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Filme inacabado de Lúcio Cardoso terá exibição no Festival do Rio
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MARCO RODRIGO ALMEIDA
DE SÃO PAULO
O trabalho era uma das muitas obsessões de Lúcio Cardoso. Em 28 anos de carreira literária, publicou 15 romances e novelas, peças de teatro, poesias, crônicas, ensaios e traduções.
Edição ampliada do "Diário Completo" marca centenário de Lúcio Cardoso
Em 1962, impossibilitado de escrever após um derrame, passa a se dedicar à pintura. A obra plástica do autor, por sinal, será tema de um livro que deve ser lançado em 2013, organizado por sua sobrinha-neta Andrea Vilela.
Mas, depois da literatura, é bem provável que sua grande paixão fosse o cinema.
Seis filmes foram inspirados em seus textos. Os mais conhecidos foram dirigidos por Paulo Cezar Saraceni, como "Porto das Caixas" (1962) e "O Viajante" (1999).
Um sétimo longa pode agora, de certa forma, ser acrescentado ao currículo cinematográfico do escritor.
"A Mulher de Longe", filme inacabado que Cardoso iniciou em 1949, foi retomado pelo diretor Luiz Carlos Lacerda (conhecido como Bigode) e será exibido no Festival do Rio, que começa no dia 27.
Divulgação | ||
Os atores Orlando Guy e Iracema Vitória em cena de "A Mulher de Longe", em 1949 |
A história começou quando o produtor João Tinoco de Freitas, pai de Bigode, convidou o autor mineiro para dirigir um filme.
Cardoso escreveu o roteiro de "A Mulher de Longe", sobre uma mulher acusada de levar desgraça para uma ilha.
A busca por locações e o início das filmagens na aldeia de Itaipu, próximo de Niterói, entre agosto e setembro de 1949, ocupam muitas páginas do início do "Diário I".
A equipe incluía os atores Fernando Torres, Orlando Guy, Iracema Vitória e o diretor de fotografia Ruy Santos.
Chuvas constantes, dinheiro escasso, problemas na equipe e mesmo a inexperiência do cineasta de primeira viagem interromperam as filmagens inúmeras vezes.
O relacionamento com a população local foi outro problema. "Meu pai contou que o Lúcio teve um caso com um pescador que era casado. A mulher descobriu e queria matar Lúcio", diz Bigode.
No começo de 1950, as filmagens foram definitivamente canceladas. O escritor nunca mais arriscou-se na direção. Já o filme ficou desaparecido por quase 60 anos.
No ano passado, o pesquisador Ésio Macedo Ribeiro localizou os copiões, com cerca de 20 minutos de filme, na Cinemateca de São Paulo.
Bigode então misturou as imagens recuperadas com cenas de outros filmes inspirados no autor e trechos dos diários narrados pela ator Ângelo Antônio.
O resultado é uma espécie de documentário poético sobre o filme de Cardoso.
"O material de Lúcio é lindo. Os enquadramentos têm uma atmosfera sombria, muito introspectiva", diz Bigode.
O diretor, que já lançou um longa inspirado em Cardoso ("Mãos Vazias", 1971), quer levar para as telas outro argumento escrito por ele, "Introdução à Música do Sangue".
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