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03/03/2003
-
06h26
da Folha de S.Paulo, na Suíça
O movimento da água azulada que desce pelo rio Aare parece ser o único referencial de que o tempo passa em Berna. Do velho banco de madeira rústica em meio às árvores do bosque, do outro lado do rio, se avistam torres de igreja, prédios aristocráticos e o telhado vermelho que cobre as casas em arenito dessa charmosa cidade medieval. Tranquila como poucas, quem diria que se trata da capital de uma das nações mais ricas e desenvolvidas do mundo?
A Suíça é mesmo um país pequenino de surpresas intermináveis. Pena que o viajante brasileiro nem sempre inclua Berna em seu roteiro, preferindo destinos como Zurique, Genebra e Lucerna, sem se dar conta de que essa cidade faz parte de todas as conexões de trem importantes do país.
Embora Berna seja a capital federal, não é bem esse o clima que se respira por aqui. Esqueça qualquer semelhança cosmopolita e caótica típica de outras capitais européias. Não há engarrafamentos. Mesmo em horários de pico, os meios de transporte são opções tranquilas, e muita gente escolhe andar a pé ou de bicicleta.
Seus moradores são pacientes e solícitos, do tipo que carregam o turista delicadamente pelo braço quando vão indicar uma atração na próxima esquina. Nos grandes centros, como Zurique, os berneses têm fama de "caipiras", de fala devagar, bem explicativa.
História
Talvez a história da cidade, com seus altos e baixos, ajude a entender como o coração de seus moradores foi moldado. Berna surgiu no século 12 como uma fortaleza, criada por um duque herdeiro de tribos germânicas, Berchtold 5º, um dos governantes do Sacro Império Romano.
A localização foi e segue sendo estratégica. Berna fica numa península elevada, cercada por duas curvas do rio Aare, o que ajudou a prosperar sua agricultura -até hoje uma das principais feiras de Berna homenageia a cebola, em novembro- e serviu de forte para armazenar ouro e prata dos tempos pós-medievais.
Mas nem tudo rendeu fortuna à cidade. O invasor Napoleão deu as cartas por lá de 1798 a 1815. Em 1405, um incêndio destruiu a maioria das casas, na época, de madeira. Refeita, a cidade foi tombada pela Unesco como patrimônio da humanidade. Para desfrutar de suas arcadas, espalhadas por seis quilômetros, símbolo de sua arquitetura e concentradas numa área pequena, perambule pelo centro histórico a pé.
Seja de dia, seja de noite, a cidade, oitavo Cantão suíço, é segura e calma, até mesmo em suas alamedas fechadas, cercadas de restaurantes e badalados cafés.
Busque energia contemplando a igreja do Espírito Santo (Heiliggeistkirche), obra do início do século 18 decorada de elementos modernos e medievais.
De alma leve, prepare-se para as inúmeras paradas diante das fontes espalhadas pelo centro histórico. Repare no contraste das pequenas e coloridas flores que adornam as fontes, como se quebrassem a rígida estrutura das construções medievais.
Deixe-se encantar com o tocador de gaita de foles que dá nome a uma famosa fonte.
Uma espiral de cobre e um relógio astronômico chamam a atenção de longe. É a Zytgloggeturm, Torre do Relógio, construída em 1191 como porta de entrada da cidade. Fique de olho: toda hora um grupo de bonecos mecânicos faz uma espécie de representação cênica dos encantos da capital suíça.
Mesmo quem vive em Berna não consegue resistir. Todo mundo pára para ver o tocador de flauta e o de tambor, os ursos dançarinos, todos "artistas" comandados por um bufão. No fim, um cavalheiro de roupa metálica martela as horas, como se nos despertasse de uma procissão hipnótica.
Berna é assim, demarcada por história, cultura e arquitetura, refletidas nas águas límpidas do rio Aare. Em meio à leveza de seus bosques, a correria dos tempos modernos não ameaça o privilégio de contemplar o que é belo.
