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Expoente do teatro mundial, Angélica Liddell ganha primeira encenação brasileira
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GABRIELA MELLÃO
DE SÃO PAULO
Até 2010, Angélica Liddell era considerada uma referência do teatro espanhol de vanguarda. A partir desta data, quando a autora, performer e diretora espanhola de 46 anos apresentou-se pela primeira vez no Festival de Avignon, passou a ser considerada uma força do teatro mundial.
Vanguardista espanhola estreia no Brasil
Segundo a artista diz à Folha, na entrevista abaixo, o que a move não é o reconhecimento, mas a possibilidade de sanar sua existência angustiada.
No Brasil, sua arte ao mesmo tempo estranha e provocadora é pouco conhecida.
O Teatro Kaus estreia hoje a primeira montagem com base num texto da espanhola: "O Casal Palavrakis", sob direção de Reginaldo Nascimento.
Em suas performances, a artista costuma compartilhar sofrimento e dor com a plateia. Liddell já chegou a se cortar em cena. Para Nascimento, não há lugar para respiração no trabalho de Liddell. "É muita verdade jogada no espelho voltando para nossa própria cara. Sua obra é crua e fala sobre as relações humanas sem qualquer vestígio de maquiagem", afirma ele.
"O Casal Palavrakis", aborda de forma fragmentada a vida turbulenta de um casal suspeito de matar a própria filha. juntamente com as peças "Once Open a Time in West Asphixia" e "Hysterica Passio" compõe o Tríptico da Aflição, que a cia. dirigida por Reginaldo Nascimento planeja montar na íntegra. "Hysterica Passio" já está sendo traduzida para o português pelo dramaturgo Aimar Labaki. Deve estrear no primeiro semestre de 2013.
*
Folha - "O Casal Palavrakis" integra o Tríptico da Aflição. O que estas peças possuem em comum?
Angélica Liddel: Todas falam sobre o massacre da infância. Tento discutir a tirania de sangue, amor obrigatório que gera abuso, terror, tensão.
Não é todo seu trabalho sobre sofrimento e aflição?
Não me sinto capaz de falar sobre alegria. Trato do que conheço. Sinto uma profunda inclinação para falar sobre a lama na qual estamos presos. As comédias me aborrecem.
No que você se inspirou para compor "O Casal Palavrakis"?
Me inspirei num famoso crime que aconteceu nos EUA e que ficou sem resolução. Trata-se de um assassinato de uma criança que disputava concursos de beleza infantil. Suspeita-se que ela foi torturada e assassinada por seus pais.
Era sua intenção em "O Casal Palavrakis" discutir a importância de uma infância saudável e o fato das experiências desta fase serem definitivas?
É na infância que uma pessoa sofre abuso e terror sem conseguir se defender. Todo crescimento é um trauma, uma marca. Crescemos marcados. Quando você se transforma em adulto tenta se vingar de toda a sacanagem que viveu na infância. Simplesmente se sobrevive à infância.
Reginaldo Nascimento retrata a peça de forma crua, sem artifícios cênicos. De que forma você concebeu a encenação do texto?
Tentei expressar na encenação a ideia de uma infância massacrada através de brinquedos e uma tonelada de manequins destroçados. A peça é um conto de fadas perverso.
Por que o horror é quase um protagonista em seus trabalhos?
A vida é uma história de terror. Acabamos todos mortos.
Você diz fazer pornografia de alma. Pode explicar?
Tento romper a barreira do pudor. Tudo aquilo que rompe o pacto sócia é pornográfico. Bergman também faz pornografia de alma. Isso quer dizer adentrar-se na consciência humana, investigando o que está acima do correto, do justo e do injusto.
Você é uma das artistas mais importantes da vanguarda das artes cênicas hoje e mesmo assim considera seu teatro antigo. Isto se dá pelo fato de você evocar conflitos arcaicos em seu trabalho e não renunciar à fábula?
Digo que meu teatro é antigo simplesmente porque me dedico a pensar sobre as mesmas perguntas a respeito da alma humana que aparecem nos poemas Homéricos, por exemplo. Ser vanguardista não é um de meus objetivos. Isso é o que os outros dizem. Meu objetivo é solucionar minha angústia e uma certa necessidade de expressão.
Você compartilha sofrimento e dor com sua plateia através de performances que evocam um mundo estranho. Você considera seu teatro provocativo?
A natureza do teatro é a provocação. O encontro entre obra e público deve ser conflituoso. Sem conflito não há conhecimento.
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