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FHC
e os que o rodeiam costumam desqualificar os detratores do governo
dizendo que só sabem criticar. Na hora de oferecer sugestões, enfiam
a viola no saco e saem de fininho. São, em sua maioria, engenheiros
de obras feitas, como se diz.
Hoje, oferecerei um conjunto de propostas. Quase um plano de governo.
Não ganho para isso. Mas, que diabo, cansei de ser insultado.
Tudo é muito simples. Mais simples do que se imagina. A saída para
o Brasil depende, em primeiro lugar, de um bom diagnóstico. É preciso
ter uma visão correta dos problemas. Para poupar tempo, evitando longas
e desgastantes discussões, recomenda-se a leitura dos livros de um
tal Fernando Henrique Cardoso. Consta que o autor já não está entre
nós. Teria sumido em 1994. Mas a obra que deixou é irrepreensível.
Obtido o diagnóstico, basta costurar um bom plano de ação. Precisa
ser muito bem feito. E deve ter um sentido patriótico. Está bem, está
bem, não restam muitos patriotas no Brasil. Mas, procurando, sempre
se pode achar dois ou três.
O Plano Real não serve. Não que seja ruim. É até bonzinho. Conteve
a inflação e blábláblá. Mas seu sucesso definitivo depende da capacidade
do brasileiro de ficar sem comer por mais algum tempo. Talvez uma
década. E o povo, como se sabe, não é dado a sacrifícios.
O governo poderia tentar aprovar no Congresso uma lei revogando o
abominável hábito do brasileiro de querer três refeições ao dia. Mas,
com aquele abdômen espetado, é improvável que o ACM tope. Outro que
pode pegar em armas é o Delfim Netto. Melhor não arriscar.
Elaborado o plano patriótico, bastaria buscar o voto altruísta dos
parlamentares, a cooperação desinteressada da banca internacional,
o apoio abnegado dos empresários e a colaboração desprendida dos empregados
e das corporações.
Pode demorar um tempo para convencer toda essa gente. Nesse intervalo,
é possível que aumente a onda de violência.. Mas, calma. Não há razão
para derrotismo. Bem ao contrário.
É certo que cresce o número de assaltos. Mas, para utilizar um raciocínio
do economicismo neoliberal, se há assaltos em quantidade é porque,
por ora, estão preservadas as leis de mercado.
Ou seja, assim como só há desempregados porque faltam empregos, os
assaltantes existem porque há assaltáveis dando sopa. A oferta é ainda
é capaz de atender à demanda, se é que me entende. Não entende? Pois
então esqueça. Os raciocínios economicistas neoliberais não foram
feitos para ser entendidos.
Sempre há o risco de o governo não conseguir pôr em prática o plano
patriótico. Neste caso, teremos mesmo de insistir com o Real. Seremos
forçados a buscar saídas para encruzilhadas como a dos juros lunares,
a da dívida pública indecente, a dos superávits comerciais pífios
e a do crescimento econômico risível.
São problemas graves, que exigem soluções engenhosas. Como a demissão
de Pedro Malan, por exemplo. Sim, sim. É preciso afastar o ministro.
Demitido, Malan viraria articulista de jornal (todo ex-ministro da
Fazenda, quando não vira presidente, converte-se em articulista),
ficaria repentinamente inteligente e incluiria em seus textos fórmulas
e soluções à farta. Bastaria a FHC seguir as orientações de seu ex-ministro.
E não se diga mais que me limito às críticas.
Leia colunas anteriores
13/06/2000 - (A)normalidade do Cotidiano
06/06/2000 - NeoFHC
30/05/2000 - Forças Armadas e (talvez)
Corruptas
23/05/2000 - A locomotiva do atraso
16/05/2000 - Fernando Henrique para
presidente
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