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06/04/2007 - 12h31

Britânicos dizem que foram submetidos a pressão psicológica no Irã

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da Folha Online

O grupo de 15 militares britânicos detidos pelo Irã no golfo Pérsico no último dia 23 de março tomaram uma "decisão consciente" de obedecer aos iranianos no momento da captura e passaram por intensa pressão psicológica durante os 13 dias em que ficaram no país persa. As afirmações foram feitas por membros do grupo nesta sexta-feira no Reino Unido, durante a primeira entrevista coletiva dada após a libertação dos militares na última quarta-feira (4).

"Percebemos que a resistência ocasionaria uma grande luta, e que não poderíamos vencer. Decidimos conscientemente obedecer aos iranianos", afirmou o capitão da Marinha Real britânica Christopher Air. Um dos detidos, Air disse que os iranianos os submeteram a "jogos psicológicos".

Al Alam via APTN/AP
Imagem de TV mostra britânico confessando invasão de águas iranianas no golfo Pérsico
Imagem de TV mostra britânico confessando invasão de águas iranianas no golfo Pérsico
Os 15 marinheiros e fuzileiros navais chegaram ontem ao Reino Unido, onde se reuniram com familiares e foram interrogados por autoridades da Marinha em uma base no sudoeste da Inglaterra.

Na entrevista de hoje, o tenente da Marinha Real britânica Felix Carman, outro dos presentes, leu um comunicado reafirmando que o grupo estava em "águas iraquianas internacionalmente reconhecidas" no momento da detenção. A localização dos britânicos no momento da captura é alvo de disputa entre o Irã e o Reino Unido --enquanto os iranianos denunciaram a suposta invasão ilegal de suas águas territoriais, Londres negou a violação durante toda a crise.

Carman disse que a embarcação britânica estava a 1,7 milhas náuticas das águas iranianas. A informação contrasta com as confissões gravadas em vídeo que os britânicos ofereceram aos iranianos durante a prisão --o que foi explicado pelo grupo pela pressão psicológica a que foram submetidos. Os iranianos também teriam ameaçado o grupo com sete anos de prisão a não ser que eles confessassem a invasão.

28.mar.2007/AP
Turney (à dir.) faz refeição ao lado de outros marinheiros britânicos detidos no golfo Pérsico
Turney (à dir.) faz refeição ao lado de outros marinheiros britânicos detidos no golfo Pérsico
O marinheiro Arthur Batchelor, outro membro do grupo presente na entrevista, afirmou que o tratamento a que foram submetidos no Irã foi "humano", mas que eles foram impedidos de se comunicarem uns com os outros.

Os militares disseram que a única mulher entre os detidos, Faye Turney, foi mantida separada dos outros por vários dias e informada que os demais haviam sido liberados.

Eles afirmaram ainda que todos foram vendados, algemados e obrigados a dormir em pequenas celas.

A descrição dada pelos marinheiros e fuzileiros navais contrasta também com as imagens divulgadas pelo Irã, nas quais eles aparecem sorrindo, comendo e até jogando xadrez. O grupo classificou as fotos e vídeos divulgados de "golpe de mídia" do governo iraniano.

Atividades suspensas

Após o fim do impasse de 13 dias, o Reino Unido anunciou nesta sexta-feira a suspensão de todas as operações e patrulhamentos no golfo Pérsico.

Enquanto parte do Reino Unido celebrou o retorno dos britânicos, as críticas aumentaram hoje a respeito da cooperação do grupo com os iranianos.

Durante a detenção, o Irã divulgou vídeos, fotografias e cartas nas quais os britânicos assumiram a violação das águas iranianas e pediram desculpas ao governo iraniano, além de agradecerem o tratamento dispensado a eles no país.

O chefe de pessoal da Marinha britânica, almirante Jonathon Band, afirmou nesta sexta-feira que as operações no golfo estão suspensas até que seja esclarecido o episódio da captura dos 15 marinheiros e fuzileiros navais pelo Irã. "No momento estamos com as operações e patrulhamentos suspensos. Obviamente faremos uma revisão completa", disse.

Band, no entanto, defendeu o comportamento dos militares e afirmou que a cooperação foi obtida sob "certa quantidade de pressão psicológica". "Eles se comportaram bem e não colocaram ninguém em perigo. O grupo agiu com dignidade considerável e muita coragem", afirmou.

Primeiras palavras

Em um comunicado divulgado várias horas após seu retorno, os 15 militares disseram que sua chegada a Heathrow foi "um sonho tornado realidade" e que eles não se esqueceriam da recepção que tiveram.

"As últimas duas semanas foram muito difíceis, mas permanecendo juntos como um time nós pudemos nos manter confiantes", disse o grupo no comunicado, que foi lido por um porta-voz da Marinha.

