselheiros tutelares, a falta de vagas em creches --cerca de 8.000-- e problemas na qualidade do ensino agravam ainda mais a situação na região.
Quando conversava com a Folha sobre o tráfico no Jardim Brasil, a estudante do terceiro ano do ensino médio Ana (nome fictício), 17, também disse que, pelo segundo dia consecutivo, não teve aula por causa da falta de professores em uma escola estadual do no bairro. "Não posso pagar curso pré-vestibular. Como vou competir com alguém que tem aula todo dia", disse.
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