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16/03/2012 - 14h37

Trupe Chá de Boldo fala sobre canções do disco "Nave Manha"

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MARCUS PRETO
DE SÃO PAULO

Com show nesta sexta (16), no Sesc Vila Mariana, em São Paulo, a Trupe Chá de Boldo lança o segundo álbum, "Nave Manha" --o primeiro, "Bárbaro", é de 2010.

Produzido por Gustavo Ruiz (que também cuidou do primeiro disco de Tulipa, "Efêmera"), o novo disco promove um diálogo entre esta geração e a música experimental feita em São Paulo nos anos 1970 --por Tom Zé-- e nos 1980 --pela vanguarda paulistana de Itamar Assumpção e do grupo Rumo.

A "Folha" conversou com Gustavo Galo, 26, vocalista e principal compositor da banda, sobre as canções do disco, o mercado, a nova cena nacional, o passado e o futuro da música.

*

Folha - É evidente a influência da vanguarda paulistana na música que você faz. Sua fonte é a vanguarda pura e direta (Rumo, Itamar Assumpção, Arrigo Barnabé etc.) ou você já absorveu essa informação processada por artistas posteriores (Alzira E, DonaZica...)?
Gustavo Galo - Existe mesmo a influência do que ficou conhecido como vanguarda paulistana nas canções da Trupe Chá de Boldo. E são várias as razões. Ouvi Rumo, por exemplo, desde muito pequeno. Comecei a compor depois do impacto de ouvir o [álbum] "Pretobrás" (1998), do Itamar, e ler "La Vie en Close", do poeta Paulo Leminski. Isso tudo foi a abertura de um mundo novo.

Para além disso tudo, começamos a banda na sala do Geraldo Leite --aquele mesmo do "Carnaval do Geraldo"-- em meio a sua incrível coleção de discos. Metade dos músicos da Trupe tiveram aulas com o Akira e o Pedro Mourão (Rumo). Então, existe uma relação próxima com isso tudo.

A Alzira nós conhecemos depois. Foi o [músico] Peri Pane quem nos apresentou essa mulher incrível. Considero a Alzira uma jóia rara. Aprendo muito conversando e ouvindo ela tocar violão. E aquele disco dela com Alice Ruiz ["Paralelas", de 2005] é uma referência vital. Os dois últimos, em parceria com o poeta arrudA, estão entre os melhores trabalhos dos últimos anos.

O que nos interessa nisso que ficou conhecido como vanguarda paulistana é a independência aliada a invenção. Hoje, ser músico independente é quase uma regra. Mas não basta ser independente. Temos também de experimentar música com liberdade.

Esse é um dilema no mundo em que a independência é a regra: como experimentar e, ao mesmo tempo, não estar de costas para o público? Qual é essa medida --se é que ela existe?
Fico pensando que ganhamos certa liberdade em relação a isso. Hoje, não precisamos tocar para milhares de pessoas para enfim viver de música. Não acho que isso é virar as costas para o público. Pelo contrário. Podemos tocar mais vezes mas para um número menor de espectadores, batalhar por uma relação mais próxima.

Desejamos também tocar para milhares de pessoas. Deve ser uma experiência incrível. Na época do "Bárbaro" [primeiro CD da Trupe Chá de Boldo, de 2010] a gente brincava seriamente que gostaria de tocar no Mangueirão --estádio do Payssandu-- em Belém do Pará. Mas isso não é o objetivo principal. O vital é poder tocar frequentemente em todos os cantos do país, circular, trocar referências, sons.

Quando se fala de uma "nova geração da música brasileira", ainda se pensa em Céu, em Marcelo Jeneci, em Mallu Magalhães, em Mariana Aydar, no Cérebro Eletrônico, em Romulo Fróes. Mas esses todos, uns mais outros menos, já são veteranos se comparados a você e sua Trupe. Já há alguma diferença geracional entre vocês e os anteriores?
Tem muita gente nova aparecendo nesses últimos anos. Há uma produção que é contemporânea a esses nomes, mas que é um pouco mais recente, ainda está em formação. Se pensarmos na estrada, na experiência, a Trupe é um pouco mais nova que o Cérebro Eletrônico, por exemplo. Mas, quando tocamos juntos ou sentamos para conversar sobre nossos desejos, há muita coisa parecida.

