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"Peça-desfile" de Melamed mostra espanto com o Brasil
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MARCO AURÉLIO CANÔNICO
DO RIO
"A comissão de frente cria uma certa expectativa no público por sua coreografia diferenciada."
A frase, sussurrada por um narrador fora de cena, introduz uma das alas do desfile carnavalesco que Michel Melamed, 35, armou em sua nova peça, "Adeus à Carne", em cartaz no Rio.
André Mantelli |
Thalma de Freitas na peça "Adeus à Carne", de Melamed |
Ela também serve para falar da própria carreira de Melamed, autor, ator e diretor de quem o público se acostumou a esperar "coreografias diferenciadas" desde a marcante "Regurgitofagia" (2004), na qual ele recebia choques a cada reação da plateia.
Em "Adeus à Carne", o artista carioca leva seus experimentos com a linguagem teatral ao extremo, numa performance quase sem texto.
"É uma radicalização da linguagem e das ideias que vinham sendo trabalhadas nos meus espetáculos anteriores", diz Melamed à Folha.
"O público é convidado a interpretar, a inventar o espetáculo. O espetáculo não existe, não tem uma condução linear de acontecimentos. Ele passa a existir quando as pessoas estabelecem conexões."
O que se apresenta para a plateia é uma sequência de cenas, cada uma delas associada a uma parte do desfile carnavalesco (comissão de frente, mestre-sala e porta-bandeira, velha guarda etc.).
Mas, fora a demarcação de cada ala, anunciada pelo narrador, e alguns elementos cenográficos, não há nada que lembre as escolas de samba: são seis atores (é a primeira peça de Melamed em grupo) encenando momentos de violência, humor, drama, amor.
Acompanhando cada sequência da montagem, está uma trilha sonora que vai de The Who ao funk "proibidão", passando por Antony and the Johnsons, Elis Regina e Nana Caymmi.
choque com o brasil
A peça, segundo Melamed, reflete o choque que ele teve em sua volta ao Brasil após uma temporada em Nova York, onde montou "See- WatchLook" no ano passado.
"Quando voltei, a brutalidade saltou aos olhos, e o espetáculo acabou se transformando numa perplexidade com essa brutalidade. Não é possível achar que tudo isso que acontece todo dia é normal, o nível de corrupção policial, a impunidade."
Para o autor, é preciso que o público olhe para o país e interprete o que vê, assim como a plateia de "Adeus à Carne". "O Brasil precisa se reinterpretar: a gente precisa olhar e dizer novamente o que ele é ou o que queremos que ele seja."
ADEUS À CARNE
QUANDO de qui. a dom., às 19h; até 15/4
ONDE teatro Sesc Ginástico (av. Graça Aranha, 187, centro, Rio, tel. 0/xx/21/2279-4027)
QUANTO de R$ 5 a R$ 20
CLASSIFICAÇÃO 16 anos
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