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24/07/2009 - 10h16

Zelaya chega à cidade fronteiriça e monta base para planejar retorno

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da Folha Online

O presidente deposto de Honduras, Manuel Zelaya, chegou na noite desta quinta-feira na cidade de Estelí, na Nicarágua, primeira escala de seu trajeto de volta a Honduras. Zelaya montou base em um hotel local e prepara os planos de seu retorno com pedidos para que o Exército hondurenho ignore a ordem de prisão contra ele e minimizando o temor de que sua chegada ao país possa provocar uma onda de violência.

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Acompanhado de uma verdadeira caravana de jornalistas, aliados e até mesmo guerrilheiros sandinistas, Zelaya chamou seus seguidores a se mobilizarem na fronteira.

"Vou andando para Honduras. Espero que grande parte do povo hondurenho possa superar as barreiras do exército na fronteira para impedir sua passagem", disse Zelaya, ao chegar a Estelí, 149 km a norte de Manágua, perto da fronteira com Honduras.

Zelaya entrou em Estelí com uma caravana de mais de 50 veículos de jornalistas de agências e imprensa internacionais e compatriotas para organizar sua entrada na madrugada de sexta-feira para sábado em Honduras.

Ao chegar a Estelí, o governante hondurenho foi recebido por seguidores do governante Frente Sandinista (FSLN, esquerda) da Nicarágua que saíram ás ruas para cumprimentá-lo.

Segundo o jornal hondurenho "Hondudiario", a viagem de Zelaya pela fronteira será acompanhada por guerrilheiros sob as ordens de Edén Pastora, conhecido como comandante zero, que participou da derrubada do governo de Anastasio Somoza, na Nicarágua.

Em entrevista coletiva, Pastora afirmou que o problema hondurenho será resolvido apenas pela "via das armas" e rejeitou os esforços do mediador, o presidente costarriquenho, Oscar Arias, por uma saída diplomática.

A caravana de Zelaya é composta ainda pelo chanceler venezuelano, Nicolás Maduro, a ex-chanceler de Honduras Patricia Rodas e outros funcionários de seu governo.

Apesar das recentes declarações de insurreição e guerra civil, Zelaya afirmou que espera um diálogo na fronteira e alertou que entrará desarmado e proclamando a reconciliação do povo hondurenho.

Resistência

O governo interino, que decretou o triunfo da terceira rodada de negociações mediadas por Arias, ampliou o toque de recolher e reiterou que, se entrar no país, Zelaya será preso. As fronteiras permanecem ainda vigiadas pelo Exército hondurenho.

Em cadeia nacional de rádio e televisão, o governo de Roberto Micheletti, que assumiu em 28 de junho passado por designação do Parlamento, depois do golpe de Estado contra Zelaya, anunciou que o toque de recolher na fronteira com a Nicarágua começa hoje às 18h (21h no horário de Brasília) e finaliza às 6h da amanhã (9h no horário de Brasília).

No resto do país, segundo o anúncio oficial, o toque de recolher está mantido de meia-noite às 4h30 (3h às 7h30 no horário de Brasília).

As autoridades do governo interino disseram ainda que Honduras não cederá à pressão internacional pela restituição de Zelaya.

O governo formado depois do golpe militar de 28 de junho aceitou consultar o Congresso e a Suprema Corte sobre uma nova proposta que foi apresentada pelo presidente da Costa Rica, Oscar Arias, e que inclui a restituição de Zelaya na Presidência.

No entanto, uma fonte oficial jogou água fria nas expectativas de uma solução. 'Não acho que a Suprema Corte ou a Procuradoria Geral ou o Congresso irão alterar seus critérios. Acho que eles irão manter sua posição contra o retorno de Manuel Zelaya ao poder', disse Mauricio Villeda, negociador do governo interino na mediação exercida por Arias.

Governos da Europa, da América Latina e dos Estados Unidos tentam sem sucesso convencer o governo interino a recuar.

Valentin Suárez, dirigente da bancada do Partido Liberal (governista), disse que a maioria dos parlamentares votará contra a proposta de Arias.

A iniciativa de destituir Zelaya partiu inicialmente da Suprema Corte, com aval do Congresso, sob a acusação de que ele violou a Constituição ao tentar uma manobra para disputar a reeleição.

Histórico

Zelaya foi deposto nas primeiras horas do dia 28 de junho, dia em que pretendia realizar uma consulta popular sobre mudanças constitucionais que havia sido considerada ilegal pela Justiça. Com apoio da Suprema Corte e do Congresso, militares detiveram Zelaya e o expulsaram do país, sob a alegação de que o presidente pretendia infringir a Constituição ao tentar passar por cima da cláusula pétrea que impede reeleições no país.

O presidente deposto, cujo mandato termina no início do próximo ano, nega que pretendesse continuar no poder e se apoia na rejeição internacional ao que é amplamente considerado um golpe de Estado --e no auxílio financeiro, político e logístico do presidente venezuelano, Hugo Chávez-- para desafiar a autoridade de Micheletti e retomar o poder.

Isolado internacionalmente, o presidente interino resiste à pressão externa para que Zelaya seja restituído e governa um país aparentemente dividido em relação à destituição, mas com uma elite política e militar --além da cúpula da Igreja Católica-- unida em torno da interpretação de que houve uma sucessão legítima de poder e de que a Presidência será entregue apenas ao presidente eleito em novembro --as eleições estavam marcadas antes da crise.

Mas a pressão externa não é apenas diplomática, e o governo de Micheletti começa a enfrentar a suspensão de financiamentos externos cruciais para as finanças de um dos países mais pobres do continente. O impacto desses cortes, que se somam aos efeitos da crise econômica mundial, é um dos elementos que pesam nas decisões do governo interino em meio à crise.

 

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