Antes de gravarmos nosso "Nave Manha", ouvimos o disco da Mariana Aydar ["Cavaleiro Selvagem Aqui te Sigo", de 2011]. Foi importante ouvi-la antes de iniciar nosso trabalho. Apesar disso tudo, considero que podemos trocar muito com todos os nomes que você citou. Gostaria que eles ouvissem "Nave Manha".

Por que ouvir o disco da Mariana interessou ao "Nave Manha"? É uma questão de repertório, de arranjo, de produção, do quê?
Nós gravamos nosso disco no mesmo estúdio que a Mariana gravou, o Na Cena. Ficamos interessados em conferir o resultado do som que ela e a banda tiraram naquela sala imensa. Gostei muito da versão de "Galope Rasante". Acho que só ela conseguiria fazer aquilo: deslocar uma canção do Zé Ramalho que muita gente conhece com certo registro e torná-la diferente. E tem uma canção no disco que é uma das coisas mais bonitas que ouvi recentemente. A canção se chama "Porto" [de Romulo Fróes e Nuno Ramos]. É uma canção linda de arrepiar.

Vanguarda paulistana é uma estética naturalmente ligada aos anos 1980. Qual sua relação com a música feita uma década depois, nos anos 1990, por gente como Lenine, Pedro Luís, Chico César, Cássia Eller, Marisa Monte, Zélia Duncan, Adriana Calcanhotto, Chico Science? (Pergunto porque há uma geração, novíssima como a sua, que já bebe diretamente nessa fonte. Falo de Dani Black, de 5 a Seco, de Maria Gadú.)
A relação com tudo isso é muito viva. O disco do Pedro Luís e a Parede com o Ney Matogrosso, "Vagabundo" (2004), mexeu muito com a Trupe. É um disco quente. Pra mim, como compositor, o Lenine também pode ser uma referência. "Olho de Peixe" (1994), "O Dia em que Faremos Contato" (1997), aquelas parcerias dele com Braulio Tavares, Lula Queiroga. Particularmente, também me interesso bastante pelo trabalho da Adriana Calcanhotto. Ela escolhe precisamente o repertório, reúne poetas como Waly Salomão, Torquato Neto, Arnaldo Antunes, Augusto de Campos.

Sobre a Cassia, poderia dizer que eu queria mesmo era ser a Cassia Eller. Eu e o Péricles Cavalcanti! Mas, voltando a pergunta. Fico pensando que somos afetados mesmo é pela música dos 2000. A Trupe se transformou rapidamente depois do contato com Tatá Aeroplano, depois de ouvir alguns discos recentes como o da Andreia Dias, Céu. O que tem nos interessado sobremaneira é a música de hoje.

O que aprendeu nesses discos tão novos que já não estivesse nos anteriores, nos clássicos? Quais as novidades de Andreia Dias, Tatá Aeroplano e Céu em relação a tudo o que já foi feito na música brasileira?
Cada um a seu modo instigou a Trupe a pesquisar mais intensamente para dar forma ao nosso som. A Andreia Dias com aquelas canções diretas, fortes mas cheias de mandingas. A Céu com seu modo de compor --adoro "Falta de Ar", do disco novo--, cantar e com discos muito bem alinhavados. E o Tatá Aeroplano por ser um alquimista da canção e conseguir misturar o inusitado, deus e o diabo no liquidificador.

Bob Wolfenson/Divulgação
A banda paulistana Trupe Chá de Boldo, que lança seu segundo disco, "Nave Manha", nesta sexta-feira (16) no Sesc Vila Mariana.
A banda paulistana Trupe Chá de Boldo, que lança seu segundo disco, "Nave Manha", nesta sexta

Vejo um cuidado especial na construção das suas letras. Elas não me soam nunca viscerais (como as de Cazuza ou Renato Russo, por exemplo), mas cerebrais (como as de Arnaldo Antunes). Isso tem a ver com o tempo em que vivemos? Ou é característica especificamente sua?
Ouvi muito Cazuza na vida. Arnaldo Antunes também. Não considero o que escrevo cerebral. Todas as canções de "Nave Manha" que eu compus têm relação com experiências. Elas irrompem de uma vivência. "Belem Berlin", por exemplo, fiz para uma amiga que estava de partida para Alemanha; "Verão" foi motivada por uma mudança de casa.

