Um
grande amigo, Fernando Rodrigues, por sinal, dos mais conhecedores
do teatro, ele que foi ótimo crítico e até protagonizou uma montagem
do "Auto da Compadecida", enviou alguns estudos sobre como escrever
melhor para a Internet. É bom para eu aprender a não ficar me metendo
no blablablá do pós-modernismo, que torna qualquer texto uma confusão
pedante _como no caso dos meus dois últimos, nesta seção.
A revelação mais curiosa dos estudos é que o leitor da web não lê:
ele "scan", ele esquadrinha o texto em busca de palavras-chave.
Daí a necessidade, quase a exigência de tantos links em hipertexto
quanto possível, além de mudanças constantes nos tipos gráficos.
Outras sugestões na mesma linha incluem encher o texto de listas,
com tópicos marcados por bolinhas ou coisa assim, e escrever quanto
menos, melhor.
Isso porque, em sua passagem mais agourenta, os mesmos estudos (Writing
for the Web) apontam que a leitura na Internet é mais lenta
(25%) e bem menos paciente. A sugestão é cortar o texto pela metade,
em relação ao que se escreveria em papel. Lá se vai, assim, a fantasia
de liberdade _de que na Internet, sem limite de espaço, seria possível
escrever como nos velhos tempos, tempos de Décio de Almeida Prado
e Paulo Francis, quando a crítica tinha páginas e páginas a seu
dispor.
Fernando
Rodrigues tratou de relativizar os tais estudos e suas normas
obsessivas de escritura, que nem pretende seguir, tomando só como
referência eventual. Aliás, se fosse para seguir à risca tudo o
que está lá, uma crítica não passaria de uma série de frases soltas,
podendo se restringir de vez às sempre questionadas, ainda que úteis,
estrelas de avaliação. Vai um exemplo do que seria tal futuro negro,
nesta adaptação de uma crítica ao modelo perfeito, com leitura,
segundo se promete, 124% maior:
"Apocalipse
1,11" adapta o texto bíblico à degradação do Brasil contemporâneo,
da TV à religião, do sexo às chacinas.
O texto, criado
em improvisações dirigidas por Antônio Araújo, com dramaturgia de
Fernando Bonassi, é cru e direto.
A encenação
rompe a alegoria das outras peças do diretor, jogando a realidade
na cara do espectador.
O público é
integrado até fisicamente à apresentação, que ele segue pelas celas
e corredores do presídio do Hipódromo.
O elenco,
de Mariana Lima a Joelson Medeiros, tem algumas das atuações mais
corajosas, das entregas mais profundas vistas no teatro.
Cotação:
Você, leitor, não cai nessa. Cai?
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17/5/2000 -
Os patrulheiros
10/5/2000 -
Eu, eu, eu
03/5/2000 - Sexo explícito
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