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Sr.
Gilberto Dimenstein
Gostei
muito de seu artigo: " Atenção, candidatos:
uma idéia..........", e pensando na experiência
que tive a oportunidade de viver entre 1988 até
2000, assino em baixo
suas colocações e digo com muita determinação
é POSSÍVEL!
Em
1988, a Secretaria de Estado da Educação
criou o Magistério CEFAM (período integral
- Nível Médio) em 51 pontos do Estado.
A grade curricular pede 10 horas aulas, sendo 5 h/a
curriculares (manhã) 5 h/ aula de enriquecimento
curricular (tarde).
Foi
feita uma seleção de professores, com
provas e entrevistas. Fomos contratados para criar a
"escola", só nos foi dado a grade curricular
e para nosso espanto teríamos que "segurar"
nossos alunos por 10 horas/ aulas. Foi um susto, o que
oferecer, e fazer com que não houvesse a evasão?
Nosso curso teve início no bairro Brooklin e
os alunos eram da região de Sto. Amaro, Jardim
Ângela, Campo Limpo, e adjacências.
(Houve total liberdade para o desenvolvimento de nosso
planejamento).
Foi
contratado um professor de cada matéria, éramos
treze ao todo. Matemática, Português, História
as matérias de excelência, queriam ditar
as regras e diretrizes. Eu Profª Ruth de Artes
quase não era levada a sério, porque a
idéia é que artes é colocada na
escola para enfeitar as festas,ou tratada como perfumaria.
Esperei e fiquei observando as angustias e aflições
do grupo.
Pensei,
tenho uma idéia! Vou promover a alfabetização
em outras linguagens (Artes Visuais, Música,
Teatro, Dança e Cinema, Vídeo, Informática,
etc...) fui atrás de parcerias para propiciar
arte e cultura para nossos jovens e incorporar um curso
voltado para o que a cidade oferece gratuitamente, e
pudesse ser incorporado ao plano de curso. Sim dentro
do planejamento anual, não como um evento, mas
sim com uma sistemática estabelecida e envolvendo
todas as disciplinas, porque só assim seria possível
atendermos todos os alunos, e o conhecimento aconteceria.
Procurei
o Museu da Casa Brasileira onde estava montada uma Exposição
de Clarice Lispector que usava o mobiliário do
Museu para criar cenários de suas histórias.
Levei todos os professores e alunos. Conversei com a
responsável pelo setor educativo Profª Cristina
Rizzi (hoje está no MAE -USP) e mostrei minha
idéia. Foi muito admirada, mas tínhamos
que enriquecer com outros tipos de museus, chamamos
os artes educadores de mais três instituições:
MAC - USP / Museu Lasar Segall (Artes) / MAE - USP (História
e Ciências).
Iniciamos
em janeiro de 1988 reuniões e discussões,
até que criamos o Projeto - Integração
Museu Escola - onde trabalhamos contemplando arte/ciência,
e assim envolvemos todas as disciplinas, para que realmente
pudesse acontecer durante os quatro anos do curso. As
visitas estava engajadas nas disciplinas e as visitas
não eram opcionais, faziam parte do planejamento,
até para criar hábito/costume e ser realmente
incorporada no cotidiano destes jovens.
Preparávamos
os alunos para as visitas, sempre eram recebidos nas
instituições por monitores e atividades
em atelier. Na escola havia continuidade da atividade
com tarefas a serem concluídas e avaliadas.
Mas
quero colocar, só foi possível essa exigência
porque no curso cada aluno é contemplado com
uma bolsa-auxílio, no valor de um (1) salário-
mínimo, durante os 12 meses do ano, por 4 anos,
e não pode haver reprovação, havendo
o aluno volta para uma escola da rede. Chamamos as famílias
e esclarecemos que esse dinheiro era para ser investido
na educação de seus filhos e que as atividades
de enriquecimento (AEC) contavam com a bolsa para o
transporte coletivo e trabalhos a serem desenvolvidos
após as atividades propostas (xerox, papéis,
livros, revistas, pesquisa, etc).
Posso
dizer que sempre tínhamos quase 90% de presença,
mesmo porque, cada aula tinha um valor monetário
correspondente a divisão mensal da bolsa, e a
falta em qualquer aula ( até nas aulas nos museus
) seriam descontada no final do mês.
Foi
muito bom para os alunos, que começarem a perceber
que tinham direitos de cidadão nesta grande metrópole,
e começaram depois de um tempo a usar como lazer
de fim de semana os espaços, e também
a apresentar para seus familiares e amigos.
Para
os professores de outras disciplinas também foi
um avanço de conhecimento nas artes e na cultura.
Em
seguida fui buscando novos parceiros como: Espaço
Unibanco de Cinema - Projeto Escola no Cinema, Banco
Safra, Ballet Stagium, Memorial da América Latina,
Museu do Ipiranga, MASP, MAM, Instituto Moreira Salles
e Itaú, Centros culturais, Orquestras Municipais,
Concertos, Bibliotecas Municipais, Educação
Patrimonial, etc.
Se
a cada ano tínhamos 120 alunos chegando, acredito
que pelo menos 1500 alunos passaram por esta grande
escola.
Hoje
ainda, tentam continuar um projeto que sabemos é
muito valioso para nossos jovens e talvez a única
saída para resgatar de toda a violência
que assola nossas escolas e cidade. Dizíamos
"nossos alunos chegavam pedra bruta, saiam diamantes....".
E não fazíamos mágica e nem nada
de excepcional, só mostramos que eram jovens
e tinham todo direito de cidadão para se apropriar
dos espaços públicos.
Abraços,
Profª Ruth
Maria Rhein Silva.
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