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Peças "Estamira" e "Aberdeen" iluminam símbolos da transgressão
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GABRIELA MELLÃO
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA
Estreiam em São Paulo dois solos biográficos com depoimentos pessoais. "Estamira", de Beatriz Sayad e Dani Barros, contempla Estamira, a catadora de lixo dotada de retórica messiânica revelada por Marcos Prado em documentário de 2005. Entra em cartaz nesta sexta-feira (29).
Já "Aberdeen - Um Possível Kurt Cobain", escrito por Sérgio Roveri, estreia no dia 7 com memórias do líder da banda Nirvana, que cometeu suicídio em 1994.
Em ambos, testemunhos de vida dos artistas em cena infiltram-se no relato das jornadas dos personagens. "Estamira é uma espécie de Mulher Maravilha de verdade. Por meio dela falo o que estava engasgado em mim havia tempos", diz Dani Barros.
Para a intérprete, vencedora do Prêmio Shell carioca de atriz, levar Estamira ao teatro significa não só dar voz a uma personalidade avessa aos padrões de normalidade que ditam o comportamento social mas também entrar em contato com sua própria história.
Sua mãe tinha depressão e amargou a mesma falta de escuta por parte dos médicos que Estamira enfrenta.
O olhar crítico ao sistema público de saúde sempre existiu no trabalho de Barros e Sayad. Ambas foram do Doutores de Alegria (clowns que percorrem hospitais visitando crianças internadas).
O discurso filosófico da catadora surge como estopim da dramaturgia de "Estamira", que toma emprestadas percepções singulares de mundo do dramaturgo e diretor francês Antonin Artaud (1896-1948) e do poeta brasileiro Manoel de Barros.
Lenise Pinheiro/Folhapress | ||
Ator Nicolas Trevijano durante ensaio de "Aberdeen - Um Possível Kurt Cobain" |
TODOS SOMOS COBAIN
Em "Aberdeen", o ator Nicolas Trevijano também se serve da trajetória de permanente insatisfação de Kurt Cobain para falar sobre uma crise pessoal.
"A crise de 27 anos de Kurt Cobain é a mesma crise de 40 anos do Nicolas e de toda a humanidade", diz José Roberto Jardim, que se aventura pela primeira vez na direção. "Usamos Cobain como porta-voz das angústias do homem de hoje, inquietações que são também nossas", corrobora o dramaturgo Roveri.
"Aberdeen" compõe uma biografia não convencional. O personagem se revela num tempo suspenso: após o suicídio e antes de seu corpo ser encontrado.
O texto descortina a personalidade frágil do líder do Nirvana, mas é sobretudo a síntese poética do vazio do homem contemporâneo.
ESTAMIRA
QUANDO: sex. e sáb., às 21h, e dom. às 19h; de 29/6 a 29/7
ONDE: Sesc Pompeia (r. Clélia, 93, tel. 0/xx/11/3871-7700)
QUANTO: de R$ 6 a R$ 24
CLASSIFICAÇÃO: 14 anos
ABERDEEN - UM POSSÍVEL KURT COBAIN
QUANDO: sáb., às 21h, e dom., às 20h; de 7/7 a 29/7
ONDE: galeria Olido (av. São João, 473, tel. 0/xx/11/3331-8399)
QUANTO: gratuito
CLASSIFICAÇÃO: 16 anos
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