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04/12/2010 - 08h04

Conheça a vida de crianças de comunidade quilombola do sertão da Bahia

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GABRIELA ROMEU
EDITORA-ASSISTENTE DA FOLHINHA

Divulgação
Crianças de quilombo do sertão da Bahia, que estão no livro "Histórias da Cazumbinha", da Companhia das Letrinhas
Crianças no rio do quilombo

Cazumbinha não sabia que grande aventura era crescer! Ela nasceu num quilombo do sertão da Bahia, onde tio Horácio conta história de bicho que come criança que chupa dedo, as crianças se jogam em rios de águas mornas, calminhas, e maio é mês dos festejos do Divino Espírito Santo. Lá, Tio Cesário é cheio de histórias.

Nessa aventura de viver, ela vai aprendendo os costumes de sua gente no livro "Histórias da Cazumbinha" (Companhia das Letrinhas; R$ 34), de Meire Cazumbá e Marie Ange Bordas. As autoras lançam o livro hoje, das 15h às 19h, na Livraria Cultura (av. Paulista, 2.073).

Num bate-papo por e-mail, Meire e Marie contam sobre o projeto e explicam como as crianças participaram do livro, que traz um pouco da realidade de meninos e meninas quilombolas no país. Confira!

Divulgação
Crianças de quilombo do sertão da Bahia, que estão no livro "Histórias da Cazumbinha", da Companhia das Letrinhas
Fotomontagem, com desenhos das crianças quilombolas

O livro foi feito em parceria com as crianças, não? Como foi esse processo?
Inspirada em seu trabalho de arte participativa mundo afora, Marie concebeu o livro como uma brincadeira, em que as vidas de adultos e crianças, as palavras e as imagens se misturam de tal jeito que se tornam inseparáveis como as amigas [Marie e Meire]. Para criar as fotoilustrações, Marie chamou a criançada do quilombo do Rio das Rãs, que, durante dois verões, entrou na brincadeira, ouvindo, contando e desenhando histórias, posando de personagens para as fotos e mostrando seu jeito de viver.

Como surgiu o nome da personagem?
Simples! A Cazumbá [Meire Cazumbá] adulta mergulhou na sua infância e puxou de lá sua versão menina: Cazumbinha.

A comunidade Rio das Rãs está em todo o livro, claro, mas podem descrever um pouco mais como é lá?
O quilombo Rio das Rãs possui, além do rio São Francisco, o rio das Rãs, situado na caatinga, que lhe banha as margens, além de inúmeras lagoas. Lá habitam cerca de 900 famílias, distribuídas em 39 mil hectares. A natureza é o principal aliado na busca do que fazer. Assim, os banhos de rio se tornam o momento principal de regozijo, mas tem também o correr pelo prazer de correr, o subir em árvores, catar fruta... Outra grande aliada das crianças do quilombo é a criatividade, pois é com ela que as crianças criam um tanto de brinquedos e brincadeiras: bonecas, carrinhos de boi de madeira, boias de pneu, rodas de aro...

Quem é Tio Cesário?
Tio Cesário é o tio de todas as pessoas que o conhecem, além de tio de verdade de Cazumbinha. Guarda em sua memória os fatos e as datas mais importantes envolvendo pessoas da comunidade. Até mesmo data de nascimento ele guarda! E foi com base nas informações por ele passadas que muitos registros civis foram feitos. É uma tradição comum: os mais velhos sempre gostam de contar histórias. Porém Tio Cesário a tudo enriquece com seus detalhes preciosos. Várias outros guardiões ajudam a manter vivas as histórias, saberes e fazeres de cada comunidade, as benzedeiras, as rezadeiras, as sambadeiras, os vaqueiros, os pescadores...

Contem um pouco como foram as aventuras de vocês com as crianças por lá durante o trabalho.
Trabalho e diversão se misturaram organicamente nas nossas viagens. Sair para conversar com os mais velhos, reunir a criançada para ouvir, contar e desenhar histórias, fotografar, nadar no rio, andar a cavalo, acompanhar a Festa de Reis, catar imbu, subir em árvore e até ser mordida por um cachorro: tudo foi aventura partilhada com cumplicidade e alegria com a criançada.

Divulgação
Crianças de quilombo do sertão da Bahia, que estão no livro "Histórias da Cazumbinha", da Companhia das Letrinhas
Brincadeiras das crianças do quilombo Rio das Rãs, na Bahia

O que mais chama atenção sobre a vida das crianças quilombolas de lá?
Elas têm tempo, espaço e motivação para serem crianças, para inventar sua diversão usando criatividade e imaginação. Seu dia a dia é marcado pelo contato com a natureza, com a liberdade de brincar na rua, encontrar amigos e aprender muita coisa com os mais velhos.

No final, Cazumbinha sonha em saber ler o que está escrito nas lagartas. De onde veio essa história das lagartas? Como é a escola das crianças de lá?
A história é inspirada em um fato real. Amelina, Cazumbinha e muitos outros acreditavam que desenhos que se formavam nas lagartas correspondiam a letras. Mas que letras? Era a grande questão. Apesar da ocupação secular, somente no ano de 2008 foi inaugurada a primeira escola de verdade no quilombo, com salas de aula, banheiros etc. Outra escola para atender crianças que moram em outra parte da área, está em processo de construção. Mas, devido à falta de estradas, crianças que moram mais distantes da escola, não podem estudar na época das chuvas, pois o veículo escolar não pode circular.A história é também uma referência direta a Meire, curiosa desde menina, cuja vida se transformou com a descoberta da leitura... Por falar nisso, o sonho de Marie e Meire agora é criar uma biblioteca para seus amigos cazumbinhos e cazumbinhas do Rio das Rãs!

 

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