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coleta seletiva
08/09/2004

Lixão de Salvador está nas ruas

Atentos aos horários dos caminhões de coleta, eles adiantam-se para promover, a seu modo, a propalada coleta seletiva, que é base da indústria da reciclagem, atividade em franca expansão e que recentemente deu ao país o orgulhoso título de campeão mundial em reciclagem de alumínio. Em Salvador, de acordo com estimativas do Centro de Estudos Socioambientais - Pangea, cerca de 10 mil pessoas ocupa-se desta atividade.

Eles não têm noção da importância do que fazem para o meio ambiente, embora sejam considerados legítimos ambientalistas. Os números da coleta seletiva feita pelos catadores superam em muito os da coleta oficial. Pelas mãos dos catadores de Salvador chegam, por mês, à indústria, a custo zero para a prefeitura, estimadamente 100 toneladas de garrafas pet, 280 toneladas de papel e papelão (dados do maior comprador), 21 de alumínio e ... de outros metais. Enquanto isso, a prefeitura gasta ....para levar cerca de 200 toneladas/mês para reciclagem.

Por falta de apoio e proteção social a maioria dos catadores fazem o trabalho individualmente em condições extremamente precárias. “Eles estão sujeitos a uma cadeia perversa de atravessadores que lhes compram os materiais a preços irrisórios e conseguem lucros de até 200%”, observou o diretor Pangea, Antonio Bunchaft. Apenas 5 a 10 % do total de materiais recicláveis coletados são provenientes de cooperativas de catadores ou de outras formas de associação da categoria, informou ele.

Para a pesquisadora e doutora em resíduos sólidos pela Universidade Estadual de Feira de Santana - Uefs, Fátima Nunesmaia, os altos índices de reciclagem do país, principalmente em alumínio, não pode ser atribuída a uma maior consciência da classe média, mas no fato de os pobres estarem buscando a sobrevivência nesse mercado. “Além disso, eles estão ajudando a prefeitura a gastar menos com a coleta feita por empresas”, diz. Para ela, a prefeitura deveria reconhecer isso e oferecer como contrapartida mais investimento na organização dos catadores em cooperativas. “Não fazer isso é contribuir para o agravamento do quadro de miséria social”, avaliou.

Ajuda do Canadá
A empresa pública de limpeza urbana, Limpurb, ainda não sabe quantas pessoas catam materiais recicláveis pelas ruas de Salvador. Em documento da empresa, de 2003, há referência à realização de um cadastramento, mas, até o momento não passa da intenção. O diretor da empresa, Jalon Oliveira, disse que uma equipe multidisciplinar está fazendo o diagnóstico da situação. Na sua avaliação, porém, será difícil tirar os catadores da informalidade. “Muitos se recusam à idéia do trabalho cooperativado por causa das regras. Eles não querem sair da informalidade”, disse.

A ação mais objetiva da empresa neste sentido é a formação de 170 agentes de limpeza na comunidade de Bariri, no Vale do Ogunjá. Os agentes são moradores que se ocuparão da coleta de lixo onde os caminhões compactadores não conseguem chegar. Em troca, receberão vale alimento da cesta do povo e serão incentivados a vender o material reciclável.

A coleta seletiva feita pela Limpurb é cara, segundo o diretor. O alto custo se deve principalmente ao uso de equipamentos de alta tecnologia para separar o material recolhido nos 61 Postos de Entrega Voluntária - Pevs. O resíduo é doado para a cooperativa Coopcicla, que tem unidades em sete portas e na canabrava. Com recipientes específicos para plástico, metal, vidro e papel, os pevs atendem aos mesmos pressupostos da coleta seletiva das cidades dos países desenvolvidos, mas ainda respondem por muito pouco lixo reciclável. Apenas 8 toneladas das 2.300 coletadas diariamente.

Para corrigir os rumos do programa de coleta seletiva, a Limpurb aposta em técnicos do Canadá que, em acordo de cooperação técnica com a prefeitura, vão testar novas metodologias. Entre os problemas já detectados estão a falta de adesão da população à idéia da separação do lixo e a concorrência dos catadores que, segundo Jalon “atacam” os conteineres para a retirada do material antes da passagem dos caminhões. Chegam até a colocar crianças dentro das caixas para facilitar.

Jalon acha que o mercado de reciclagem ainda não é atrativo. Ele repete o que disse há cerca de quatro anos, quando o mercado centrava-se basicamente na reciclagem de latinhas. Para ele, a não-aprovação do projeto de lei que define a política nacinal de resíduos sólidos e que obriga os fabricantes a recolherem as embalagens contribui para isso. “Hoje, esta responsabilidade recai sobre as prefeituras que têm que pagar a coleta”.


MAIZA DE ANDRADE
do jornal A Tarde, Salvador - BA

 
 
 

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