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Não
tenho nada contra as noites de autógrafos. Nem as dos outros,
nem as minhas. Só compareço às inevitáveis,
de amigos que por isso ou aquilo me convocam especialmente para tais
eventos. De minha parte, com mais de 30 livros publicados, só
fiz três noites de autógrafos.
A primeira em 1964, um livro de crônicas políticas contra
o regime militar que se instalara meses antes. Não foi um acontecimento
literário nem cultural, mas uma espécie de comício
silencioso, uma atitude, ou uma provocação contra a
força que dominaria a vida nacional nas duas décadas
seguintes.
Juntou muita gente, não para comprar o meu livro, mas para
marcar uma presença, expressar um protesto que não podia
ser feito de outra maneira.
A segunda vez foi uma noite coletiva de autores sobre bairros aqui
do Rio. Uma editora reuniu cinco escribas da praça, cada um
escreveu sobre o seu bairro, a mim me coube a Lagoa, não podia
recusar o evento, seria uma grosseria para com os outros autores.
A terceira foi agora, junto com o Angeli, edição da
Boitempo Editorial, uma editora nova que está caprichando.
Mais uma vez, foram reunidas crônicas políticas, valorizadas
pelo traço inconfundível e certeiro do cartunista que
os leitores da Folha de S.Paulo conhecem e admiram.
Mais uma vez, também foi uma atitude, uma tentativa de refletir
e protestar contra uma situação que me parece a mais
equivocada da vida nacional. Tínhamos tudo para dar um pulo
gigantesco no caminho de nossa soberania e de nosso desenvolvimento.
Por comodidade moral, por incapacidade administrativa, a equipe que
está no poder preferiu atrelar o Brasil como um reboque no
bonde da história. Como um país medíocre, que
se basta e se compraz em ser periférico, e, ao mesmo tempo,
banalizado pela miséria de uma concentração de
renda que só é menor do que a de Serra Leoa.
Valeu a pena ficar ao lado de Angeli, dar o recado que já havíamos
dado no jornal. Encarar o leitor, olho no olho, e dele cobrar a mesma
reflexão, propor o mesmo protesto.
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