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Congresso,
fim de milênio e sorvete de manjericão
Antes de embarcar para uma nova excursão para o nordeste, de onde
pretendo voltar com sabores locais - como o conhaque de pitanga,
que tanto sucesso fez entre os leitores desta coluna - insisto no
tema insípido das mesas do Congresso. Noto, pela quantidade de emails
que Roberto Carlos e Gilberto Freyre dão mais ibope, no entanto,
sou obrigado, por dever de ofício, a falar de política. Aguentem
um pouco.
Na sexta-feira (1/12) eu dizia
que a escolha dos presidentes da Câmara e do Senado tendem, em geral,
ao paroquialismo. Continuo a achar isso. Porém, a coluna de Elio
Gaspari no domingo (3/12) alertou para a influência dos presidentes
das Casas em votações estratégicas merece a preocupação do governo.
Creio que Gaspari tem razão. Acrescento que, se ao Planalto, causa
apreensão o que ocorre na outra esquina da praça dos Três Poderes,
a nós, cidadãos, também deveria causar. Pela simples razão de que
as tais votações terminarão por bater no cotidiano de cada um. Pode
demorar, pode vir por vias transversas. Mas chega.
Tendo em mente o alerta certeiro de Gaspari redobrei a atenção ao
tema. Descobri uma análise do cientista político Sérgio
Abranches que vai ainda mais longe. Ele acha que se o PSDB vier
a ocupar a presidência da Câmara, como quer o deputado-candidato
Aécio Neves, a coalizão governista será rompida.
O raciocínio de Abranches parte das mesmas premissas que eu apresentei
aqui na sexta-feira. Há três partidos (PSDB-PMDB-PFL) para dois
cargos. Como resolver o assunto sem deixar ninguém de fora?
À primeira vista parece impossível. Abranches afirma que a solução
é a seguinte: um dos partidos, no caso o PSDB, ocupa a presidência,
enquanto os outros dois, PMDB e PFL, ficam, cada um, com a direção
da Câmara e do Senador. É por isso que a candidatura Aécio e o acordo
PSDB-PMDB seriam inaceitáveis pelo PFL. Assim como, seria inaceitável
para o PMDB um acordo PSDB-PFL.
Abranches não diz, mas a conclusão é óbvia, que Fernando Henrique
não poderia aceitar, em hipótese alguma, a candidatura Aécio, e
menos ainda a coligação PSDB-PMDB. A menos que deseje uma ruptura
da aliança.
A possibilidade de fragmentar a base governista parece ser uma cogitação
de facções do PSDB desejosas de ver o partido reassumir
características social-democratas. Uma dobradinha com o PMDB,
que exclua o PFL, seria coerente com pregações desenvolvimentistas
como as do ex-ministro Luiz Carlos Mendonça de Barros.
O presidente da República, contudo, não dá
nenhum sinal de que pense em algo nessa linha. Muito pelo contrário,
todo o esforço da Presidência vai na direção
de manter e solidificar o arco de partidos que o apóia. Opção,
aliás, óbvia do ponto de vista da realpolitik.
Conclusão: o enguiço no Congresso, que só se
resolverá no final de janeiro, tem um potencial mais explosivo
do que parece à primeira vista. Meu palpite é que
os três partidos serão empurrados a encontrar um modus
vivendi por um motivo simples, o de que juntos tem grandes chances
de continuar mandando no Brasil. A questão é como
e a que preço acharão o caminho da negociação.
Pode parecer um problema de economia interna, e é, só
que, repito, acabará por refletir sobre todos. Daí
a necessidade de abrir o olho.
Livro
da semana
O economista
Gilberto Dupas faz um esforço de reflexão totalizante
em "Ética e poder na sociedade da informação"
(www.editora.unesp.br). É um pequeno volume que acaba de
ser edita pela Unesp. Lembra o também rápido ensaio
do sociólogo Anthony Giddens publicado este ano, "Mundo
em descontrole". Giddens é considerado o ideólogo
da terceira via.
Dupas, ex-presidente do Banespa (o que estará ele a pensar
agora que o sr. Gabriel Jaramillo ocupa aquela que foi sua cadeira),
tenta dar conta das transformações que transformaram
o planeta nas últimas duas décadas e, em especial,
nos anos 90. O tom não é otimista.
Como Dupas é muito bem informado, inteligente e escreve bem,
vale a pena ler o livro. Veja um trecho para sentir o gosto:
"Na fase atual do capitalismo, auxiliado pela mutação
das técnicas, surge um novo Estado. A classe dirigente já
não é mais constituída por políticos
mas por executivos de empresas, altos funcionários públicos
e dirigentes de órgãos profissionais, sindicais, políticos,
confessionais. Os partidos, as instituições e as tradições
históricas perdem seu atrativo. Objetivos políticos
perdem interesse. A finalidade da vida é deixada a cada cidadão,
cada qual entregue a si mesmo, mesmo sabendo que este si mesmo é
muito pouco."
Natal
Por
falar em otimismo, as previsões sobre o Natal brasileiro
parecem a discussão sobre a aterrissagem da economia norte-americana.
Há números, indicadores e opiniões para todos
os gostos. Desde o pessimismo mais atroz até o consumismo
mais reconfortado.
Em
Fortaleza
Vou
para a capital do Ceará. O jornalista Paulo Mota recomenda
capote e sorvete de manjericão no Restaurante do Faustino.
Quem tiver outras sugestões, por favor asinger@uol.com.br.
Verso
pop da semana
"Olha
aí, meu bem
Prudência e dinheiro no bolso
Caldo de galinha não faz mal a ninguém."
Jorge
Benjor
Até
a volta.
As previsões sobre o Natal brasileiro são como as
que se referem à aterrissagem da economia americana. Há
números, indicadores e climas para todos os gostos. Desde
o pessimismo mais atroz, que antevê maus sinais no cenário
externo, até o otimismo risonho e franco, que decretou este
como o melhor fim-de-ano dos últimos seis.
Leia
colunas anteriores
29/11/2000 - Ver o rap do pequeno príncipe é fundamental
24/11/2000
- Apertem os cintos
22/11/2000 - Primeiros acordes do
balé presidencial
17/11/2000 - Conhaque de Pitanga
15/11/2000
- Volta apoteótica
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