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 Dia 08.05.02

     

 

Sr. Gilberto Dimenstein

Gostei muito de seu artigo: " Atenção, candidatos: uma idéia..........", e pensando na experiência que tive a oportunidade de viver entre 1988 até 2000, assino em baixo
suas colocações e digo com muita determinação é POSSÍVEL!

Em 1988, a Secretaria de Estado da Educação criou o Magistério CEFAM (período integral - Nível Médio) em 51 pontos do Estado. A grade curricular pede 10 horas aulas, sendo 5 h/a curriculares (manhã) 5 h/ aula de enriquecimento curricular (tarde).

Foi feita uma seleção de professores, com provas e entrevistas. Fomos contratados para criar a "escola", só nos foi dado a grade curricular e para nosso espanto teríamos que "segurar" nossos alunos por 10 horas/ aulas. Foi um susto, o que oferecer, e fazer com que não houvesse a evasão? Nosso curso teve início no bairro Brooklin e os alunos eram da região de Sto. Amaro, Jardim Ângela, Campo Limpo, e adjacências.
(Houve total liberdade para o desenvolvimento de nosso planejamento).

Foi contratado um professor de cada matéria, éramos treze ao todo. Matemática, Português, História as matérias de excelência, queriam ditar as regras e diretrizes. Eu Profª Ruth de Artes quase não era levada a sério, porque a idéia é que artes é colocada na escola para enfeitar as festas,ou tratada como perfumaria. Esperei e fiquei observando as angustias e aflições do grupo.

Pensei, tenho uma idéia! Vou promover a alfabetização em outras linguagens (Artes Visuais, Música, Teatro, Dança e Cinema, Vídeo, Informática, etc...) fui atrás de parcerias para propiciar arte e cultura para nossos jovens e incorporar um curso voltado para o que a cidade oferece gratuitamente, e pudesse ser incorporado ao plano de curso. Sim dentro do planejamento anual, não como um evento, mas sim com uma sistemática estabelecida e envolvendo todas as disciplinas, porque só assim seria possível atendermos todos os alunos, e o conhecimento aconteceria.

Procurei o Museu da Casa Brasileira onde estava montada uma Exposição de Clarice Lispector que usava o mobiliário do Museu para criar cenários de suas histórias. Levei todos os professores e alunos. Conversei com a responsável pelo setor educativo Profª Cristina Rizzi (hoje está no MAE -USP) e mostrei minha idéia. Foi muito admirada, mas tínhamos que enriquecer com outros tipos de museus, chamamos os artes educadores de mais três instituições: MAC - USP / Museu Lasar Segall (Artes) / MAE - USP (História e Ciências).

Iniciamos em janeiro de 1988 reuniões e discussões, até que criamos o Projeto - Integração Museu Escola - onde trabalhamos contemplando arte/ciência, e assim envolvemos todas as disciplinas, para que realmente pudesse acontecer durante os quatro anos do curso. As visitas estava engajadas nas disciplinas e as visitas não eram opcionais, faziam parte do planejamento, até para criar hábito/costume e ser realmente incorporada no cotidiano destes jovens.

Preparávamos os alunos para as visitas, sempre eram recebidos nas instituições por monitores e atividades em atelier. Na escola havia continuidade da atividade com tarefas a serem concluídas e avaliadas.

Mas quero colocar, só foi possível essa exigência porque no curso cada aluno é contemplado com uma bolsa-auxílio, no valor de um (1) salário- mínimo, durante os 12 meses do ano, por 4 anos, e não pode haver reprovação, havendo o aluno volta para uma escola da rede. Chamamos as famílias e esclarecemos que esse dinheiro era para ser investido na educação de seus filhos e que as atividades de enriquecimento (AEC) contavam com a bolsa para o transporte coletivo e trabalhos a serem desenvolvidos após as atividades propostas (xerox, papéis, livros, revistas, pesquisa, etc).

Posso dizer que sempre tínhamos quase 90% de presença, mesmo porque, cada aula tinha um valor monetário correspondente a divisão mensal da bolsa, e a falta em qualquer aula ( até nas aulas nos museus ) seriam descontada no final do mês.

Foi muito bom para os alunos, que começarem a perceber que tinham direitos de cidadão nesta grande metrópole, e começaram depois de um tempo a usar como lazer de fim de semana os espaços, e também a apresentar para seus familiares e amigos.

Para os professores de outras disciplinas também foi um avanço de conhecimento nas artes e na cultura.

Em seguida fui buscando novos parceiros como: Espaço Unibanco de Cinema - Projeto Escola no Cinema, Banco Safra, Ballet Stagium, Memorial da América Latina, Museu do Ipiranga, MASP, MAM, Instituto Moreira Salles e Itaú, Centros culturais, Orquestras Municipais, Concertos, Bibliotecas Municipais, Educação Patrimonial, etc.

Se a cada ano tínhamos 120 alunos chegando, acredito que pelo menos 1500 alunos passaram por esta grande escola.

Hoje ainda, tentam continuar um projeto que sabemos é muito valioso para nossos jovens e talvez a única saída para resgatar de toda a violência que assola nossas escolas e cidade. Dizíamos "nossos alunos chegavam pedra bruta, saiam diamantes....". E não fazíamos mágica e nem nada de excepcional, só mostramos que eram jovens e tinham todo direito de cidadão para se apropriar dos espaços públicos.

Abraços,
Profª Ruth Maria Rhein Silva.

 

 
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