Havia decidido morar com outros quatro amigos (dois deles integrantes da banda) e muitas pessoas me felicitavam, pois pensavam que eu estava me mudando para casar. Eu achava engraçado isso tudo, como se o curso natural da vida fosse esse, isto é, um rapaz que muda e possui uma paixão provavelmente vai casar. E esse nunca foi o meu ânimo.

Enfim, componho sobre o que me afeta intensamente. Talvez elas, as canções, pareçam cerebrais pela lida que empreendo com a palavra. Mas não é cerebral, pelo contrário. Acho que ouvi mais Cazuza do que Arnaldo. Minha mãe faz questão de contar que na hora que eu nasci, na sala do parto, tocava Barão Vermelho. Nasci ouvindo o cara. Me interesso muito pela atitude do Cazuza, pela sensualidade, pela coragem de tentar convencer uma banda de rock nos anos 1980 a tocar um lindo samba do Cartola.

Ao mesmo tempo, comecei a fazer canções por meio da leitura de alguns poetas. De Paulo Leminski, Alice Ruiz, Waly Salomão, Chacal e também do Arnaldo Antunes. O Arnaldo me estimulou, pois ele é poeta e cancionista simultaneamente. Ele trabalha sobre a palavra, desmonta, abre e esgota as múltiplas possibilidades. O Arnaldo articula muito bem as atividades como poeta e cancionista, passa de uma a outra, transita.

É sempre assim. Arnaldo Antunes também não concorda que a música dele seja cerebral. Já Nando Reis, a outra metade da mesma moeda, afirma que as canções que faz, por mais que soem viscerais, passaram todas por longo processo de lapidação. De onde será que vêm essas sensações de quem ouve as canções (do tipo "Arnaldo é cerebral", "Nando é visceral") se não da maneira como elas foram feitas?
Acho que as pessoas chamam o Arnaldo Antunes de cerebral por conta das surpresas que ele oferece. Mas as surpresas na língua não são obra de pessoas cerebrais. Aquele livro que ele organizou com poemas do filho dele quando tinha três ou quatro anos é incrível por conta disso. As crianças fazem coisas surpreendentes com as palavras. Pra mim, o Arnaldo lançou mão de experiências pouco usuais na invenção das suas canções. Ele passeou por espaços que não são aqueles tão comuns e reiterados pelas canções que a gente ouve quase o dia inteiro no rádio, na televisão, por aí. Mas não o considero cerebral. Acho que é difícil fazer canções sendo uma pessoa "cerebral". Gosto muito daquela em que ele canta berrando: "Tire a mão da consciência e meta/ No cabaço da cabeça". O Arnaldo, pra mim, foi esse cara que mostrou que a cabeça tem cabaço, que introduziu corpo e consistência onde antes só havia abstração.

"Apagaram-se as lâmpadas da Estação da Luz" é muito Tom Zé, que é citado em uma das letras. Mais vanguarda como referência.
Tom Zé também é parceiro do futuro, né?

Como é lidar com esse passado e, apesar dele, imaginar possibilidades para um futuro também rico? Esse, creio eu, é o grande dilema dos nossos tempos. O que farei eu depois que tudo já foi feito? O que move sua música? O que move a música dessa geração?
Sempre há muito o que fazer. Quando ouvi aquelas microcanções do [compositor paulista] Kiko Dinucci, fiquei muito instigado. São canções do nosso tempo. Assisti a um show da [percussionista, cantora e compositora] Simone Sou com o [percussionista Guilherme] Kastrup que também me fez olhar adiante. Ainda há muita praia. O disco da Gal [Costa, "Recanto", de 2012], por exemplo. Acho que o que move a minha canção é o prazer de compor, de tocar e cantar minhas coisas. É um prazer muito intenso. Quanto à minha geração, não sei o que a move. Assim como nos anos 1960, o que move a música são mil razões. Li recentemente o livro do Toninho Vaz sobre o Solar da Fossa ["Solar da Fossa", 2011]. Caetano Veloso morou no Solar. Quando ele tocou "Paisagem Útil" para o Paulinho da Viola e outros músicos que também moravam lá, a reação foi de surpresa. Ali no Solar e hoje em qualquer canto, no Baixo Augusta, na Lapa do Rio, em Belém do Pará, soam muitas vozes. Não sei se é possível tornar comum essa multiplicidade que está presente na música que é produzida hoje.

