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Não
é preguiça do cronista. Transcrevo, em forma de resumo, o e-mail que
recebi de Ana Claudia. Não a conheço pessoalmente e creio que é a
primeira vez que ela me escreve. O assunto tem a ver com a comunicação
virtual e há um drama humano embutido na história. Passo a palavra
a Ana Claudia:
"Enquanto lia seus textos, lembrei de uma amiga que se considera deusa
( deusa mesmo, com direito a audiência com John Lennon e grandes papos
telepáticos com FHC). (...) Somos pessoas semelhantes: mesmo extrato
social, formação similar, conceitos éticos parecidos. Creio que a
diferença significativa entre nós seja o caminho que escolhemos. A
impressão que tenho é que ela opta pela loucura.
Não estou julgando o comportamento dela, muito menos falando algo
conclusivo (...) Deve existir espaço para que qualquer um opte pelo
acerto ou pelo erro, ou mesmo caia nele sem saber, afinal, é dessa
matéria que é feita a vida, do inesperado. Tem ganhos, tem perdas,
como também tem a tecla back e o famoso Ctrl+Alt+Del. Posso desligar
meu computador com algumas dores como também fecho o jornal. E acima
de tudo, posso me levantar imediatamente e ir encontrar pessoas queridas
(talvez a deusa?), depende de minhas opções".
Não vou entrar no mérito das considerações feitas por Ana Claudia.
Prefiro fazer um comentário marginal, marginal mesmo, no mau sentido.
Até que ponto o papo virtual, entre conhecidos ou mesmo desconhecidos,
não substituirá em breve a psicanálise?
Ora, dirão, a psicanálise é uma técnica, um processo estruturado.
Não é aleatória como um e-mail, que pode inclusive mistificar. Acho
que não importa: de uma ou outra forma, mesmo em audiências com John
Lennon e papos telepáticos com FHC, qualquer um pode mergulhar dentro
de si mesmo e tentar se conhecer melhor. E melhor se conhecendo, empatar
perdas e ganhos.
Leia colunas anteriores
24/10/2000 - Reflexão
e Protesto
17/10/2000 - A língua do "P"
10/10/2000 - Câncer virtual
03/10/2000 - Óleo
de fígado de bacalhau
26/09/2000 - A
selva do asfalto
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