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28/07/2005
-
11h35
Diretora-executiva da Folha Online
CAIO VILELA
Colaboração para a Folha de S.Paulo, no Irã
"Os arquitetos de Kashan são os grandes alquimistas da história, capazes de criar ouro a partir da areia." A frase proferida por um enviado da Unesco à cidade, há mais de dez anos, continua a ser repetida sem perder a atualidade.
Embora a atração mais festejada de Kashan sejam os magníficos jardins Fin, a cidade também impressiona pela grandeza da arquitetura residencial do século 19 e pela curiosa organização da malha urbana, forjada com a dupla função de proteger dos invasores e dos rigores do clima do deserto de sal que envolve o lugar.
À primeira vista, a cidade de trânsito pesado para seus pouco mais de 400 mil habitantes parece uma coleção confusa de placas de néon iluminadas em meio a uma espessa nuvem de areia. Pouco importa: o charme está nas casas construídas para nobres mercadores de tapetes, com seus jardins interiores e paredes entalhadas em estuque (capaz de conferir acabamento luxuoso a paredes rústicas de adobe e tijolo).
Visitar as casas Borujerdi, Tabatabaei, Abassian e Ameriha evidencia a existência de um estilo maduro de arquitetura em barro, perfeitamente adequado às condições climáticas da cidade, com temperaturas que variam de 40C no verão a índices abaixo de 0ºC no inverno. As duas primeiras foram construídas no final do século 19 para as famílias de mesmo nome pelo arquiteto Ostad-Ali Maryam, cuja inspiração surgiu na infância, da observação do trabalho dos artesãos que edificaram a mesquita Agha Bozorg, onde acabou por se tornar aprendiz.
As casas, hoje transformadas em museu, inserem-se no cenário urbano da velha cidade, escondidas em ruelas estreitas e bem ventiladas, conhecidas como "koochehs". As paredes altas de adobe ou tijolo foram construídas para reduzir os efeitos da desertificação, conter tempestades de areia e dificultar a entrada de invasores estrangeiros. Protegem do sol no verão e mantêm as ruas mais aquecidas no inverno.
Em Tabatabaei, funciona todas as noites um simpático restaurante, com refeições simples servidas sobre tablados forrados com tapeçaria. Para um verdadeiro banquete, vale conhecer o Delpazir, no subterrâneo de uma pequena galeria, próxima à entrada do bazar, na avenida Aiatolá Kashani. Administrado por uma inglesa, seu marido e filho (iranianos), serve fartos pratos típicos. O tradicional Bath of Mir-Ahmad Soltan mescla gastronomia com arquitetura, num edifício que conserva características do banho que funcionou ali no século 12.
Mas, além das casas, com seus românticos jardins interiores, Kashan exibe o mais antigo jardim persa preservado no Irã. Ele cobre mais de 24 mil m2, rodeados por uma muralha. Os cursos d'água, que dividem o jardim em quatro quadrantes, percorrem canais recobertos por azulejo turquesa. Histórias locais relatam que os arquitetos que planejaram o jardim queriam criar uma versão terrena do paraíso. Quem passeia entre as roseiras e ciprestes centenários, embalado pelo som da água que corre, chega a acreditar que eles conseguiram.
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Irã: Casas de Kashan convertem barro em ouro
ANA LUCIA BUSCHDiretora-executiva da Folha Online
CAIO VILELA
Colaboração para a Folha de S.Paulo, no Irã
"Os arquitetos de Kashan são os grandes alquimistas da história, capazes de criar ouro a partir da areia." A frase proferida por um enviado da Unesco à cidade, há mais de dez anos, continua a ser repetida sem perder a atualidade.
Caio Vilela |
Interior da casa Ameriha, em Kashan |
À primeira vista, a cidade de trânsito pesado para seus pouco mais de 400 mil habitantes parece uma coleção confusa de placas de néon iluminadas em meio a uma espessa nuvem de areia. Pouco importa: o charme está nas casas construídas para nobres mercadores de tapetes, com seus jardins interiores e paredes entalhadas em estuque (capaz de conferir acabamento luxuoso a paredes rústicas de adobe e tijolo).
Visitar as casas Borujerdi, Tabatabaei, Abassian e Ameriha evidencia a existência de um estilo maduro de arquitetura em barro, perfeitamente adequado às condições climáticas da cidade, com temperaturas que variam de 40C no verão a índices abaixo de 0ºC no inverno. As duas primeiras foram construídas no final do século 19 para as famílias de mesmo nome pelo arquiteto Ostad-Ali Maryam, cuja inspiração surgiu na infância, da observação do trabalho dos artesãos que edificaram a mesquita Agha Bozorg, onde acabou por se tornar aprendiz.
Caio Vilela |
Pátio interno da casa Abassian, em Kashan |
Em Tabatabaei, funciona todas as noites um simpático restaurante, com refeições simples servidas sobre tablados forrados com tapeçaria. Para um verdadeiro banquete, vale conhecer o Delpazir, no subterrâneo de uma pequena galeria, próxima à entrada do bazar, na avenida Aiatolá Kashani. Administrado por uma inglesa, seu marido e filho (iranianos), serve fartos pratos típicos. O tradicional Bath of Mir-Ahmad Soltan mescla gastronomia com arquitetura, num edifício que conserva características do banho que funcionou ali no século 12.
Mas, além das casas, com seus românticos jardins interiores, Kashan exibe o mais antigo jardim persa preservado no Irã. Ele cobre mais de 24 mil m2, rodeados por uma muralha. Os cursos d'água, que dividem o jardim em quatro quadrantes, percorrem canais recobertos por azulejo turquesa. Histórias locais relatam que os arquitetos que planejaram o jardim queriam criar uma versão terrena do paraíso. Quem passeia entre as roseiras e ciprestes centenários, embalado pelo som da água que corre, chega a acreditar que eles conseguiram.
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