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ROBERTO DE OLIVEIRAda Folha de S.Paulo, na Suíça
O movimento da água azulada que desce pelo rio Aare parece ser o único referencial de que o tempo passa em Berna. Do velho banco de madeira rústica em meio às árvores do bosque, do outro lado do rio, se avistam torres de igreja, prédios aristocráticos e o telhado vermelho que cobre as casas em arenito dessa charmosa cidade medieval. Tranquila como poucas, quem diria que se trata da capital de uma das nações mais ricas e desenvolvidas do mundo?
A Suíça é mesmo um país pequenino de surpresas intermináveis. Pena que o viajante brasileiro nem sempre inclua Berna em seu roteiro, preferindo destinos como Zurique, Genebra e Lucerna, sem se dar conta de que essa cidade faz parte de todas as conexões de trem importantes do país.
Embora Berna seja a capital federal, não é bem esse o clima que se respira por aqui. Esqueça qualquer semelhança cosmopolita e caótica típica de outras capitais européias. Não há engarrafamentos. Mesmo em horários de pico, os meios de transporte são opções tranquilas, e muita gente escolhe andar a pé ou de bicicleta.
Seus moradores são pacientes e solícitos, do tipo que carregam o turista delicadamente pelo braço quando vão indicar uma atração na próxima esquina. Nos grandes centros, como Zurique, os berneses têm fama de "caipiras", de fala devagar, bem explicativa.
História
Talvez a história da cidade, com seus altos e baixos, ajude a entender como o coração de seus moradores foi moldado. Berna surgiu no século 12 como uma fortaleza, criada por um duque herdeiro de tribos germânicas, Berchtold 5º, um dos governantes do Sacro Império Romano.
A localização foi e segue sendo estratégica. Berna fica numa península elevada, cercada por duas curvas do rio Aare, o que ajudou a prosperar sua agricultura -até hoje uma das principais feiras de Berna homenageia a cebola, em novembro- e serviu de forte para armazenar ouro e prata dos tempos pós-medievais.
Mas nem tudo rendeu fortuna à cidade. O invasor Napoleão deu as cartas por lá de 1798 a 1815. Em 1405, um incêndio destruiu a maioria das casas, na época, de madeira. Refeita, a cidade foi tombada pela Unesco como patrimônio da humanidade. Para desfrutar de suas arcadas, espalhadas por seis quilômetros, símbolo de sua arquitetura e concentradas numa área pequena, perambule pelo centro histórico a pé.
Seja de dia, seja de noite, a cidade, oitavo Cantão suíço, é segura e calma, até mesmo em suas alamedas fechadas, cercadas de restaurantes e badalados cafés.
Busque energia contemplando a igreja do Espírito Santo (Heiliggeistkirche), obra do início do século 18 decorada de elementos modernos e medievais.
De alma leve, prepare-se para as inúmeras paradas diante das fontes espalhadas pelo centro histórico. Repare no contraste das pequenas e coloridas flores que adornam as fontes, como se quebrassem a rígida estrutura das construções medievais.
Deixe-se encantar com o tocador de gaita de foles que dá nome a uma famosa fonte.
Uma espiral de cobre e um relógio astronômico chamam a atenção de longe. É a Zytgloggeturm, Torre do Relógio, construída em 1191 como porta de entrada da cidade. Fique de olho: toda hora um grupo de bonecos mecânicos faz uma espécie de representação cênica dos encantos da capital suíça.
Mesmo quem vive em Berna não consegue resistir. Todo mundo pára para ver o tocador de flauta e o de tambor, os ursos dançarinos, todos "artistas" comandados por um bufão. No fim, um cavalheiro de roupa metálica martela as horas, como se nos despertasse de uma procissão hipnótica.
Berna é assim, demarcada por história, cultura e arquitetura, refletidas nas águas límpidas do rio Aare. Em meio à leveza de seus bosques, a correria dos tempos modernos não ameaça o privilégio de contemplar o que é belo.
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