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Irã fica sob alerta com multidão em funeral de aiatolá; França teme repressão
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da Folha Online
As forças de segurança do Irã estão sob alerta nesta segunda-feira com uma multidão de centenas de milhares de pessoas nas ruas da cidade sagrada de Qom, para o funeral do aiatolá dissidente reformista Hossein Ali Montazeri. Alguns sites opositores falam em até 1 milhão de pessoas, muitas das quais desafiaram a presença das forças e protestaram contra o ultraconservador governo de Mahmoud Ahmadinejad.
Na França, um porta-voz do Ministério de Relações Exteriores disse esperar que os protestos não levem a uma onda de repressão semelhante a que a capital iraniana, Teerã, vivenciou nos protestos pós-eleitorais.
Efe | ||
Imagem aéra mostra multidão que foi às ruas da cidade sagrada de Qom para o funeral de aiatolá dissidente |
"Esperamos que as manifestações organizadas em sua memória [do aiatolá] não deem lugar a uma nova fase de repressão por parte das autoridades iranianas". afirmou o porta-voz, citado pela agência de notícias France Presse.
Ele disse ainda que a França "apoia seu combate a favor da defesa dos direitos e das liberdades em seu país".
Uma multidão acompanhou nesta segunda-feira o funeral do aiatolá, gritando slogans contra o governo. O site reformista Norooz disse que as forças de segurança entraram em confronto com manifestantes que atiravam pedras, perto da casa de Montazeri.
As autoridades não se manifestaram, e não foi possível confirmar o relato, já que a imprensa estrangeira está proibida de cobrir as manifestações e foi orientada a não viajar a Qom para o funeral de Montazeri.
Outro site reformista, o Jaras, disse que centenas de milhares de pessoas participaram do cortejo fúnebre de Montazeri, que foi um dos mentores da Revolução Islâmica de 1979, mas depois passou a contestar a atual liderança clerical conservadora, que segundo ele havia perdido sua legitimidade.
"Montazeri, inocente, seu caminho será seguido mesmo que o ditador faça chover tiros sobre a nossa cabeça", gritava a multidão.
ditador é o termo com o qual os manifestantes se referem a Ahmadinejad desde sua questionada reeleição em 12 de junho. Ele foi reeleito com cerca de 63% dos votos contra 34% do principal candidato da oposição, Mir Hossein Mousavi.
A votação foi seguida por semanas de fortes protestos da oposição por fraude. Os protestos, enfrentados com violência pela polícia e a milícia Basij, ligada à Guarda Revolucionária, deixaram ao menos 20 mortos, dezenas de feridos e cerca de 2.000 presos.
A oposição chegou a denunciar abusos nos presídios contra os opositores, mas a acusação foi rejeitada por Teerã
O Conselho dos Guardiães do Irã, órgão responsável por ratificar o resultado do pleito, aceitou fazer uma recontagem parcial dos votos para acalmar a oposição, mas confirmou a reeleição de Ahmadinejad depois de afirmar que a fraude em cerca de 3 milhões de votos não era suficiente para mudar o resultado das urnas. Khamenei endossou a vitória de Ahmadinejad.
Confrontos
Os admiradores de Montazeri que foram à segunda mesquita mais sagrada do Irã também gritavam os nomes "Hossein, Mir Hossein", em uma alusão ao líder da oposição Mir Hossein Mousavi.
A tropa de choque já está mobilizada em Qom, 125 quilômetros ao sul de Teerã.
De acordo com relato do site Ayande, ligado ao político conservador Mohsen Rezaie, membros da milícia pró-governo Basij passaram pela rua gritando: "Que vergonha, hipócritas, deixem a cidade de Qom".
Reuters | ||
Muitos manifestantes carregavam panos ou faixas verdes, a cor que representa a oposição ao governo |
Segundo esse relato, os participantes do funeral reagiram dizendo: "O que aconteceu com o dinheiro do petróleo? Foi para os basijis."
Já o site da oposição Kaleme.org relata que a polícia entrou em confronto com os manifestantes quando os agentes tentaram dispersar as pessoas que gritavam frases hostis ao governo. Os opositores lançaram pedras.
"A polícia agrediu pessoas que estavam gritando frases diante da casa do aiatolá, e as pessoas jogaram pedras nos oficiais", afirma uma nota do portal.
Aiatolá
Montazeri, que morreu na noite de sábado aos 87 anos, vítima de ataque cardíaco, era considerado o patrono espiritual do movimento oposicionista que se consolidou depois da polêmica eleição presidencial de junho.
Teólogo respeitado, foi um dos líderes da revolução islâmica de 1979 e um dos idealizadores da Constituição da República Islâmica. Considerado o membro da corrente mais liberal e progressista do clero, manifestou oposição ao endurecimento progressivo do regime contra os opositores.
A morte do clérigo ocorreu em um momento tenso, no qual o governo tenta impedir que a celebração xiita da Ashura, no próximo domingo (27), seja usada pelos manifestantes para amplificar seus protestos.
Ashura é neto do profeta Maomé e morreu em uma batalha no século 7, fato que selou o cisma entre sunitas e xiitas.
A Ashura, ocasião importante do calendário xiita, também coincidirá com o sétimo dia de luto por Montazeri, de modo que será difícil para as autoridades tirar as pessoas das ruas.
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