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Dinamarca colhe safra de espetáculos para crianças e jovens
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ALEXANDRA MORAES
ENVIADA ESPECIAL A AARHUS (DINAMARCA)
Numa sala com uma tenda ao centro, o público atravessa fumaça e escuridão para se recostar em redes presas a estruturas de madeira.
É como se fosse um berço --e a protagonista, uma senhora alta de cabelos brancos arrepiados, informa que é por aí mesmo, pois ela vai contar uma história de ninar.
É "A True Tall Tale" (um conto da carochinha de verdade), uma das principais atrações da terceira edição do festival Danish+, na cidade dinamarquesa de Aarhus, a 156 km de Copenhague.
Com peças para o público infantojuvenil, o encontro reuniu de 6 a 9 de maio parte da melhor produção teatral contemporânea da terra de Hans Christian Andersen e do Lego --e integra uma série de festivais organizados no país, com apoio do governo, para promover o teatro infantojuvenil.
"O teatro é um espaço em que as crianças podem levantar questões, questões complicadas", diz o ministro da Cultura dinamarquês, Uffe Elbaek. Para ele, a fartura na produção teatral profissional para crianças e jovens também contribui para o desenvolvimento do pensamento crítico, "num período da civilização em que temos de aprender a conviver de outras maneiras".
"A alegria e os benefícios do teatro são bem maiores que os de comprar um iPod ou uma TV de tela plana", diz, já em trajes civis, a protagonista de cabelos espetados e diretora da companhia Gruppe 38 e do Danish+, Bodil Alling. Sobre os espetáculos do festival, e falando a uma plateia de produtores culturais de várias partes do mundo, incluindo o Brasil, ela é enfática: "Espero que vocês comprem as peças".
Teatro dinarmaquês para crianças
VEDETE
O Gruppe 38 é responsável pela organização do festival de Aarhus. Mas também é a grande vedete da mostra. Além de impressionar o público com a performance no berço, chega a pôr em cena uma galinha (cuja expressão no palco supera a de muitos atores famosos) e faz parecer necessárias e bem colocadas todas as suas excentricidades.
Na programação do evento, apresentado em inglês e voltado mais à exportação de peças que à mera apreciação artística, há desde teatro para bebês ("Again", de novo, em inglês, do Aaben Dans) até o monólogo de uma junkie sem rumo na vida ("I'm Alive", estou viva, do grupo Realproduktion).
Enquanto espetáculos para adolescentes e pré-adolescentes recorrem a artifícios tecnológicos e de interatividade, os infantis se dão melhor ao explorar engenhocas e o velho humor físico à moda dos palhaços --"Stone Dead", do grupo Teatret, é quase um "Esperando Godot", só que sem nenhuma palavra.
Parte da programação encontra interseção também com dois outros festivais: o para Jovens e Crianças, que ocorreu no fim de abril, e o ZeBU, que vai até 16 de maio em Copenhague.
"As crianças têm o direito de ser apresentadas à arte, não só a manifestações com motivos educacionais", diz Henrik Koehler, do Teatercentrum, entidade subsidiada pelo governo dinamarquês que coordena o festival para Jovens e Crianças. "Vemos as crianças como quem elas são, e não como o que podem se tornar."
A jornalista viajou a convite do Instituto Cultural da Dinamarca.
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