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Crítica: Opacidade pontual não diminui força crítica à brejeirice do país
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LUIZ FERNANDO RAMOS
CRÍTICO DA FOLHA
Uma cena que é música. "Adeus à Carne ou Go to Brazil" oferece imagens indefinidas e belas que falam por si, sem precisar de fábula ou de diálogos que as explicitem. O olhar irônico é para o Brasil e sua suposta face brejeira, mas o que deixa entrever são traços sombrios.
O criador, Michel Melamed, deixa de lado o verbo e experimenta com a caixa cênica, compondo, com estranhas sintaxes de corpos, algumas imagens provocantes.
Ele opera sobre o inconsciente a partir de contrastes, repetições, desvios e foco no próprio espetáculo em curso, em cujo andamento pontua vários curtos-circuitos de som e de luz.
O que restou de fala é a descrição dos quesitos de um desfile de escola de samba. O poeta sussurra os clichês em voz gravada, como que a demarcar um caminho para o espectador não se perder. Mas as cenas que sucedem propiciam mais perplexidade do que reconhecimento.
Apesar da evocação do Carnaval, as tramas só insinuadas não têm os traços fortes da alegoria. Seus agentes não chegam tampouco a ser personagens. Ambíguos, são figuras duvidosas, meras alusões fugidias.
Nem todos os quadros têm a mesma força e, por vezes, parece que o cronista em Melamed ameaça o encenador, propondo voos mais rasos. Mas, no conjunto, a encenação arma jogos engenhosos de ver e ouvir, com ações claras, ainda que obscuros em relação a temas.
Por exemplo a tortura, e outros podres da vida brasileira, nunca são propriamente tratados. Eles surgem deslocados, em configurações estéticas rigorosas. Esse deslocamento prova-se eficaz, pois propicia, pela contundência imagética, novo olhar ao que o discurso verbal esgotou.
Os méritos da realização devem ser compartilhados com atores e atrizes bem preparados. Seus atos performativos mais do que ficcionais são efetivos. Deixam-se pendurar por minutos, a cera lhes queima a pele, as lágrimas lhes rolam abaixo, tudo que se faz é real.
Também colaboram a cenografia e objetos de Bia Junqueira, com momentos epifânicos, e a direção musical de Lucas Marcier e Fabiano Krieger, cujo padrão sonoro é crucial aos impactos pretendidos. A música aqui conduz as emoções e dissolve as opiniões.
ADEUS À CARNE OU GO TO BRAZIL
QUANDO: sex. e sáb., 21h, e dom., às 18h
ONDE: Sesc Santana (av. Luiz Dumont Villares, 579, tel. 0/xx/11/2971-8700)
QUANTO: de R$ 6 a R$ 24
CLASSIFICAÇÃO: 16 anos
AVALIAÇÃO: ótimo
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