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Aversão ao risco ainda deve afetar Brasil
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SHEILA D'AMORIM
da Folha de S.Paulo, em Brasília
A decisão do governo dos EUA de reduzir os juros e a expectativa de uma nova queda na semana que vem aumentaram ainda mais o diferencial entre a taxa praticada na maior economia do mundo e no Brasil. O que, em outros momentos, porém, tornaria o país mais atrativo para aplicações de curto prazo, desta vez não deverá favorecer o fluxo de capital especulativo para o Brasil.
Ao contrário, para especialistas ouvidos pela Folha, o pânico domina a cena. Com a aversão ao risco pesando mais nas decisões do que a rentabilidade oferecida e a necessidade de compensar perdas em outros mercados, o Brasil poderá até registrar novas saídas de recursos externos ou simplesmente ver crescer a venda de seus títulos negociados lá fora.
Entre as economias emergentes, o Brasil é considerado um dos países com maior liquidez, o que significa um volume grande de negociações de títulos de dívida. A participação do país no Embi Global, um indicador que contabiliza todos os papéis de economias emergentes que são diariamente comprados e vendidos no mercado internacional, é de 15%, ante 12,7% da Rússia, 12,6% do México, 9,1% da Turquia e 7,3% das Filipinas e da Venezuela.
Como é fácil vender e o ganho é bom, na hora do desespero, os investidores "lançam mão de Brasil". Foi o que houve em agosto, quando a crise nos EUA fazia os primeiros estragos. Naquele momento, porém, o câmbio se desvalorizou aceleradamente, o que estimulou ainda mais os investidores a se desfazerem de papéis do Brasil.
E agora? Dessa vez, o ponto mais vulnerável tem sido a Bolsa e deverá continuar sendo. Em 2007, de janeiro a novembro, ingressaram no país mais de US$ 31 bilhões vindos do exterior, dos quais US$ 18,7 bilhões foram para aplicações no mercado acionário e US$ 12 bilhões em títulos de renda fixa.
Parte dos recursos já começou a sair e pode se acentuar, mas a avaliação é que a queda chegará a um ponto em que será melhor para o investidor deixar o dinheiro aqui do que sair, pois perderá ao vender um ação barata e também porque o câmbio está valorizado.
"O que determina o tom, agora, é a aversão a risco. Nesse sentido, se o Fed [o BC dos EUA] for bem-sucedido, isso amenizará a pressão no fluxo de recursos registrados na conta capital e financeira do balanço de pagamentos", diz o economista-chefe do BNP Paribas, Alexandre Lintz.
Para Nuno Câmara, estrategista para América Latina em Nova York do Dresdner Bank, "a volatilidade no curto prazo deverá continuar e, no Brasil, vai se manifestar na Bolsa e no risco-país".
Apesar disso, ele defende que o investimento estrangeiro que vem para elevar a capacidade produtiva deve continuar. "Esse investidor não está preocupado com diferencial de juros." Além disso, diz que "a boa notícia para o país é que, mesmo com volatilidade de curto prazo, os indicadores econômicos não devem ser afetados".
Ele crê que o Brasil tem condições de registrar bom crescimento em 2008 e diz que, mesmo que o câmbio possa se tornar um problema para a inflação em razão da crise externa, "com US$ 185 bilhões de reservas, o BC terá como interferir".
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