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29/07/2003 - 03h48

Como será a educação da próxima geração

da Folha de S.Paulo

Logo de início, os educadores convidados a escrever neste número avisam: prever o futuro da escola é impossível. Tal afirmação poderia ser encarada como um balde de água fria nas pretensões desta edição especial de um ano do Sinapse, não fosse uma ressalva com a qual a maioria concorda: ainda que imprevisível, o futuro é desenhado pelas ações do presente.

Cris Bierrenbach/Folha Imagem
Alunos em atividade na Escola Viva, em São Paulo

Nas próximas páginas, 12 pensadores —três estrangeiros e nove residentes no Brasil— analisam, refletem e especulam sobre essas ações e os efeitos que elas terão sobre a educação daqui a 25 anos.

Outro ponto com o qual quase todos concordam é que a escola de hoje é fruto e espelho da sociedade. Dessa forma, as mudanças necessárias na educação seriam as mesmas necessárias à sociedade. Nas palavras de Rui Canário, professor da Universidade de Lisboa, "não será possível uma escola que promova a realização da pessoa humana (...) numa sociedade baseada em valores (...) que sejam o seu oposto". Ou, como afirma a diretora da Faculdade de Educação da Unicamp, Agueda Bernardete Bittencourt, "a escola não consegue produzir sozinha a igualdade quando a sociedade é desigual".

Os números que ilustram essa situação mostram um cenário preocupante. "Há ainda quase 900 milhões de adultos analfabetos e mais de 100 milhões de crianças fora da escola no mundo", lembra Jorge Werthein, representante da Unesco (órgão da ONU para a educação) no Brasil.

Engana-se, no entanto, quem acredita que a solução esteja nas mãos de uma geração de supercomputadores capazes de solucionar as mazelas da educação global com um simples clique.

Ao contrário, todos os autores acreditam que os professores continuarão a ter um papel de extrema importância na "escola do futuro". É fato que eles passarão a acumular outras e novas funções e qualificações, mas terão sempre lugar cativo no aprendizado de seus alunos —porque nenhum computador será capaz de substituir o contato humano.

Até nas visões mais futuristas, como a do colunista Gilson Schwartz ou a do coordenador científico da Escola do Futuro da USP, Fredric Michael Litto, alunos e professores estarão lado a lado como eternos aprendizes.

Aos alunos, como defende o educador Antonio Carlos Gomes da Costa, caberá um papel do qual não poderão se eximir: o de deixar a apatia e assumirem-se como "protagonistas" ativos na busca de sua própria formação. Em outras palavras, isso quer dizer que boa parte de sua educação dependerá cada vez mais do seu próprio interesse aliado à sua capacidade de atualização e aprendizado.

A crescente oferta de conhecimento também vai implicar necessariamente uma maior urgência em enxergar o todo, numa clara oposição a correntes que pregam uma especialização cada vez maior.

Para não correr o risco de ter "peritos em áreas específicas e massas cada vez mais incapazes de entender o mundo que as rodeia", como alerta Alfredo Bosi, vice-presidente do Instituto de Estudos Avançados da USP, os autores apontam caminhos que necessariamente passam por um aprendizado multidisciplinar, e não compartimentado, bem como por uma maior flexibilização de programas, horários e disciplinas e por novas reuniões de saberes. Sobre o que aprender, a direção proposta aponta para conteúdos ligados a situações concretas familiares aos alunos. Ou seja, menos teoria, mais prática.

"De repente, os saberes começaram a pulular fora dos limites da 'escola tradicional'", arrisca o colunista Rubem Alves. Novos "ambientes educativos" também passarão a ser reconhecidos. "Cinemas, teatros, exposições, museus e centros culturais terão fortes núcleos educativos para a formação do público", prevê o colunista Gilberto Dimenstein.

Por fim, "não será mais possível prescindir de um valor: a democracia e o respeito pela diferença", como lembra Daniel Greenberg, um dos fundadores da Sudbury Valley School, nos EUA, um dos modelos mundiais de escola democrática. "Indiferente às diferenças, o fracasso escolar persistirá", alerta o educador suíço Philippe Perrenoud, da Universidade de Genebra.

Leia a seguir as respostas dos 12 pensadores convidados pelo Sinapse a refletir sobre a escola do futuro.

Leia mais
  • Ennio Candotti: Temperar ciência e arte
  • Philippe Perrenoud: O futuro da escola nos pertence
  • Gilson Schwartz: E-mail vence Aids
  • Rubem Alves: Que pipoquem experimentos!
  • Antonio Carlos Gomes da Costa: Mudar o conteúdo, o método e a gestão
  • Alfredo Bosi: Valorizar o professor do ciclo básico
  • Agueda Bernardete Bittencourt: A escola sozinha não produz igualdade
  • Daniel Greenberg: As crianças devem estar no poder
  • Rui Canário: Parar de transformar crianças e adolescentes em alunos
  • Jorge Werthein: O desafio da educação
  • Fredric Michael Litto: Entre o telescópio e o caleidoscópio
  • Gilberto Dimenstein: O fim da escola

         

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