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21/07/2012 - 05h12

Crítica: Gordimer reconta a história da África do Sul em retalhos

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ALEXANDRA MORAES
EDITORA-ADJUNTA DA "ILUSTRADA"

Mais do que se fundir à história recente da África do Sul, a escritora Nadine Gordimer tem sido responsável por remendar, com palavras, retalhos sociais do país desde a segunda metade do século 20.

Os "Tempos de Reflexão" que ela se dispõe a desfiar no volume lançado agora no Brasil exibem a busca por explicações sobre o horror racista experimentado ali e algumas questões emocionais.

Ao longo de 40 textos, ela sublinha que não examina "como americana ou europeia", talvez pelo temor ou pela experiência provável de, branca e anglófona, ser confundida com uma estrangeira em seu próprio continente ou no país que ajudou a refundar. "Uma branca. Uma branca dissidente. Uma escritora branca", "Sul-africana branca anglófona" repete, sempre em tensão.

Ana Ottoni/Folhapress
A escritora Nadine Gordimer em visita a Paraty, em 2007
A escritora Nadine Gordimer em visita a Paraty, em 2007

Entre um ensaio e outro, ela se permite o olhar calmo e curioso de estrangeira sobre o Egito de Nasser, a selva do Congo ou a vida em Botswana. O brasão de armas deste país, avisa, tem a inscrição "Pula" (lusófonos vamos nos deter mais animadamente na questão). O "pula" botsuano quer dizer "chuva": a inscrição do país do deserto do Kalahari traduz de maneira concreta a ideia da esperança que costuma povoar a tradição heráldica. É assim que, ao longo da jornada, ela nos presenteia com pequenos suvenires intelectuais.

Eles se alternam com o peso de sua descrição particular do apartheid, regime de segregação racial que corroeu a África do Sul ao longo da segunda metade do século 20.

Em "Apartheid", dos anos 50, se debruça sobre os modos de responder "o que é" o regime. A resposta vem numa pergunta que não se resumiria à situação sul-africana: "Será que vou esquecer que na infância fui ensinada a jamais usar xícara que nossa criada negra utilizara para beber alguma coisa?".

Ao longo dos anos 70 a questão vai mudando e, em 1985, vira: "Por quanto tempo podemos continuar a nos safar impunes?".

Conhecer as ideias e as terras pela mão de Nadine Gordimer é um bom programa, com direito a sobressaltos diante de algumas palavras de humor amargurado.

Há uma nota triste: a editora interrompe o volume em 1989 --o original vai até 2008. Assim, o livro de ensaios vira uma novela: "Veja no próximo capítulo o que Gordimer escreve após ganhar o Nobel (1991) e sobre eleição de Nelson Mandela (1994)" --o resto só sai no fim do ano.

TEMPOS DE REFLEXÃO
AUTORA: Nadine Gordimer
EDITORA: Globo
TRADUÇÃO: Rosaura Eichenberg
QUANTO: R$ 59,90 (512 págs.)
AVALIAÇÃO: bom

 

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