HOME | NOTÍCIAS | COLUNAS | SÓ SÃO PAULO | CIDADÃO JORNALISTA | QUEM SOMOS
 

progresso
09/09/2004

Projeto de cultivo de algodão transforma comunidades no Nordeste

No município cearense de Barro, localizado 463 quilômetros ao sul de Fortaleza, um grande galpão guarda mais de três toneladas de algodão recém-colhido e mais de três toneladas de plumas. Nunca esse espaço esteve tão cheio. Explica-se: os 38 agricultores da comunidade de Engenho Velho que colheram esse algodão entre maio e junho estão à espera da recuperação dos preços, que caíram por causa da atual supersafra. Neste ano, a área plantada no país cresceu 40% em relação à última safra e a estimativa é colher 1,2 milhão de toneladas.

Mas esses agricultores não têm pressa para ver os preços subirem. Para eles, só o fato de estar colhendo esse volume já é motivo de comemoração. Isso porque, até dois anos atrás, a imagem de plumas de algodão manchando de branco suas lavouras fazia parte apenas de um passado distante – 1985, para ser mais preciso. Naquele ano, uma praga que atende pelo nome de bicudo se alastrou por boa parte dos algodoeiros do Brasil e aniquilou as plantações da região. Desde então, os agricultores locais vinham dedicando seus terrenos ao milho e ao feijão, com boa parte da colheita destinada ao consumo próprio.

Esta história começou a mudar em 2002, quando foi implantado em Barro o projeto Algodão: Tecnologia e Cidadania, do Coep (Rede Nacional de Mobilização Social) em parceria com a Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa). O programa, que fora aplicado em 2001 com sucesso em Juarez Távora, na Bahia, tem dois pilares: a capacitação dos agricultores e a instalação de máquinas que lhes permitam vender um produto com maior valor agregado. A iniciativa, que tem o apoio da Financiadora de Estudos e Projetos (Finep), do Ministério da Ciência e Tecnologia, também foi levada para São José de Piranhas (PB), Nova Cruz (RN), Água Branca (AL) e Surubim (PE).

Com a orientação de técnicos da Embrapa, os agricultores atendidos pelo projeto aprendem novas técnicas de cultivo, manejo de solos, controle de pragas, uso de defensivos agrícolas e armazenamento. “Eles ficam sabendo, por exemplo, a hora certa de plantar e recebem indicações para não colherem as plumas com impurezas ou com umidade, o que pode provocar a sua fermentação, ou até quando se pode guardar o algodão colhido”, diz o gerente do projeto, Marcos Carmona, do Coep. Dicas simples como estas têm garantido aos agricultores um algodão de maior qualidade e alta produtividade.

Mas é depois da colheita que o programa gera maior transformação. Com a instalação de uma mini-usina para beneficiamento do algodão colhido e de uma prensa que transforma as fibras beneficiadas em fardos de cerca de 120 kg, a comunidade se torna capaz de vender o algodão pronto para ser usado nas indústrias têxteis da região. Como ele é vendido já beneficiado e é possível aproveitar suas sementes, os ganhos dos agricultores são, em média, 60% mais altos do que sem as máquinas. “Vou receber mais de três mil reais com a venda das plumas. Se eu ainda vendesse o algodão bruto, tiraria por volta de dois mil reais”, comemora o agricultor Francisco Bezerra, de 42 anos, que colheu 1.960 kg de algodão em seu terreno de 1,5 hectare em Engenho Velho. Bezerra lembra que, há dois anos, apenas sete famílias aderiram ao projeto. “Com os primeiros resultados, os interessados cresceram e hoje somos quase 40“, diz ele. “É uma questão de conscientização. À medida que o tempo passa, mais agricultores se unem a nós.”

Associativismo e informática
Mas não é só no bolso que o projeto Algodão: Ciência e Tecnologia tem feito diferença. Como ele foi incluído no programa Gesac (Governo Eletrônico – Serviço de Atendimento ao Cidadão), do Ministério das Comunicações, as comunidades atendidas estão recebendo equipamentos para a instalação de tele-salas de informática para acesso à internet. Os moradores estão participando da construção das salas, com mão-de-obra, com parte do material ou articulando-se com os poderes locais para ter apoio. “Estamos promovendo uma maior solidariedade entre os agricultores, que não eram tão integrados. Há um fortalecimento da comunidade”, diz a secretária executiva do Coep, Gleyse Peiter. Um exemplo foi a decisão de agricultores de Barro e São José de Piranhas: vender em conjunto a safra do ano passado. “É interessante criar uma cultura associativista. Em breve, vamos criar um fundo para ser usado pelos participantes do projeto”, afirma Gleyse.

Uma vez que as usinas estão funcionando a pleno vapor, a idéia agora, segundo a dirigente do Coep, é atuar no segundo elo da cadeia produtiva do setor têxtil: “Estamos instalando teares para as comunidades produzirem redes e outros artigos, de modo a terem uma alternativa de renda mais estável.” Mas isso ainda não basta. Os planos do Coep incluem também a instalação de cisternas de placa nas casas para aproveitar a água da chuva na irrigação das plantações, o investimento na criação de cabras e em viveiros de mudas para produzir lenha. “A intenção do projeto, desde sua origem, é ter uma proposta para fixação do homem no campo”, afirma Gleyse. O que a deixa entusiasmada é o crescimento do interesse dos agricultores. Se em 2001 eram sete agricultores para sete hectares cultivados, no começo deste ano já eram 131 produtores rurais colhendo algodão em 169 hectares. “Agricultores de comunidades vizinhas às do projeto estão nos procurando e calculo que até o fim deste ano teremos atingido 40 comunidades”, prevê Gleyse.

Segundo ela, esse aumento é o melhor indicador do sucesso do projeto do Coep, que se interessou em revitalizar o cultivo do algodão no Nordeste por causa da queda na produção nas duas últimas décadas. A praga do bicudo e a abertura do mercado à importação provocaram essa queda. No fim dos anos 1990, eram 250 mil agricultores do semi-árido da região cultivando apenas 135 mil hectares, sendo que no início dos anos 1980 o número chegou a dois milhões de pessoas distribuídas por 3,5 milhões de hectares. “O algodão já foi conhecido no Nordeste como ouro branco”, diz Gleyse. “Nossa expectativa é que ele volte a ser um elemento decisivo para o desenvolvimento da região.”

As informações são do site da Fundação Banco do Brasil.

 
 
 

NOTÍCIAS ANTERIORES
08/09/2004 Camisetas ecológicas geram renda para catadores
08/09/2004 Lixão de Salvador está nas ruas
03/09/2004 Jovens fabricam móveis com estrutura de garrafa pet
03/09/2004
Empresa ensina crianças a aproveitarem melhor o alimento
03/09/2004
Cearenses aprendem a arte de esculpir em pedra
03/09/2004
2ª Culturarte envolve comunidade
02/09/2004 Diretora acha importante superar muro que separa asfalto e favela
02/09/2004
Juiz orienta jovens sobre a importância do voto
02/09/2004
Objetos de arte resgatam e valorizam matéria-prima de Itaparica
01/09/2004
Médico promove a "amazonização" do Brasil