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Filmes reescrevem vidas de compositores
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JOÃO BATISTA NATALI
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA
Os compositores do classicismo e do romantismo foram grandes celebridades. Prestaram-se muito depois a filmes açucarados que, de tantas liberdades poéticas, acabam perdendo o compromisso com a verdade biográfica.
Esse travestimento só vale a pena por ser um jeito de atrair para a música de concerto o público que jamais se aproximou dela.
É o caso de quatro filmes recém-lançados no Brasil em DVD, como o que trata de Franz Schubert (1797-1828), filmado em 1958 pelo austríaco Ernst Marischka e o sobre Ludwig van Beethoven (1770-1827), dirigido em 1936 pelo francês Abel Gance.
Há ainda a cinebiografia de Hector Berlioz (1803-1869), realizado em 1942 pelo francês Christian-Jacque e a vida de Wolfgang Amadeus Mozart (1756-1791), retratada em minissérie austríaca de 1991, dirigida por Juraj Herz.
Escapa dessa lógica uma quinta produção, sobre Giacomo Puccini (1858-1924). É uma minissérie para a TV pública italiana, de Giorgio Capitani, que traz de um modo equilibrado a vida do compositor.
Mesmo em episódios controvertidos, como o suicídio da doméstica Dória, depois que a mulher de Puccini desconfiou que o marido tivera um caso com ela.
Schubert é a grande vítima do descompasso entre o que ele foi e o que é mostrado na tela. O filme retoma a versão de uma opereta de 1914, de Heinrich Berte, em que o compositor se apaixona por uma moça que acaba se casando com seu melhor amigo.
Acontece que esse amigo --o poeta Franz Schober-- nunca se casou. Morou por 12 anos com o compositor e deu margem à hipótese mais que verossímil de que ambos eram homossexuais.
O amor frustrado também está na raiz do "Beethoven", de Abel Gance. O compositor se apaixona por uma aluna, Giulietta Guicciardi, o que realmente ocorreu, e é paralelamente amado por outra, Teresa de Brunswick.
A posição verdadeira das duas personagens no tablado biográfico, porém, é bem menor, diz o britânico Barry Cooper, hoje o grande especialista em Beethoven.
E como toda narrativa maniqueísta precisa de um vilão, Gance elege o sobrinho do compositor, que em verdade foi bem mais vítima da personalidade despótica do tio.
Já a vida de Berlioz, em produção autorizada pelas forças alemãs que ocupavam a França durante a Segunda Guerra (1939-45), é pretexto para o patriotismo musical.
O roteiro reúne em torno do jovem compositor personagens do mundo artístico de quem ele se aproximaria só bem depois. Ou então traz de volta um filho do primeiro casamento que, em verdade, esteve na marinha mercante e já havia morrido em Havana de febre amarela.
O dedicado a Mozart tem roteiro de Zdenek Mahler, o mesmo que assessorou Milos Forman no incrivelmente incorreto "Amadeus" (1984). A minissérie levanta voo para se afastar da verdade.
Faz a ópera "Don Giovanni" estrear em Viena, quando isso aconteceu em Praga. Mente sobre Antonio Salieri, rival de Mozart, e arrasta Constança, a mulher do compositor, para um desinteresse que beira a vilania.
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