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31/07/2012 - 04h29

Livro revê trajetória literária de Cristovão Tezza

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JOCA REINERS TERRON
ESPECIAL PARA A FOLHA

Cristovão Tezza anda precisando de repouso. Depois do estardalhaço de "O Filho Eterno" (seu romance publicado em 2007 que arrebatou os principais prêmios do país e se encontra na 12ª edição), não parou mais.

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E as perspectivas não parecem boas: nenhuma pausa para sombra e cerveja gelada no horizonte.

Pelo contrário, o escritor já tem viagens programadas em novembro a Guadalajara e deve visitar Tóquio e Frankfurt em 2013, quando o Brasil será homenageado na feira.

Tezza não descansa --e seu programa de milhagem aérea também não.

De certo modo, "O Espírito da Prosa - Uma Autobiografia Literária" deveria representar esse descanso.

"O tempo é engraçado. O corpo fica mais lento, tudo cria nova intensidade. Quero começar nova fase e senti necessidade de rever o que fiz até agora."

Tezza completa 60 anos em 2012, idade nem tão provecta assim que exija rememorações, porém o texto "não passa de um ensaio, uma reflexão objetiva sobre minha trajetória. Foi construído como uma investigação sem o princípio de organização do mundo proposto por um narrador ficcional".

Relato das origens quase simultâneas do leitor e do escritor nascido em Santa Catarina e radicado em Curitiba ainda criança, após a morte do pai, descreve sua paixão inicial pelo formato do livro e não exatamente por seu conteúdo, ao menos quando fazia cópias datilografadas que vendia na escola.

Contudo, o ambiente curitibano se apresenta nessa história apenas subliminarmente, por meio de poucos personagens. "Curitiba é muito autofágica, aqui o discurso oficial onipresente gera o oposto, que é falar mal", diz.

Sem nunca ter atendido ao amigo Vinholi, livreiro que ordenou que fosse embora logo cedo, Tezza sucumbiu ao isolamento da cidade, terminando por considerá-lo bom para um escritor. "Dalton Trevisan levou a natureza curitibana ao extremo. Não fala com ninguém."

Guilherme Pupo/Folhapress
O escritor Cristovão Tezza em sua casa, em Curitiba
O escritor Cristovão Tezza em sua casa, em Curitiba

"SOPA DE LEGUMES"

O núcleo da juventude de Cristovão Tezza, entretanto, está localizado em Antonina, no litoral paranaense, onde viveu em uma comunidade liderada pelo diretor teatral e escritor W. Rio Apa por 7 anos, até 1975, quando passou um ano em Portugal.

Nessa temporada contracultural, o escritor experimentou peças teatrais, contos e poemas.

Alguns deles, inclusive versos infantis que talvez devessem ser esquecidos, estão reproduzidos em "O Espírito da Prosa", como a peça satírica "Sopa de Legumes".

"Há dez anos, uma tia de Florianópolis me devolveu a carta que eu mandei para ela com os poemas. Hoje ela sofre de Alzheimer."

"Sopa de Legumes", porém, marca, segundo o autor, seu amadurecimento. "Encontro na 'Sopa' hoje, em puro e tosco embrião, o que (imagino) seria a alma de tudo que escrevi na minha vida madura."

No livro, Tezza desfia o seu ideário de escritor. "Um olhar realista (no sentido não necessariamente literário do termo), atento ao instante presente, à observação e à percepção dos outros, mimético na rapidez (e rispidez) dos diálogos e consciente das diferenças de linguagem e pontos de vista; também está ali () alguma discussão indireta, ficcional, de ideias, um certo enfrentamento conceitual, mas sempre blindado pela risada paralisante."

Por fim, pergunto se ele não teme soar autolaudatório com tamanha defesa da própria obra.

Do lado de lá, na extremidade curitibana da linha telefônica, Cristovão Tezza solta uma risada.

"Não sei, pode ser. Sempre existe uma exposição meio ridícula quando falamos de nós mesmos."

JOCA REINERS TERRON é autor do romance "Do Fundo do Poço se vê a Lua", de 2010 (Companhia das Letras)

O ESPÍRITO DA PROSA
AUTOR: Cristovão Tezza
EDITORA: Record
QUANTO: R$ 34,90 (224 págs.)

 

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