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23/10/2006 - 09h57

30ª Mostra de SP traz inquietude de Joaquim Pedro de Andrade

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CÁSSIO STARLING CARLOS
da Folha de S.Paulo

Por origem e formação, Joaquim Pedro de Andrade (1932-1988) foi o mais sofisticado dos diretores do cinema novo.

Filho do intelectual mineiro Rodrigo Mello Franco de Andrade, Joaquim Pedro conviveu desde a infância com gente como Manuel Bandeira (sobre quem fez um curta) e Carlos Drummond de Andrade. Mas a inquietação estética e política impediu que seus filmes caíssem no classicismo literário ou na sisudez acadêmica.

Embora tenha se inspirado freqüentemente na literatura (Drummond, Mário de Andrade, Oswald, Dalton Trevisan), Joaquim Pedro não foi, nem de longe, um "ilustrador de livros", como há tantos por aí. Soube cultivar a irreverência, a invenção e o risco. Por conta disso, sua filmografia relativamente pequena, mas variada, continua viva como poucas.

Uma chance única de conhecer ou reavaliar essa obra é a retrospectiva dedicada ao diretor pela 30ª Mostra Internacional de Cinema de São Paulo.

Um dos destaques, claro, é "Macunaíma" (1969), a obra-prima antropofágica do diretor, que volta em cópia restaurada. Infelizmente o filme será exibido apenas no encerramento da Mostra, em sessão para convidados --mas a boa notícia é seu lançamento em DVD pela Videofilmes, em novembro.

Fiel ao espírito, mas irreverente quanto à letra do romance de Mário de Andrade, o "Macunaíma" de Joaquim Pedro é ambientado nos conturbados anos 1960, e acrescenta à trajetória do "herói sem caráter" os temas da guerrilha urbana, da cultura pop e do consumismo.

Com uma estética exuberante, que transforma em arte o mau gosto plástico e musical, e interpretações antológicas de Grande Otelo (Macunaíma preto) e Paulo José (Macunaíma branco), além de Dina Sfat (a guerreira Ci) e Jardel Filho (Venceslau Pietro Pietra), o filme é um delírio cômico e erótico incomparável.

Numa chave estética oposta, feita da sobriedade do preto-e-branco e dos silêncios das montanhas de Minas, encontra-se outra obra igualmente obrigatória, "O Padre e a Moça" (1965). Inspirado no poema homônimo de Drummond, o filme é de um lirismo doloroso ao narrar o amor infeliz entre um padre (Paulo José) e uma bela jovem (Helena Ignez) num lugarejo do interior mineiro.

Liberdade ameaçada

A crítica e estudiosa francesa Sylvie Pierre detectou na dialética entre liberdade e repressão o móvel central do cinema de Joaquim Pedro --e acertou em cheio. Esse enfoque é pertinente tanto para um documentário como "Garrincha, Alegria do Povo" (1963), em que a força criadora do craque é enquadrada pelo "establishment" político e econômico do futebol, como para a comédia erótica "Guerra Conjugal" (1975), em que os desejos e pulsões dos indivíduos se chocam com a mesquinhez de seus valores morais de classe média.

Vale também, evidentemente, para o drama brechtiano "Os Inconfidentes" (1972), em que uma leitura dos bastidores da Inconfidência Mineira serve para iluminar a ditadura vivida no país na época do filme.

É na onipresença desse tema da liberdade ameaçada ou sufocada, bem como na integridade ética e no gosto pelo risco, que se deve buscar a coerência de uma obra tão heterogênea nos temas, na ambientação e na estética.

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