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29/06/2012 - 05h50

Crítica: Sokurov encerra tetralogia sobre a decadência do poder

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ALCINO LEITE NETO
ARTICULISTA DA FOLHA

Um Himalaia separa o diretor russo Aleksandr Sokurov de seu confrade norte-americano Tim Burton.

Editoria de Arte/Folhapress

Mas, como os caminhos do cinema são imprevisíveis, há três laços unindo os novos filmes de um e de outro --"Sombras da Noite", de Burton, em cartaz em São Paulo, e "Fausto", de Sokurov, que estreia hoje na cidade.

Os primeiros laços são o francês Bruno Delbonnel, que assina a excepcional fotografia dos dois longas, e o australiano Peter Doyle, que trabalhou em "Matrix" e "Senhor dos Anéis" e é responsável pela colorização digital de ambos.

A colorização digital, no caso, não é um detalhe. Em "Fausto", ela é responsável pelo assombroso tratamento pictórico do filme, cujas formas e cores remetem tanto a Brueghel e El Greco quanto a Gerhard Richter.

Além disso, a pós-produção do filme russo foi feita nos avançados estúdios Technicolor Pinewood, no Reino Unido, com os mesmos equipamentos utilizados em "Sombras da Noite".

De modo que, por trás do virtuosismo estético de Sokurov, há muita tecnologia, além de dois profissionais de ponta do cinema.

Nos cálculos de Sokurov, "Fausto" (vencedor do Leão de Ouro no Festival de Veneza do ano passado) encerra a tetralogia formada por "Moloch" (1999), sobre Hitler, "Taurus" (2001), sobre Lênin, e "O Sol" (2005), sobre Hirohito.

Mas que coisa une esses personagens, já que Lênin morreu em 1924, antes do início da Segunda Guerra, evento do qual Hitler e Hirohito foram protagonistas? As explicações de Sokurov são sempre lacunares e ele não está certamente interessado na objetividade histórica.

Pode-se dizer que, na imaginação poética do diretor, todos estes personagens têm, como Fausto, o status de mitos. São figuras emblemáticas --cada uma com sua particularidade e em seu lócus (a Alemanha, a URSS, o Japão)-- de um desejo desmesurado de poder.

Na aurora da Renascença, Fausto se ergueria como a figura primordial de certa genealogia do homem moderno e deste "mal" que o atormenta: a ambição de controlar a natureza e a história.

Sokurov, entretanto, não está interessado em filmar a vontade de poder, mas a ruína da potência: a tetralogia foca seu olhar na derrocada, na doença, na impotência física, intelectual e política, no momento em que o mito se degenera em grotesco e os personagens confrontam a face indiferente da morte.

FAUSTO
DIREÇÃO Alexandr Sokurov
PRODUÇÃO Rússia, 2011
ONDE Espaço Itaú de Cinema - Frei Caneca e Reserva Cultural
CLASSIFICAÇÃO 14 anos
AVALIAÇÃO ótimo

 

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