Publicidade
Publicidade
Atriz comove em peça sobre catadora de lixo com distúrbio psíquico
Publicidade
GUSTAVO FIORATTI
ENVIADO ESPECIAL A CURITIBA
Presos em coque, os fios de cabelo vão se soltando. Ficam rebeldes. O tronco se encurva. O olhar perde foco.
Inicia-se assim a caracterização da protagonista de "Estamira - Beira do Mundo", que a atriz carioca Dani Barros levou nesta semana à arena do teatro Paiol, durante a o Festival de Curitiba.
Após o espetáculo, Barros quis, como de hábito, fazer um breve discurso, mas teve dificuldade para interromper os demorados aplausos. A plateia se impressionou com o trabalho, que rendeu a ela um prêmio Shell-Rio neste ano --e olha que Vera Holtz concorria também...
O discurso foi rápido. Ela agradeceu amigos, falou um pouco sobre sua mãe.
O trabalho expurga um passado difícil. Dani Barros foi filha de uma mulher que, assim como Estamira --a catadora de um lixão do Jardim Gramacho (Rio) já retratada em documentário homônimo de Marcos Prado--, teve problemas psiquiátricos.
O filme deu base ao espetáculo. "Não sei mais dizer quantas vezes eu assisti. Foram muitas. Eu via trechos, assistia ao filme inteiro depois", conta.
A atriz relata parte de um processo de quase um ano ao lado da diretora do espetáculo, Beatriz Sayad, calcado principalmente na mimese. "Sou boa de imitar", sintetiza Barros.
Lenise Pinheiro/Folhapress | ||
Dani Barros no drama 'Estamira', em cartaz no Festival de Curitiba |
O 'ALÉM DOS ALÉM'
De fato. Cercada por sacos plásticos, a atriz, que iniciou a carreira como palhaça, resgata trejeitos, vozes, olhares e gestos que marcam o filme.
Reproduz ainda frases inteiras ditas por Estamira. Crava, por exemplo, que existe "o eterno, o infinito, o além e o além dos além".
E é particularmente o "além dos além" que Estamira parece vasculhar.
Se ela é uma profetisa? Essa é questão que fica em aberto. Mas, enquanto luta para manter sua lucidez, a personagem propõe questões éticas de certa complexidade. Fala sobre ter a verdade como princípio, sobre a ciência e aquilo que teses e fórmulas não alcançam.
Por fim, aborrece-se com as doses de remédio que a levam a momentos de angústia, em que sua cabeça "ferve como um Sonrisal".
A atriz conheceu Estamira pouco antes de ela morrer, em julho do ano passado, aos 70 anos. Durante uma visita a sua casa, conseguiu manter um diálogo breve.
"Ela tinha o olhar desfocado e, de repente, aquele olhar focava em você", descreve a atriz. "Num desses momentos, ela me disse: 'Você é de maio'. De fato, eu nasci em maio", conta Barros.
Essa última história também está na peça, que chega a São Paulo em breve. O espetáculo está na programação de junho e de julho do Sesc Pompeia.
O jornalista GUSTAVO FIORATTI viajou a convite do Festival de Curitiba
+ NOTÍCIAS EM ILUSTRADA
+ Livraria
- Box de DVD reúne dupla de clássicos de Andrei Tarkóvski
- Como atingir alta performance por meio da autorresponsabilidade
- 'Fluxos em Cadeia' analisa funcionamento e cotidiano do sistema penitenciário
- Livro analisa comunicações políticas entre Portugal, Brasil e Angola
- Livro traz mais de cem receitas de saladas que promovem saciedade
Publicidade
As Últimas que Você não Leu
Publicidade
+ LidasÍndice
- Alice Braga produzirá nova série brasileira original da Netflix
- Sem renovar contrato, Fox retira canais da operadora Sky
- Filósofo e crítico literário Tzvetan Todorov morre, aos 77, em Paris
- Quadrinhos
- 'A Richard's estava perdendo sua cara', diz Ricardo Ferreira, de volta à marca
+ Comentadas
- Além de Gaga, Rock in Rio confirma Ivete, Fergie e 5 Seconds of Summer
- Retrospectiva celebra os cem anos da mostra mais radical de Anita Malfatti
+ EnviadasÍndice