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06/07/2012 - 19h36

Na Flip, Safatle critica liberalismo e revela já ter votado no PSDB

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FABIO VICTOR
ENVIADO ESPECIAL A PARATY (RJ)

O filósofo é colunista da Folha Vladimir Safatle defendeu nesta sexta-feira (6), durante debate na Casa Folha, em Paraty, a revitalização da ideia do igualitarismo como um dos meios de renovar o pensamento de esquerda.

Acompanhe a cobertura da 10ª Flip
Em Paraty, João Pereira Coutinho rejeita "Estado baby sitter"

Professor do Departamento de Filosofia da USP, Safatle acaba de lançar "A Esquerda que não Teme Dizer Seu Nome", livro em que expõe este e outros princípios e o qual autografou ao final do debate.

O colunista lembrou que as "políticas de diferenças" criadas nos anos 1970 e 1980 em sociedades europeias no contexto do multiculturalismo, para incluir setores da sociedade não contemplados com direitos fundamentais, foram "muito importantes naquele momento", mas a atual despolitização da sociedade cobra a atualização desses princípios.

Adriano Vizoni/Folhapress
Vladimir Safatle na Casa Folha
Vladimir Safatle na Casa Folha

Se o também colunista da Folha João Pereira Coutinho, que falou no mesmo espaço pouco antes de Safatle, defendeu a tolerância como base de uma sociedade liberal, o filósofo apontou a ambiguidade do termo.

"Tolerância tem uma astúcia bastante estranha. Não é por outra razão que, quando você fala "eu tolero", isso está longe de ser uma proposição positiva. Significa 'nós reconhecemos as nossas diferenças, você não faz parte do meu grupo, mas tudo bem, eu te aguento, por alguma outra razão'."

Safatle refutou a ideia de que a esquerda tenha ficado obsoleta após a queda do Muro de Berlim. "Muitas vezes as pessoas se esquecem de que tão velha quanto a experiência comunista é a crítica da esquerda a isso. Posso indicar vários pensadores de esquerda que fizeram autocríticas severas à experiência de esquerda do século 20. Tenho dificuldade de identificar pensadores liberais que tenham feito uma autocrítica, mesmo depois da catástrofe econômica europeia. Ao contrário, quando a crise estourou, a primeira coisa que fizeram foi jogar a batata no colo do outro [países europeus]."

MENSALÃO

Questionado sobre o mensalão, Safatle afirmou que o modelo que gerou o maior escândalo político do governo Lula é "algo que vimos no país desde 86", lembrando que "a matriz do escândalo foi gerida no governo do presidente do partido de oposição", uma referência ao governo de Eduardo Azeredo, ex-dirigente do PSDB e ex-governador de Minas.

Safatle defendeu "reformas políticas e estruturais" como meio de atenuar essa imperfeição. "O Brasil deve ser um dos únicos países do mundo em que, mesmo ganhando a eleição, é impossível para um partido ter maioria no Congresso. Para criar maioria parlamentar, você precisa constituir as alianças mais absurdas possíveis. O preço disso é o imobilismo político."

Ao definir como um "equívoco" a aliança do PT com Maluf em São Paulo, Safatle afirmou que esse tipo de coalizão começou durante o governo de Fernando Henrique Cardoso.

"Meus primeiros votos foram para o PSDB. Só não votei no Fernando Henrique por causa da aliança com o PFL [que virou DEM]".

PLATEIA

Safatle ainda falou sobre a Primavera Árabe, cotas para negros em universidades e outros temas controversos.

Quando o mediador do debate, o editor da "Ilustríssima", Paulo Werneck, anunciou o fim do encontro, um espectador protestou aos gritos pelo fato de o público não ter feito perguntas até ali, sendo apoiado por outros ouvintes. O tempo foi estendido, e a plateia fez perguntas ao filósofo.

O espectador que se queixara questionou Safatle sobre "qual a novidade" de sua fala, ao que ele respondeu, citando Lacan, que "a verdade é sempre nova". "A verdadeira experiência histórica é uma repetição, não uma novidade" e que "mais interessante do que se perguntar o que é novo é se perguntar qual a verdade que se repete nessa ideia". Ele foi aplaudido.

A última pergunta foi sobre a intervenção do Estado sobre práticas culturais, como a circuncisão ritual religiosa. O filósofo respondeu que, neste aspecto, a esquerda podia coincidir com o pensamento liberal. "Existem certas dimensões no interior da vida social para as quais o Estado tem de ter uma completa indiferença."

 

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