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12/03/2007
-
10h58
DENISE GODOY
da Folha de S. Paulo, em Nova York
Os países latino-americanos não devem esperar muito da visita do presidente americano. "Em final de mandato, Bush está de mãos atadas, não tem muito o que oferecer", afirma o historiador Greg Grandin, da Universidade de Nova York.
Isso não significa, entretanto, que a América Latina não seja importante para os EUA.
Para Grandin, autor de livros sobre as relações de Washington com os países latino-americanos durante a Guerra Fria, a região sempre serviu de laboratório para as estratégias da política externa americana. Segundo ele, ali foi exercitado, nos anos 70 e início dos 80, o "maquiavelismo diplomático" que continua determinando as relações dos EUA com os outros países --a busca por reforçar o seu poder sempre tem a explicação moral da "libertação dos povos".
Leia, a seguir, trechos da entrevista que Grandin concedeu à Folha:
FOLHA - O senhor chama de "realismo punitivo" a ideologia que fundamenta a atual política externa dos EUA. Pode explicar o que isso significa?
GRANDIN - Costumo empregá-lo para falar sobre o que aconteceu no governo Bush: a união de duas diferentes correntes que sempre existiram na história da diplomacia americana, o realismo e o idealismo [os interesses concretos dos EUA e suas crenças]. Bush reabilitou o militarismo como instrumento legítimo de Estado, utilizando como justificativa para isso teorias idealistas -por exemplo, o projeto de espalhar a democracia. Essa linguagem adotada pelos republicanos remonta ao que foi feito na América Central nos anos 80, ou seja, o apoio, de maneira muito violenta, aos regimes que havia em El Salvador, na Guatemala. Essa violência era justificada em termos idealistas.
FOLHA - Por que o senhor diz que entender a relação dos EUA com a América Latina é essencial para compreender a "guerra ao terror"?
GRANDIN - Foi justamente na América Latina que os EUA puderam colocar em prática essa estratégia que mencionei acima e lá tiveram a sua mais longa experiência em projetar o seu poder para além de suas fronteiras. Por trás dessa estratégia, está a nova direita americana, uma coalizão de religiosos fundamentalistas, neoconservadores militaristas, nacionalistas e neoliberais.
FOLHA - Quais são os objetivos de Bush na América Latina hoje?
GRANDIN - Existe uma crise global que limita a capacidade dos EUA de expandirem o seu poder, e o país vai reagir a ela. Mas os EUA têm menos poder hoje do que no passado por diversos motivos -existem outras fontes de capital às quais a América Latina tem acesso. Essa região não depende mais tanto dos investimentos americanos ou dos seus mercados.
FOLHA - Que armas Bush teria para conquistar apoio na região?
GRANDIN - Ele está muito fraco. Fez algumas sinalizações em termos econômicos, mas não creio que tenham sido lances contundentes. Em políticas do passado, como a da Boa Vizinhança [nos anos 1930 e 40] houve concessões reais às nações latino-americanas.
FOLHA - Essa viagem não terá resultado nenhum?
GRANDIN - Ela é importante, sim, mas não há nada de muito concreto, porque Bush não está fazendo nenhuma concessão real, seja em termos de comércio ou política. Por exemplo, imigração é um assunto relevante para o México, mas não acredito que será feito algum avanço. Ele [Bush] está com as mãos atadas, quase deixando a Presidência, não tem muito a oferecer.
FOLHA - O antiamericanismo na América Latina é acompanhado pelo consumo da cultura americana e pelo desejo de emigrar para os EUA. É um paradoxo?
GRANDIN - Para mim faz total sentido. Qualquer país que tem muito poder e riqueza, como é o caso dos EUA, obviamente vai despertar tal sentimento.
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Bush não tem muito a oferecer, diz historiador
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da Folha de S. Paulo, em Nova York
Os países latino-americanos não devem esperar muito da visita do presidente americano. "Em final de mandato, Bush está de mãos atadas, não tem muito o que oferecer", afirma o historiador Greg Grandin, da Universidade de Nova York.
Isso não significa, entretanto, que a América Latina não seja importante para os EUA.
Para Grandin, autor de livros sobre as relações de Washington com os países latino-americanos durante a Guerra Fria, a região sempre serviu de laboratório para as estratégias da política externa americana. Segundo ele, ali foi exercitado, nos anos 70 e início dos 80, o "maquiavelismo diplomático" que continua determinando as relações dos EUA com os outros países --a busca por reforçar o seu poder sempre tem a explicação moral da "libertação dos povos".
Leia, a seguir, trechos da entrevista que Grandin concedeu à Folha:
FOLHA - O senhor chama de "realismo punitivo" a ideologia que fundamenta a atual política externa dos EUA. Pode explicar o que isso significa?
GRANDIN - Costumo empregá-lo para falar sobre o que aconteceu no governo Bush: a união de duas diferentes correntes que sempre existiram na história da diplomacia americana, o realismo e o idealismo [os interesses concretos dos EUA e suas crenças]. Bush reabilitou o militarismo como instrumento legítimo de Estado, utilizando como justificativa para isso teorias idealistas -por exemplo, o projeto de espalhar a democracia. Essa linguagem adotada pelos republicanos remonta ao que foi feito na América Central nos anos 80, ou seja, o apoio, de maneira muito violenta, aos regimes que havia em El Salvador, na Guatemala. Essa violência era justificada em termos idealistas.
FOLHA - Por que o senhor diz que entender a relação dos EUA com a América Latina é essencial para compreender a "guerra ao terror"?
GRANDIN - Foi justamente na América Latina que os EUA puderam colocar em prática essa estratégia que mencionei acima e lá tiveram a sua mais longa experiência em projetar o seu poder para além de suas fronteiras. Por trás dessa estratégia, está a nova direita americana, uma coalizão de religiosos fundamentalistas, neoconservadores militaristas, nacionalistas e neoliberais.
FOLHA - Quais são os objetivos de Bush na América Latina hoje?
GRANDIN - Existe uma crise global que limita a capacidade dos EUA de expandirem o seu poder, e o país vai reagir a ela. Mas os EUA têm menos poder hoje do que no passado por diversos motivos -existem outras fontes de capital às quais a América Latina tem acesso. Essa região não depende mais tanto dos investimentos americanos ou dos seus mercados.
FOLHA - Que armas Bush teria para conquistar apoio na região?
GRANDIN - Ele está muito fraco. Fez algumas sinalizações em termos econômicos, mas não creio que tenham sido lances contundentes. Em políticas do passado, como a da Boa Vizinhança [nos anos 1930 e 40] houve concessões reais às nações latino-americanas.
FOLHA - Essa viagem não terá resultado nenhum?
GRANDIN - Ela é importante, sim, mas não há nada de muito concreto, porque Bush não está fazendo nenhuma concessão real, seja em termos de comércio ou política. Por exemplo, imigração é um assunto relevante para o México, mas não acredito que será feito algum avanço. Ele [Bush] está com as mãos atadas, quase deixando a Presidência, não tem muito a oferecer.
FOLHA - O antiamericanismo na América Latina é acompanhado pelo consumo da cultura americana e pelo desejo de emigrar para os EUA. É um paradoxo?
GRANDIN - Para mim faz total sentido. Qualquer país que tem muito poder e riqueza, como é o caso dos EUA, obviamente vai despertar tal sentimento.
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