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17/08/2012 - 18h43

Escritores discutem trechos sombrios da história do Brasil na Bienal

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DOUGLAS GAVRAS
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA

"Há trechos da história do Brasil que o próprio país desconhece por completo. O papel de jornalistas e escritores deve ser iluminar o lado mais sombrio de nossa história", resumiu o jornalista e escritor Flavio Tavares, que, ao lado de Leonencio Nossa e Paulo Moreira Leite, relembrou os momentos cruciais da história do país que foram salvos do esquecimento pela literatura.

Veja o especial da Bienal

Flavio Tavares é autor de "1961 - O Golpe Derrotado", em que relembra o golpe fracassado que tentou impedir a posse do presidente João Goulart. Além de escritor, Tavares foi colunista político do jornal "Última Hora" na década de 1960. Foi preso, torturado e expulso do país pelo regime militar em 1969.

Segundo o autor, a literatura também pode fazer mal à história. "As primeiras ficções que Rubem Fonseca escreveu, por exemplo, foram os documentos criados por ele no Instituto de Pesquisas Econômicas e Sociais, um órgão de fachada criado para instaurar o pânico anticomunista no Brasil do início da década de 1960."

Já Leonencio Nossa, que é repórter de "O Estado de S. Paulo", acaba de publicar "Mata! - O Major Curió e as Guerrilhas do Araguaia", livro em que mergulha no extermínio da guerrilha esquerdista do Araguaia pelas forças da ditadura militar brasileira ao longo dos anos 1970.

"Na época, o Exército mandou 3.000 homens para reprimir a guerrilha. Hoje, há cerca de 4.000 soldados no mesmo local, o Araguaia continua o mesmo, as marcas da violência ainda são visíveis", disse Nossa.

O autor teve acesso ao arquivo pes­soal do major Sebastião Rodrigues de Moura, mais conhe­cido como Curió. Ele revela detalhes das tor­tu­ras e assas­si­na­tos que viti­ma­ram deze­nas de pes­soas na década de 1970 na região do Araguaia, no norte do Brasil, entre mili­tan­tes do PC do B e sim­pa­ti­zan­tes de esquerda.

"Um dos guerrilheiros que descobri, que tinha 19 anos à época, era descendente de Antônio Conselheiro, da revolução de Canudos. Quando você se aproxima das pessoas e se dispõe a ver de verdade, consegue enxergar o mosaico de lutas que nós somos e descobre o quanto os maniqueísmos fazem mal", pontuou o jornalista.

Nossa falou ainda que o processo de julgamento dos envolvidos no massacre está emperrado. "A Justiça determinou a abertura dos documentos do Araguaia em 2003 e nada foi feito até agora. Espero que [a presidente] Dilma faça o que deve fazer."

Paulo Moreira Leite, colunista da revista "Época", lança "A Mulher que era o General da Casa", em que reúne perfis de personagens que participaram de organizações e movimentos de resistência ao regime militar, como Therezinha Zerbini, funcionária dos Correios em São Paulo que acolheu estudantes feridos pela polícia, organizou atos de protesto e consolou mães em busca de filhos desaparecidos. "Algumas pessoas parecem entender o papel delas e, sem heroísmos, conseguem fazer a diferença."

Sobre a Comissão da Verdade, grupo que investiga violações de direitos humanos ocorridas entre 1946 e 1988 no Brasil por agentes do Estado, ambos argumentaram que é preciso repensar a formação do grupo.

"Criar a Comissão da Verdade foi o primeiro passo, mas questiono a sua composição. Representantes religiosos, que foram atuantes na resistência aos militares devem fazer parte do grupo. E, por mais chocante que possa parecer, membros das Forças Armadas devem compor as investigações, ainda que para evitar qualquer argumento de revanchismo que possa atravancar a punição aos criminosos daquele período", resumiu Tavares.

 

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