Talvez. Mas ali, no Solar, havia um inimigo em comum --a ditadura. Hoje, esse elemento odiado por todos não existe mais. Compor assim é mais difícil ou mais fácil?
Acho que a ditadura foi terrível para os cancionistas. Ressaltam com frequência a habilidade dos compositores brasileiros no drible a censura. Mas a ditadura prendeu Caetano e Gil, inviabilizou a produção de um dos grandes poetas letristas, Torquato Neto --que se matou em pleno governo Médici, em 1972--, arruinou a existência por longo tempo de Rogério Duarte [artista gráfico], fez mal a [Jards] Macalé, entre outros. Alguns não conseguiram a finta. Li uma entrevista do Chico Buarque, publicada na [revista] "Bondinho", em que ele diz que nessa época quase desistiu de compor. Ainda bem que ele não desistiu! Fazer canções nessa época deve ter sido uma barra muito pesada. E quem fez e se arriscou foi muito guerreiro. Nasci no meio dos anos 1980. Aprendi desde muito cedo, em casa, conversando com as pessoas que viveram intensamente esse momento, a valorizar as experiências em liberdade. Hoje, vivemos um momento muito diferente. Mas ainda temos que responder a um tanto de coisas insuportáveis. Assim como nos deparamos com acontecimentos de extraordinária beleza. E cabe sempre aos cancionistas ouvidos e olhos atentos.

Gêneros ainda interessam? O samba ainda interessa? O rap ainda interessa? O rock ainda interessa?
Acho que os gêneros caem bem pra quem reivindica identidade, pra quem quer as fronteiras bem delimitadas. No caso da Trupe Chá de Boldo, o que interessa mais é o embaralhamento, a mistura dos sons. Quando não respondemos a pergunta sobre o que a Trupe toca não é só uma questão de não saber a resposta, mas principalmente de não querer a resposta. O que interessa é a mistura que arruíne os gêneros. Isso não significa tornar-se eclético. Não gosto dessa palavra. O eclético ainda situa-se na confortável divisão entre os gêneros. Numa das canções do disco, parceria minha e da Ciça [Góes, vocalista da Trupe] com o Peri Pane, a gente canta no refrão: "Pouco importa o nome aos bois (a dois)/ O som é só uma onda/ Curta".

E o sucesso? Estou falando de sucesso mesmo, como o que só a indústria conseguia produzir --e, hoje, nem ela. É importante que ele exista, que puxe a geração para o meio da roda? Vai existir história --e ela vai seguir importante-- sem repercussão maciça?
O sucesso é importante para abrir os ouvidos das pessoas para a música que produzimos. O efeito da repercussão do trabalho da Tulipa, por exemplo, abriu indiretamente caminhos para a Trupe. Mas acho que não vivemos mais um tempo em que o sucesso é transformar-se numa voz requisitada pelos programas de auditório de domingo, trilha de novela, essas coisas. O sucesso hoje não é o objetivo e quando acontece ele é menor. E isso é uma conquista também! Sucesso é poder tocar no país inteiro e viver de música. O disco da Tulipa marcou a história da música recente. O do Criolo, também. Só fico pensando que a produção é tamanha em nossos dias que muita coisa tem escapado dessa história. Precisamos ter cuidado de ouvir com muita atenção também aquilo que escapa dessa história.

Nesse novo formato que você aponta, fica quase impossível imaginar um apanhado de canções que fique, para sempre, no inconsciente nacional. Que tenhamos, de novo, algo tão unificador do Brasil como "Carinhoso" (Pixinguinha), "Detalhes" (Roberto e Erasmo) ou "Mania de Você" (Rita Lee). É isso?
É mais difícil mesmo. Mas não é impossível. Até porque algumas canções têm uma força imensa. Hoje, é tudo muito disperso. A banda de agora não é a de amanhã e ponto. Talvez eu seja otimista, mas sonho em ouvir milhares de pessoas cantando "Cama", do Cérebro Eletrônico. Embora um hit do underground, ela tem esse poder das grandes canções que você citou.

