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Literatura é uma forma de comunicação com os mortos, dizem Vila-Matas e Zambra
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RODRIGO LEVINO
ENVIADO ESPECIAL A PARATY (RJ)
Na segunda mesa de debates da Flip, na tarde desta quinta-feira (5), os escritores Enrique Vila-Matas (Espanha) e Alejandro Zambra (Chile) focaram as discussões em torno do papel da metaliteratura em suas obras, mediados pelo jornalista e escritor Paulo Roberto Pires.
O chileno Zambra arrancou sorrisos da plateia ao, no começo da conferência, ler um trecho do seu romance "Bonsai" em português. Segundo ele, uma língua que desconhece completamente. Deu certo por algumas frases.
Conhecidos por tratarem em seus romances de referências literárias, verdadeiras e inventadas, os dois esmiuçaram para o público a criação de seus livros recentemente lançados no Brasil. No caso do espanhol Vila-Matas, a obra é "Ar de Dylan".
"Eu recebi um convite para participar de um congresso sobre fracasso, na Suíça. Algo que escondi até dos meus amigos, que certamente iriam sentir pena de mim", contou Vila-Matas.
A partir daí --ele não pôde ir ao congresso-- nasceu a ideia da narrativa, cuja protagonista inicia a trajetória proferindo uma conferência num congresso a respeito do fracasso.
"Bonsai", de Zambra, por sua vez, surgiu como a ideia de um livro-objeto. "Intentei criar um livro que desde o título pudesse ser visto como um objeto. Algo cultivável", contou o chileno, que classificou a própria obra como um clichê, "como é toda história de amor".
A respeito de tantas referências a autores e narrativas que os dois usam em seus livros, para construir novas histórias, Vila-Matas disse que é uma forma de preservar a memória cultural de seu tempo.
"Não há nada nem nenhuma paisagem que já não tenha sido descrita", disse o catalão, declarando também que, como autor, não deve ter a ilusão de estar escrevendo algo inédito nunca.
Para Zambra, tratar de outros livros e autores em seus escritos é uma espécie de comunicação com os mortos, além de se inserir em uma espécie de comunidade literária que precisa ser alimentada, mantida, feita por leitores.
Os dois, que a certa altura passaram a se automediar, em um diálogo ágil e divertido, trataram seus livros como "vaso-comunicantes" em relação aos autores mencionados nos enredos. Seja Kafka, Proust ou Robert Walser.
"Não raro os leitores embaralham tudo isso. Me perguntam se quando escrevo sobre suicídio estou pensando em me matar, se quando escrevo sobre sumir, é nisso que estou pensando. Na verdade, me interesso por essas obsessões", explicou Vila-Matas.
Tanto Zambra quanto Vila-Matas defenderam também a ideia de uma espécie de desordem geracional, que marcaria esta época em que não é tão fácil definir gêneros nem etiquetar autores, independente da idade que tenham.
BOLAÑO
Um dos destaques da mesa foi o autor chileno Roberto Bolaño (1953-2003), de quem Vila-Matas foi amigo. Sobretudo o uso que Bolaño fazia de fatos para criar suas narrativas ficcionais, como fazem os dois debatedores.
Zambra destacou a dificuldade que Bolaño teve de, no início da carreira, firmar-se entre a crítica e os seus pares, sendo reconhecido como grande autor a muito custo, embora sua obra já denunciasse isso desde sua estreia.
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