O Reino Unido manteve hoje a versão de que os militares estavam realizando operações de rotina em águas iraquianas quando foram detidos pelo Irã. Ontem foi divulgado pelo canal de TV Sky News que o grupo britânico estava no golfo Pérsico realizando operações de espionagem, o que não foi confirmado oficialmente até agora.

A Sky News afirma ter entrevistado o capitão Chris Air, responsável pelos 15 militares, no dia 13 de março. Segundo o canal, a entrevista não foi levada ao ar para não pôr em perigo a segurança do grupo, detido dez dias depois.

"Basicamente, falamos com a tripulação [dos navios inspecionados], averiguamos se há problemas, afirmamos que estamos aqui para protegê-los, para evitar o terrorismo e a pirataria na região", disse Air sobre as operações no golfo.

"Em segundo lugar, tenta-se obter informação de inteligência: se eles [os navios inspecionados] dispõem de informação, já que passam dias aqui, para poder compartilhá-la conosco", acrescentou.

O secretário de Defesa britânico, Des Browne, afirmou que a tripulação fragata HMS Cornwall, da qual fazia parte o grupo, agiu corretamente ao tentar se inteirar de tudo que acontecia na área. "O mandato da ONU concedeu claramente poderes aos efetivos que faziam parte da força para reunir informações sobre a zona em que estavam se movendo", afirma Browne à Sky News.

Chegada

Os 15 militares britânicos libertados pelo Irã chegaram a Londres na manhã desta quinta-feira. O grupo recebeu uma surpreendente "anistia" do presidente iraniano em uma cerimônia na última quarta-feira, após uma escalada na tensão entre o Irã e o Reino Unido que levou ao corte de relações entre os dois países.

Mesmo após a libertação, os questionamentos sobre a surpreendente libertação do grupo pelo presidente iraniano ontem continuam sem resposta.

Enquanto o Irã afirma que seus "objetivos foram alcançados" e que o premiê britânico, Tony Blair, enviou uma carta de desculpas ao governo persa antes da libertação, o governo em Londres reafirmou ontem que não houve nenhum tipo de negociação prévia para o fim do impasse.

O presidente do Irã, Mahmoud Ahmadinejad, exigiu em várias ocasiões durante os 13 dias de impasse que o Reino Unido admitisse a violação de suas águas, o que Blair --ao menos oficialmente-- se recusou a fazer. A libertação de quarta-feira foi uma surpresa para os britânicos, que haviam afirmado apenas um dia antes que não esperavam uma solução rápida para a crise.

Em Londres, Blair afirmou categoricamente ontem que não houve negociação para a libertação do grupo. "Eles foram libertados sem acordo, sem negociação alguma, sem nenhum convênio de nenhuma natureza", disse o premiê. "Quero ser muito, muito claro: sem transação, sem negociação", insistiu.

Ele também expressou sua satisfação com a "abertura de novas vias de comunicação com o regime iraniano".

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Ahmadinejad anunciou a "anistia" de seu país aos britânicos em uma entrevista coletiva realizada na última quarta-feira. "Os 15 marinheiros receberam nosso perdão, e oferecemos sua liberdade como um presente ao povo britânico", disse.

Após anunciar oficialmente a libertação, o presidente iraniano reuniu-se com o grupo no palácio presidencial. Imagens exibidas pela TV estatal iraniana mostraram Ahmadinejad cumprimentando os militares e conversando com o grupo com a ajuda de intérpretes. Na gravação, é possível ouvir um dos 15 militares dizer em inglês ao presidente: "Estamos gratos pelo seu perdão".

Durante a entrevista coletiva, Ahmadinejad deu medalhas de condecoração aos guardas da costa iraniana que interceptaram a embarcação britânica, reiterando que os militares estavam em águas territoriais do Irã no momento em que foram capturados.

4.abr.2007/Reuters
Mahmoud Ahmadinejad conversa com grupo de militares britânicos após anunciar libertação
Mahmoud Ahmadinejad conversa com grupo de militares britânicos após anunciar libertação
"Em nome do grande povo iraniano, quero agradecer à Guarda Costeira, que corajosamente defendeu nossas águas territoriais e deteve aqueles que violaram nossa fronteira", disse o líder do Irã. Em seguida, interrompeu o discurso e deu medalhas a três guardas.

Ahmadinejad criticou o destacamento da marinheira Faye Turney, 26, a única mulher do grupo, lembrando que ela é mãe de crianças pequenas. "Como se justifica que uma mãe fique fora de casa, longe de seus filhos? Não se respeita os valores familiares no Ocidente?".

Irã e Reino Unido viveram um incidente similar em 2004, quando o regime de Teerã manteve detidos durante três dias oito militares britânicos acusados de entrarem de forma ilegal em águas territoriais do Irã no golfo Pérsico. Na época, o Reino Unido também negou a invasão.

Desta vez, a tensão teve início na mesma semana em que o Conselho de Segurança da ONU aprovou novas sanções contra Teerã por sua insistência em manter seu programa nuclear.

Com agências internacionais

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