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08/11/2008 - 16h02

Sistema financeiro ruiu "como um castelo de cartas", diz Lula sobre crise

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YGOR SALLES
da Folha Online

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva criticou hoje a "crença cega" na auto-regulação dos mercados financeiros, o que para ele resultou na atual crise financeira global. Por isso, pediu uma maior regulação a partir de agora, durante o discurso proferido neste sábado na abertura da reunião do G20 financeiro, em São Paulo, que debate até amanhã alternativas para a crise internacional.

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Ministros de Economia e presidentes de bancos centrais das grandes economias desenvolvidas e emergentes prepararam a primeira cúpula de chefes de Estado do G20 financeiro, convocada pelo presidente norte-americano, George W. Bush, para o dia 15 de novembro, em Washington.

"Ela [crise] é conseqüência da crença cega na capacidade de auto-regulação dos mercados e, em grande medida, na falta de controle sobre as atividades de agentes financeiros. Por muitos anos especuladores tiveram lucros excessivos, investindo o dinheiro que não tinham em negócios mirabolantes. Todos estamos pagando por essa aventura", disse Lula em seu discurso.

"Esse sistema ruiu como um castelo de cartas e com ele veio abaixo a fé dogmática no princípio da não intervenção do Estado na economia. Muitos dos que antes abominavam um maior papel do Estado na economia passaram a pedir desesperadamente sua ajuda", disse.

Rodrigo Paiva /Reuters
O presidente Luiz Inácio Lula da Silva com o presidente do BC, Henrique Meirelles, durante reunião do G20 em São Paulo
O presidente Luiz Inácio Lula da Silva com o presidente do BC, Henrique Meirelles, durante reunião do G20 em São Paulo

Para o presidente, essas reformas devem ser norteadas pelos seguintes princípios: representatividade e legitimidade, ação coletiva dos países, boa governança nos mercados domésticos, responsabilidade, transparência e prevenção.

"É hora de um pacto entre governos para uma criação de uma nova arquitetura financeira mundial", disse Lula ao pedir mais espaço para os emergentes nas decisões globais e destacar que os países em desenvolvimento respondem por 75% do crescimento da economia global nos últimos anos.

Regulação e protecionismo

Por cerca de 15 minutos, Lula também conclamou os países a "evitarem" a tentação de entrar em uma onda de protecionismo e a reformularem o sistema financeiro.

Lula defendeu uma "ação coordenada", o que passaria pela Rodada Doha, que debate no âmbito da OMC (Organização Mundial do Comércio) a liberalização do comércio mundial. "A conclusão da Rodada Doha deixou de ser uma oportunidade para se tornar uma necessidade", disse.

Também pediu hoje aos países desenvolvidos mais responsabilidade e transparência em sua política financeira. "As políticas de cada país não podem transferir riscos injustos a outros países. Cada país deve assumir suas responsabilidades', disse Lula. Ele reconheceu que "nenhum país está a salvo da crise financeira".

O presidente destacou que o Brasil já está tomando medidas que garantem, ao menos, que a crise não terá forte efeito interno. "Não estamos paralisados. O governo não permitirá que nosso crescimento seja comprometido. Manteremos todas as obras de infra-estrutura do PAC [Programa de Aceleração do Crescimento], o Ministério da Fazenda e o Banco Central estão tomando as medidas necessárias para aumentar o financiamento interno e facilitar o crédito ao comércio exterior. E estamos assegurando que nosso sistema bancário continue a apresentar níveis adequados de liquidez", disse.

Sobre a reunião do G20, Lula lembrou que ela tem como tarefa "iniciar o desenho de uma nova arquitetura financeira mundial", que deveria incluir a reformulação ou a recriação dos organismos financeiros multilaterais.

Segundo Lula, o G7 (sete países mais ricos do mundo) não tem mais condições de liderar, sozinho, a economia mundial.

"Precisamos aumentar a participação dos países emergentes nos mecanismos decisórios da economia mundial. Deveremos revisar o papel dos organismos existentes ou criar novos de forma a fortalecer a supervisão e a regulação dos mercados financeiros", disse Lula. "Está na hora de uma nova governança, mais aberta e participativa. E o Brasil está pronto para isso."

"Bilhões de seres humanos, especialmente os mais vulneráveis, esperam que estejamos à altura dos desafios que a realidade nos colocou adiante. Não podemos, não devemos, e não temos o direito de falhar", afirmou.

Prévia

Antes das reuniões do fim de semana, representantes do Brasil, Índia, China, África do Sul, México e Rússia --seis potências emergentes-- passaram o dia reunidos nesta sexta. Das discussões, segundo informou ontem o ministro da Fazenda, Guido Mantega, os emergentes --em especial os Brics (Brasil, Rússia, Índia e China)-- sinalizaram que querem mais espaço nos debates.

Joel Silva /Folha Imagem
Mantega afirmou que emergentes não querem participar do G7 ou do G8 só para tomar cafezinho
Mantega afirmou que não quer participar do G7 ou do G8 só para tomar cafezinho

"Nós, os países emergentes, os Brics, o G4, achamos que é preciso fazer uma reformulação do sistema financeiro mundial, que foi criado em Bretton Woods. Faltam regras mais sólidas apara impedir os abusos cometidos pelo setor financeiro, os 'hedge funds' e clubes de investimento, que não estavam sendo controlados. É preciso aumentar a regulamentação. É preciso que haja mais transparência, para que se saiba se eles estão ganhando, perdendo, se seus ativos são sadios ou não. Havia muitos ativos tóxicos que eram considerados bons", disse Mantega em entrevista coletiva.

Mantega disse ainda acreditar que os países emergentes não têm o espaço que deveriam nos organismos financeiros internacionais, entre eles o FMI (Fundo Monetário Internacional) e Banco Mundial.

Segundo ele, a atual divisão de poderes nesses órgãos refletem a economia das décadas de 1940 e 1950, quando Estados Unidos e Europa detinham a grande maioria do poderio financeiro. Sobre o G7, o ministro disse ser insuficiente para responder às demandas da crise. Por isso, defende uma função mais importante para o G20. Para isso, o G20 deve passar a ser integrado pelos chefes de Estado e que tenha um maior número de reuniões.

 

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