Publicidade
Publicidade
09/03/2007
-
16h07
CHIAKI KAREN TADA
da Folha Online
As sanções aprovadas na quinta-feira pela Agência Internacional de Energia Atômica (AIEA) da ONU ao Irã não surtirão efeito imediato e enfrentarão resistência de Teerã, disse à Folha Online, por telefone, Richard Bulliet, professor de História do Oriente Médio da Universidade Columbia, em Nova York.
Como exemplo, ele cita países como Coréia do Norte, África do Sul e Rodésia, que enfrentaram anos de sanções da ONU ou dos EUA antes que cedessem à pressão. "A publicidade dada a estas sanções é inadequada, pois as pessoas acreditam que irão produzir uma mudança dramática, mas há pouca coisa nos registros históricos que sugira que isso seja verdade", diz Bulliet.
Teerã sofre sanções impostas por Washington desde 1995. O governo americano acusa o regime iraniano de dar apoio a grupos considerados terroristas no Oriente Médio e de obstruir o processo de paz na região. O Irã não reconhece o Estado de Israel como legítimo.
Nos últimos meses, o país tem sofrido represálias devido à sua recusa em interromper seu programa nuclear de enriquecimento de urânio. Urânio enriquecido pode ser usado tanto como combustível nuclear como para produzir armas atômicas. Teerã diz que é para fins pacíficos, mas a ONU e os EUA temem que o país esteja querendo produzir armas.
Arshin Adib-Moghaddam, professor de Relações Internacionais da Universidade de Oxford e autor do livro "The International Politics of the Persian Gulf: A cultural genealogy" (ed. Routledge), tem opinião similar. "Sanções são de pouca ajuda ao lidar com o programa de energia nuclear do Irã, porque o país não reagiu a ameaças no passado", afirma ele.
Teerã não permite a presença de inspetores da AIEA, que não conseguiu definir, em quatro anos de investigações, se os fins das atividades nucleares iranianas são pacíficos ou não.
Para Bulliet, o país não tem a capacidade para produzir uma arma nuclear, pois não domina ainda a tecnologia. "Tudo está ligado à tentativa dos EUA e de outros países de evitar que o Irã consiga a capacidade de construir uma [bomba nuclear] no futuro", diz.
Segundo o professor da Columbia, mesmo que fosse capaz, o Irã não planejaria construir uma bomba a curto prazo, pois uma arma deste tipo não seria utilizada neste momento, e serviria apenas para uma demonstração de força ou para atender a interesses políticos.
Adib-Moghaddam também duvida dessa possibilidade. "O Irã não possui armas nucleares, e não há evidência convincente de que esteja desenvolvendo-as", diz ele.
Ataque
Na opinião de Bulliet, o Irã não poderia atacar Israel ou outros países vizinhos simpáticos aos EUA, porque não seria capaz de suportar um eventual contra-ataque.
Um ataque americano contra o Irã, por outro lado, também é pouco provável, na opinião dos acadêmicos. Além de os EUA estarem com as mãos ocupadas com o Iraque e o Afeganistão, Bush não teria interesse em iniciar uma guerra tão perto das eleições presidenciais (2008) e por temer a opinião pública americana.
No entanto, segundo Adib-Moghaddam, a crise internacional desencadeada pelo seu programa nuclear não é de todo ruim para o Irã, pois, em vez de enfraquecer o país, pode fortalecer o governo do ultraconservador Mahmoud Ahmadinejad. "O confronto com o Ocidente lhe dá o ímpeto ideológico para seguir sua agenda doméstica", diz o especialista.
Bulliet é da mesma opinião. Caso os Estados Unidos não promovam um ataque ao Irã, Ahmadinejad adquiriria uma imagem de coragem por ir contra os interesses americanos.
Caso haja uma ofensiva americana, o presidente iraniano seria visto como alguém que deve cumprir o dever de resistir à agressão. "As pessoas o seguiriam". A ofensiva, assim, serviria como um catalisador do nacionalismo iraniano.
Irã x EUA
Para o professor de Oxford, a situação em relação à crise do Irã está mais difícil para os EUA. "É um problema para administração Bush, que tem apenas dois anos de governo. Bush não quer deixar o cargo com um Irã completamente alheio a suas muitas ameaças", afirma.
Por outro lado, Bush não poderia dar início a uma guerra, porque para isso precisaria da aprovação do Congresso dominado pelos democratas, ou teria que começar uma guerra sem a aprovação do legislativo, o que traria questionamentos.
Especialistas dizem que uma negociação mais aberta, em busca de interesses em comum, ou em que houvesse benefícios, e não apenas ameaças, seria a solução mais adequada.
Para Bulliet, o combate ao tráfico de ópio produzido no Afeganistão, e que é um problema no Irã, poderia ser um ponto a ser discutido. Para Adib-Moghaddam, a solução seria promover um Oriente Médio "livre de armas de destruição em massa", como por exemplo, discutir o arsenal nuclear israelense. "É preciso que haja conversações diretas com o Irã, sem intimidações e a constante ameaça militar. O Irã reage à diplomacia no mesmo nível", diz.
Leia mais
Sanções da ONU ao Irã não têm legitimidade, diz especialista
ONU pede que Irã aceite pausa em sua atividade nuclear
Irã desmente ONU e nega interrupção de programa nuclear
ONU deixará Irã isolado com novas sanções contra Teerã
Países da ONU se reúnem para discutir Irã; tensão com EUA cresce
Pentágono criou grupo para atacar o Irã, segundo "The New Yorker"
Especial
Leia cobertura completa no especial Risco Nuclear
Sanções são ineficazes como golpe rápido à questão nuclear do Irã
Publicidade
da Folha Online
As sanções aprovadas na quinta-feira pela Agência Internacional de Energia Atômica (AIEA) da ONU ao Irã não surtirão efeito imediato e enfrentarão resistência de Teerã, disse à Folha Online, por telefone, Richard Bulliet, professor de História do Oriente Médio da Universidade Columbia, em Nova York.
