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16/08/2012 - 04h58

Crítica: "Doroteia" mostra a potência atemporal de Nelson Rodrigues

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LUIZ FERNANDO RAMOS
CRÍTICO DA FOLHA

O ouro do dramaturgo. "Dorotéia", montagem da última das ditas "peças míticas" de Nelson Rodrigues (1912-80), faz luzir uma obra esquecida, clássico da dramaturgia brasileira moderna.

Iniciada em 1947 e só encenada pela primeira vez em 1950, no Rio, a peça demarca o fracasso mais retumbante entre os havidos nas encenações daqueles textos.

A singularidade de "Dorotéia" é que, mesmo alinhada com as tragédias mais conhecidas de Nelson, ele a assume como uma "farsa irresponsável". De fato uma tragicomédia, é a sua mais ousada experiência com a forma dramática.

A estranheza começa no ambiente ficcional: uma casa de viúvas em que não há quartos, só salas, pois as moradoras não suportam pensar que, por dentro dos vestidos, estão seus corpos nus.

Divulgação
Alinne Moraes como a personagem-título da peça "Dorotéia", de Nelson Rodrigues; a montagem tem direção de João Fonseca
Alinne Moraes como a personagem-título da peça "Dorotéia", de Nelson Rodrigues

O pudor exacerbado emoldura a chegada de Dorotéia, parente perdida na prostituição que traz marcas de pecadora e ardor de penitente.

O espetáculo de João Fonseca respeita a íntegra do texto e seu caráter barroco. Em vez dos incestos reais, as perversões ali são imaginárias, e a figura masculina só pode aparecer substituída por um par de "botinas desabotoadas". Há que desenhar tudo com traços e cores fortes.

As viúvas são interpretadas por atores, o que dispensa as máscaras previstas por Nelson para caracterizar suas "faces horrendas". Gilberto Gawronski, a viúva dominante e antagonista de Dorotéia, tem desempenho impecável na chave do exagero.

Alinne Moraes é uma Dorotéia exuberante, cuja beleza fulmina a feiura do coro de viúvas e da menina morta viva que com elas apodrece.

Uma dramaturgia vale pelo que ela guarda, em potência, para ser encenado em qualquer época. Esta montagem desvenda a majestade de "Dorotéia" não só diante da obra e do tempo de Nelson como frente ao teatro do nosso tempo.

DOROTÉIA
QUANDO sex., às 21h30, sáb., às 21h, e dom., às 19h; até 14/10
ONDE teatro Raul Cortez (r. Dr. Plínio Barreto, 285, tel. 0/xx/11/3254-1631)
QUANTO entre R$ 60 e R$ 70
CLASSIFICAÇÃO 14 anos
AVALIAÇÃO bom

 

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