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07/07/2012 - 18h40

Família agoniza, mas não morre, diz Zuenir Ventura na Flip

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MARCO RODRIGO ALMEIDA
ENVIADO ESPECIAL A PARATY (RJ)

"Todas as famílias felizes são iguais. As infelizes o são cada uma a sua maneira." Citando o célebre início do romance "Anna Kariênina", do russo Liev Tolstói, o mediador João Cezar de C. Rocha iniciou na tarde de hoje o debate "Em Família" na Flip.

A mesa reuniu a portuguesa Dulce Maria Cardoso e os brasileiros Zuenir Ventura e João Anzanello Carrascoza. De forma mais ou menos acentuada, a noção de família marca as mais recentes obras dos três.

Cardoso lança no Brasil o romance "O Retorno", que retrata os dilemas de uma família que abandona Angola, após da independência do país em 1975, e volta para Lisboa. Ela teve a fala mais contundente da palestra.
"A família é um laboratório da experiência humana. O lugar onde os dramas são experimentados. Não conheço humores e violências mais fortes do que as que acontecem no seio familiar."

A escritora atuou por um tempo como advogada e contou que muitos dos casos mais graves em que trabalhou envolviam parentes.

A portuguesa comentou que as relações familiares evoluíram muito nas últimas décadas, mas que uma crise ainda persiste.

"Temo que a família, com o passar da paixão inicial, se torne apenas uma forma de sexo acessível e gratuito", disse.

"O grande desafio da família não é satisfazer as necessidades que a sociedade pede, que pede demais e depois deixa todos nós frustrados, mas ser um lugar onde o amor acontece e persiste. Deve ser sempre uma casa e não uma prisão."

Já Carrascoza justificou a constância da família em suas contos, como nos livros "Dias Raros" (2004) e "Espinhos e Alfinetes" (2010), por seu gosto de narrar cenas do cotidiano.

"Me interessa tematizar a vida banal, simples. Não existem grandes tramas, mas há sempre um olhar elegíaco sobre a realidade. A vida menor, como diria o Drummond, pode conter 'reservas colossais de poesia'."

Por fim, Zuenir fez o discurso mais divertido. Louvado pelo mediador por ter escrito livros que marcaram gerações ("1968", "A Cidade Partida"), Zuenir brincou antes de começar sua palestra: "Depois disso, o melhor seria ir embora. Vai ser uma decepção."

Ele lança agora o romance "Sagrada Família". A história se passa numa cidade fictícia dos anos 1940 e enfoca as tensões sexuais no interior de uma família.

"Os anos 1940 foram anos ocultos, de recato, muita dissimulação e hipocrisia. O casamento era uma união indissolúvel. O modelo de formação familiar era um muito patriarcal."

"Sagrada Família" é inspirado em memórias da infância do autor, que diz ter tomado cuidado ao retratá-los porque "a realidade às vezes é muito inverossímil".

Um dos casos reais que retratou é o de um marido que devolve a mulher para a sogra, para que ela pudesse ensiná-la o que é o casamento.

Zuenir também tem uma visão mais otimista sobre o tema da palestra.

"Hoje ainda se fala muito na dissolução dos costumes, mas uma pesquisa recente 69% dos entrevistados diziam que o casamento era muito bom. Mais do que sagrada, a família está consagrada. É como aquele samba: agoniza, mas não morre."

 

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