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26/04/2004 - 04h16

Mundo da moda fala francês com sotaque

HELOISA LUPINACCI
free-lance da Folha de S.Paulo

"Haute-couture", "prêt-à-porter", "maison". As palavras do mundo da moda alinhavam-se em francês. Embora Milão, Londres e, mais recentemente, Nova York e Tóquio tenham pregado seus nomes no mapa da moda --que vem de "mode" (modo), do francês, claro--, Paris ainda é o primeiro lugar que vem à mente quando se pensa em grifes ou, no original, "griffes" (garras). Em francês, claro.

O posto de capital do mundo fashion -que vem de "façon", do francês, claro- não foi outorgado a Paris de graça. Tradição, espionagem e incentivos do governo são responsáveis pela façanha.

O "avant-garde" francês remonta ao tempo das cavernas: os primeiros registros de figuras humanas usando "roupas", no caso folhas de árvores, estão cravados em pedras francesas.

O pioneirismo dos homens das cavernas franceses é apenas um sinal do que estaria por vir.
A França virou sinônimo de moda sob o reinado de Luís 14, no século 17. O rei uniu uma política econômica agressiva a certos truques para colocar a França no umbigo do mundo da moda.

Uma de suas artimanhas surgiu como reação à insistência do rei inglês Charles 2º em competir com ele para ver quem era o mais luxuoso. O monarca francês bolou uma estratégia para sabotar todas as criações de seu rival inglês: a cada vez que Charles aparecia com uma roupa nova, Luís mandava seus costureiros copiarem a peça e a estabelecia como uniforme de seus empregados. A desmoralização era imediata.

"A França virou nessa época um pólo difusor de modos e de moda", explica o especialista em história da moda e professor de cultura de moda da Faculdade Santa Marcelina, João Braga, que conta que, depois do reinado de Luís 14, o luxo continuou sendo a tônica dos reinados de Luís 15 e 16.

Quando Napoleão 3º estava no poder, nasceu a alta-costura, que, graças à criação de uma patente, virou exclusividade francesa na década de 1860.

Mas o mundo é redondo como uma manga bufante, e, nos anos 1930, com diversas crises abalando o mundo, um novo modelo de comercialização de moda se fez necessário. Assim, depois da ameaça real inglesa, veio a ameaça industrial norte-americana.

Práticos como só eles conseguem ser, os norte-americanos inventaram o "ready-to-wear", ou pronto para vestir. A proposta era que a loja tivesse modelos de vestidos iguais de tamanhos diferentes. Assim a cliente compraria a roupa no seu tamanho, evitando ajustes. Para que isso fosse possível, os norte-americanos criaram a grade de tamanhos P, M e G.

Incomodados com o passo à frente dado no Novo Mundo, os franceses logo reagiram: um industrial do setor têxtil financiou uma expedição de espiões para roubar o método das fábricas norte-americanas.

Quando os espiões voltaram, implantaram o sistema na França e criaram o "prêt-à-porter" --pronto para vestir. Em francês, claro. "Voilá". A França dava o troco, cunhava o termo francófono para a invenção americana e passava uma bela rasteira na tentativa da tomada de seu posto.

De lá para cá

Na década de 1860, foi criada a Câmara Sindical da Costura Parisiense, que definiu que alta moda só seria produzida em Paris. Assim como champanhe ou queijo camembert, que só podem ser feitos em determinadas regiões da França, a alta-costura também tem sua denominação de origem controlada. Nesse caso, não basta ser francês, é preciso ser parisiense. E mais: não basta estar em Paris, é preciso ter uma sede num bairro luxuoso da cidade. Nada de Belleville, mais simplesinho.

Entre os 12 seletos membros da câmara, há dois ícones: Dior (www.dior.com) e Chanel (www.chanel.com). Existe uma característica comum às duas marcas que revela uma face mais cosmopolita e irônica da capital da moda que Paris é hoje: as duas são chefiadas por estrangeiros. O inglês John Galliano cria as roupas da Dior, e o alemão Karl Lagerfeld, as da Chanel.

"Touché". O idioma da moda pode ser o francês, mas os sotaques em que ele é dito vêm de muitas partes do mundo.


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