Se a vida já é complicada hoje para uma cantora solitária, imagino o que não será para uma banda com tantos integrantes. Há quem diga que a instituição banda está em decadência, que o artista tende a se individualizar quando amadurece. Sei que é muito cedo pra você pensar no assunto, mas duvido que você nunca tenha pensado.
As bandas não estão em decadência. Temos Cidadão Instigado, Bixiga 70, Do Amor, Odegrau, Loungetude 46, Solana. Mas, ao mesmo tempo que é um prazer indescritível trabalhar coletivamente, é cada vez mais difícil sobreviver desse modo. Quem tem banda é forçado a tocar em várias, desenvolver trabalhos paralelos. Muitos integrantes da banda têm outros projetos --e não só para sobreviver, mas também para se alimentar de outras linguagem, estéticas. Parte da banda trabalha com teatro, por exemplo. Hoje, tenho dois projetos para além da Trupe Chá de Boldo. Faço parte da Doideca --grupo que pesquisa as canções do Itamar Assumpção e do Luiz Tatit-- e tenho outro trabalho cantando Torquato Neto. Não gosto de ficar sozinho. Na época do "Bárbaro", a Ciça e eu brincávamos que "tudo que é solo desmancha no ar". E a gente quer mesmo é voar.

Itamar, Tatit, Torquato... São caras que fizeram (o Tatit ainda faz) "a história que escapa". Foi necessário tempo para que o lugar deles na história, digamos, "oficial". O fato de você se debruçar sobre eles quer dizer alguma coisa sobre sua personalidade, não quer? Já pensou nisso?
O Torquato me interessou muito por ser um poeta-letrista. Mas o Torquato não lançou nenhum livro em vida. Ela era um poeta na canção, na coluna dele no jornal, como Nosferatu no filme do Ivan Cardoso, nas cartas, no dia-a-dia. O Itamar me despertou para procurar um modo meu de fazer canções. Quando ouvi o "Pretobrás", nem sei explicar o porquê, comecei a usar o violão, sobretudo, para cantar coisas minhas. E o Tatit com aquelas canções sobre as canções, uma mais apurada que a outra, me deixa cada vez animado. Gosto muito de cantar Torquato, Itamar e Tatit. Gosto de montar o repertório dos shows, arranjar as canções, me debruçar sobre as letras. Nesses instantes nem lembro da Trupe Chá de Boldo. É incrível.

Qual é a parte mais difícil? Lugar pra tocar? Grana pra gravar? Gente pra ver?
O mais difícil é a grana pra gravar. Gravamos nossos dois discos sem edital, sem selo, sem gravadora. Bancamos tudo com dinheiro de shows e colaborações dos amigos. Também é difícil tocar fora do estado de São Paulo. Alguns produtores ligam interessados, mas é preciso certo investimento para contratar uma banda com 13 integrantes. Mas a Trupe sempre dá um jeito. Esse ano a gente vai pra estrada, pra todos os cantos, com a cara e a coragem.

E, nesse caso, são os trabalhos paralelos de cada integrante que assumem os riscos?
A gente conversa muito sobre isso. Cada integrante tem seus projetos. E são esses projetos, na maioria, que pagam as contas. Com a "Nave Manha" já apareceram convites pra gente tocar fora do estado de São Paulo. No final desse mês vamos a Vitória. A "Nave Manha" está exigindo uma presença maior de cada integrante. Mas isso não vai colocar em risco esses outros trabalhos, pois pra gente é bom que cada um viva outras experiências. Numa banda de 13 é bom que o ar circule, que alguém apresente novidades. É bom que aconteça desse modo senão cansa, vira uma relação morna.

Quais são os maiores equívocos que a imprensa em geral comete em relação aos artistas da sua geração?
Esses dias, li uma entrevista antiga do escritor argentino Julio Cortázar na qual ele afirmava que certos críticos olhavam pra trás enquanto os literatos miravam adiante. Hoje, em relação à música, não sinto esse descompasso. Tenho a sensação de que muitos jornalistas que cobrem a área musical acompanham os shows. O mundo mudou não somente para os músicos. Em nossa época, com tecnologia cada vez mais acessível para a gravação de bons discos em estúdio, é preciso também conferir os shows, sentir o calor ao vivo para escrever sobre certos trabalhos. Tenho gostado do que se escreve sobre música. O que ainda acontece com a Trupe muitas vezes é a atribuição taxativa de nosso estilo, como se não estivéssemos em movimento constante. Ainda hoje abro o computador ou algum jornal e leio que somos uma banda carnavalesca. De fato, somos uma banda carnavalesca. Mas só durante a folia --e na companhia de Mister Tatá Aeroplano e Tulipa Ruiz.

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