Como exemplo, ele cita países como Coréia do Norte, África do Sul e Rodésia, que enfrentaram anos de sanções da ONU ou dos EUA antes que cedessem à pressão. "A publicidade dada a estas sanções é inadequada, pois as pessoas acreditam que irão produzir uma mudança dramática, mas há pouca coisa nos registros históricos que sugira que isso seja verdade", diz Bulliet.
Marcelo Katsuki/Fol |
Nos últimos meses, o país tem sofrido represálias devido à sua recusa em interromper seu programa nuclear de enriquecimento de urânio. Urânio enriquecido pode ser usado tanto como combustível nuclear como para produzir armas atômicas. Teerã diz que é para fins pacíficos, mas a ONU e os EUA temem que o país esteja querendo produzir armas.
Arshin Adib-Moghaddam, professor de Relações Internacionais da Universidade de Oxford e autor do livro "The International Politics of the Persian Gulf: A cultural genealogy" (ed. Routledge), tem opinião similar. "Sanções são de pouca ajuda ao lidar com o programa de energia nuclear do Irã, porque o país não reagiu a ameaças no passado", afirma ele.
Teerã não permite a presença de inspetores da AIEA, que não conseguiu definir, em quatro anos de investigações, se os fins das atividades nucleares iranianas são pacíficos ou não.
Para Bulliet, o país não tem a capacidade para produzir uma arma nuclear, pois não domina ainda a tecnologia. "Tudo está ligado à tentativa dos EUA e de outros países de evitar que o Irã consiga a capacidade de construir uma [bomba nuclear] no futuro", diz.
Segundo o professor da Columbia, mesmo que fosse capaz, o Irã não planejaria construir uma bomba a curto prazo, pois uma arma deste tipo não seria utilizada neste momento, e serviria apenas para uma demonstração de força ou para atender a interesses políticos.
Adib-Moghaddam também duvida dessa possibilidade. "O Irã não possui armas nucleares, e não há evidência convincente de que esteja desenvolvendo-as", diz ele.
Ataque
Na opinião de Bulliet, o Irã não poderia atacar Israel ou outros países vizinhos simpáticos aos EUA, porque não seria capaz de suportar um eventual contra-ataque.
Um ataque americano contra o Irã, por outro lado, também é pouco provável, na opinião dos acadêmicos. Além de os EUA estarem com as mãos ocupadas com o Iraque e o Afeganistão, Bush não teria interesse em iniciar uma guerra tão perto das eleições presidenciais (2008) e por temer a opinião pública americana.
No entanto, segundo Adib-Moghaddam, a crise internacional desencadeada pelo seu programa nuclear não é de todo ruim para o Irã, pois, em vez de enfraquecer o país, pode fortalecer o governo do ultraconservador Mahmoud Ahmadinejad. "O confronto com o Ocidente lhe dá o ímpeto ideológico para seguir sua agenda doméstica", diz o especialista.
Bulliet é da mesma opinião. Caso os Estados Unidos não promovam um ataque ao Irã, Ahmadinejad adquiriria uma imagem de coragem por ir contra os interesses americanos.
Caso haja uma ofensiva americana, o presidente iraniano seria visto como alguém que deve cumprir o dever de resistir à agressão. "As pessoas o seguiriam". A ofensiva, assim, serviria como um catalisador do nacionalismo iraniano.
Irã x EUA
Para o professor de Oxford, a situação em relação à crise do Irã está mais difícil para os EUA. "É um problema para administração Bush, que tem apenas dois anos de governo. Bush não quer deixar o cargo com um Irã completamente alheio a suas muitas ameaças", afirma.
Por outro lado, Bush não poderia dar início a uma guerra, porque para isso precisaria da aprovação do Congresso dominado pelos democratas, ou teria que começar uma guerra sem a aprovação do legislativo, o que traria questionamentos.
Especialistas dizem que uma negociação mais aberta, em busca de interesses em comum, ou em que houvesse benefícios, e não apenas ameaças, seria a solução mais adequada.
Para Bulliet, o combate ao tráfico de ópio produzido no Afeganistão, e que é um problema no Irã, poderia ser um ponto a ser discutido. Para Adib-Moghaddam, a solução seria promover um Oriente Médio "livre de armas de destruição em massa", como por exemplo, discutir o arsenal nuclear israelense. "É preciso que haja conversações diretas com o Irã, sem intimidações e a constante ameaça militar. O Irã reage à diplomacia no mesmo nível", diz.
Leia mais
Especial
Publicidade
As Últimas que Você não Leu
Publicidade
+ LidasÍndice
- Alvo de piadas, Barron Trump se adapta à vida de filho do presidente
- Facções terroristas recrutam jovens em campos de refugiados
- Trabalhadores impulsionam oposição do setor de tecnologia a Donald Trump
- Atentado contra Suprema Corte do Afeganistão mata 19 e fere 41
- Regime sírio enforcou até 13 mil oponentes em prisão, diz ONG
+ Comentadas
- Parlamento de Israel regulariza assentamentos ilegais na Cisjordânia
- Após difamação por foto com Merkel, refugiado sírio processa Facebook
+ EnviadasÍndice