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O maestro que faz barulho

O maestro John Neschling fez muito barulho desde que assumiu a Orquestra Sinfônica do Estado de São Paulo (Osesp). Tanto barulho que se transformou, na Fundação Getúlio Vargas, em objeto de estudo de um pessoal que nada tem a ver com música: executivos interessados em experiências de gestão.

Um grupo de altos executivos estava interessado em estudar casos de reviravoltas em empresas e encomendou à Fundação Getúlio Vargas um seminário. O professor Carlos Osmar Bertero trouxe a novidade: além das aulas expositivas, assistiriam aos concertos. "Queríamos entender como a orquestra conseguiu, num prazo tão curto, abandonar a imagem de decadência e começar e ser respeitada internacionalmente", comenta Bertero.

O interesse maior recaiu no temperamental Neschling, que os músicos da Osesp acusam de ser autoritário e despótico e cujo salário provoca no mundo artístico dados os padrões brasileiros um misto de inveja e de indignação ainda mais porque as cláusulas contratuais foram cercadas de mistério. Ele chegou a ser recebido num concerto com a seguinte faixa: "Música sem dignidade vale a pena?".

Para Bertero, a orquestra melhorou, em larga medida, graças à disposição de Neschling de comprar brigas, de criar padrões mais rigorosos de seleção e de exigir maior dedicação dos músicos. "A reviravolta só funciona quando existe alguém disposto a quebrar muitos ovos", conclui Bertero.

Nada teria saído da partitura se a disposição de Neschling não tivesse respaldo até mesmo para bancar seu salário, hoje de R$ 800 mil anuais. "Talvez seja esse mesmo o custo, goste-se ou não, para ter uma orquestra que busca ser referência internacional", diz Bertero.

O talento e a disposição à briga de Neschling pouco valeriam, segundo Bertero, se ele não tivesse o apoio do governo estadual e, ao mesmo tempo, não montasse uma nova estrutura administrativa para planejar cada etapa da Osesp.

A experiência da Osesp ensina ao professor que a reviravolta depende da existência de um objetivo cristalino e de alguém disposto a ganhar muitos inimigos, assim como do acompanhamento das metas e da decisão dos proprietários pelo barulho. "Muitas empresas quebram justamente por medo desse barulho, que pouco tem de agradável aos ouvidos", compara Bertero.

 
 
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