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Filósofos fazem elogio à preguiça em encontro na Bienal
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DOUGLAS GAVRAS
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA
"São os ociosos que transformam o mundo porque os outros não têm tempo algum", já diria o pensador francês Albert Camus (1913-1960). Partindo desse princípio o filósofo Vladimir Safatle e o escritor Antonio Cícero encerram o nono dia da Bienal do Livro com um debate sobre as virtudes da preguiça.
Figurante na lista dos pecados capitais, a preguiça é tida como um desvirtuamento da vida moderna. O ócio seria incoerente com a necessidade de produzir e de se realizar através do trabalho.
Antonio Cícero formou-se em filosofia na Universidade de Londres. Poeta, tornou-se conhecido em finais dos anos 1970 como o letrista das canções de sua irmã, Marina Lima. É autor de, entre outras obras, duas coletâneas poéticas: "Guardar" (1997) e "A Cidade e os Livros" (2002).
Citando o poeta português Fernando Pessoa, Cícero lembrou que praticar a preguiça é fugir para uma dimensão em que a necessidade constante de produzir algo é substituída pela preguiça fértil, em que a arte e a poesia brotam da mente que não se cobra por um resultado. "Permitir-se ser preguiçoso, nesse sentido, é uma atitude libertadora. 'Sinto todo o meu corpo deitado na realidade', resumiu Pessoa."
Safatle, que assina uma coluna semanalmente na Folha, lembrou que a noção de trabalho e produtividade se deteriorou consideravelmente nos últimos anos. "Sofremos devido ao peso que damos ao trabalho, a estar ocupado. Ligamos o trabalho à necessidade de reconhecimento, como se estar constantemente ocupado fosse nosso modo de expressão e a satisfação pessoal, independente da opinião alheia, fosse vista como culpa", disse.
"Todos vocês aqui nesta plateia padecem do mesmo desconforto: Vocês trabalham mais que seus pais, ganham menos, têm menos segurança e, por alguma razão, se sentem mais realizados do que eles", provocou Safatle.
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