Saltar para o conteúdo principal

Publicidade

Publicidade

 
 
  Siga a Folha de S.Paulo no Twitter
21/09/2012 - 04h00

Tom Zé fala sobre disco "Tropicália Lixo Lógico" e sobre shows em São Paulo

Publicidade

MARCOS GRINSPUM FERRAZ
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA

Para falar sobre os shows de lançamento do disco "Tropicália Lixo Lóxico" em São Paulo --de sexta (21) a domingo (23) no Sesc Vila Mariana, com ingressos esgotados--, o músico Tom Zé, 75, recebeu a Folha para uma conversa em sua casa, na tarde da última quarta (19).

Tom Zé faz show de lançamento de seu "disco mais popular e cantante"

Como "observador de tempos e situações" --em sua própria definição-- e como um dos personagens centrais do tropicalismo, o compositor decidiu, no novo álbum, dar sua versão sobre o surgimento do movimento criado nos anos 1960.

Sua tese parte do funcionamento mental nos primeiros estágios do conhecimento infantil --quando se aprende com maior intensidade--, passa pelo contato das crianças com Aristóteles (aos seis ou sete anos) e chega até o momento histórico em que Gil e Caetano deflagram o tropicalismo --quando o "lixo lógico" da infância vaza do hipotálamo para o córtex.

Se a teoria parece fazer do disco um trabalho difícil, Tom Zé afirma que, na verdade, este é seu álbum mais popular e cantante --o que certamente ajuda no palco. Sobre os shows, também conta, com humor, que sua mulher (com quem vive há cerca de 40 anos) aprovou o espetáculo.

"A Neusa é minha maior crítica. Quando fala que uma música está ruim eu logo jogo fora. Mas ela viu o show em Minas e disse que está ótimo, aprovou."

A conversa passou por vários assuntos. Leia abaixo.

Adriano Vizoni/Folhapress
O cantor Tom Zé
O cantor Tom Zé

DISCO E SHOW

Depois do trabalho de fazer um disco, você acaba e se pergunta: e agora, o que fazer no palco? Dessa vez eu fui ajudado por canções que por si só são interessantes, alegres, cantantes. As canções são proteinadas, com refrões bem encontrados, e eu, no show, exploro isso. Mesmo as faixas que carregam a teoria, é sempre música "sacudida".

EXPERIÊNCIA DE PALCO

Para tocar em todos os tipos de lugar (teatros, praças etc.), eu tive que me reinventar, me tornar um "clown", um tipo de palhaço, um improvisador bastante ativo e perspicaz. Meu show não é engessado. Eu sinto que preciso divertir o público, e me divertir também.

E todos os artifícios que eu fui aprendendo ao longo do tempo se tornaram agora um tipo de estoque de recursos interiores, que funciona automaticamente. Mas olha só, passarinho que canta muito caga no ninho. Quando a gente fala da nossa técnica de show a gente está se arriscando, porque vitória não se canta antes de acontecer [risos].

Mas o tempo todo eu estou sentindo os olhos da plateia, e se algo não estiver funcionando eu mudo tudo. O palco é um processo de eterno feedback, pergunta e resposta.

CENÁRIO, GIL E CAETANO

Não tem cenário no show. É sempre aquela coisa minha que é uma espécie de teatro pobre à la [Jerzy] Grotowski. Mas eu trabalho com outras coisas. Por exemplo, eu coloco um rabo, que é mil vezes significativo. Porque nós fomos chamados de animais. E porque, no Egito, quanto o faraó ia a uma cerimônia representando Deus, ele tinha que ir com um rabo. Para poder chegar a um estágio superior tinha também que ir a um estágio inferior. Tinha que ir ao animal para poder ir ao superior do homem.

E eu pra poder falar de pessoas superiores como Gil e Caetano uso um rabo, tenho que ir ao animal também. [São superiores] porque diante de um momento crítico [fim dos anos 1960], quando a esquerda queria aquele Brasil folclórico e bucólico, quando tinha passeata contra a guitarra, Caetano e Gil chegam e falam: "Não, nós vamos partir em outra direção!". Botaram a cabeça a prêmio. E foram realmente degolados, a classe estudantil se virou contra eles. Eles reagiram com essa coragem, esse vigor. Aí caíram em cima deles, mas depois viram que não podiam.

TROPICALISMO E ARISTÓTELES

Desde o princípio do tropicalismo o "establishment" representado pela lógica cartesiana ficava contrariado com o que eles chamavam de "falta de lógica" em nossas letras. Porque era um novo horizonte na maneira de pensar.

No disco, eu estou falando da teoria de como Gil e Caetano levaram o país de uma idade média emperrada do fim dos anos 1960 e fizeram com que a mentalidade de seus ouvintes pudesse se voltar para a segunda revolução industrial, que estava chegando em São Paulo.

Acho importante dizer também que todas as invenções modernas foram feitas fora da linguagem aristotélica. Inclusive dizem que, agora, Aristóteles é um atraso para a ciência.

NOVOS ARTISTAS

A relação com os novos artistas é ótima [Rodrigo Amarante, Washington, Pélico, Mallu Magalhães e Emicida participaram do disco, sendo que os últimos três estarão no show]. Acho que eu aprendo mais com eles do que eles comigo.

A música popular é uma das artes mais peculiares e desenvolvidas da cultura brasileira. Isso é uma visão inclusive que os estudiosos estrangeiros têm. E digamos que, assim como eu vi o tropicalismo apontar setas para o futuro --não só na profissão de músico, mas em todas as áreas--, eu vejo nesses músicos novos que chegaram perto de mim uma grande capacidade de crítica, de visão.

Acho que quando estivermos diante da terceira revolução industrial, com todos os problemas que devem vir (como o desemprego), a gente vai precisar no Brasil que os artistas produzam massa mental para fazer frente à essa novidade. Aí quando eu vejo esses artistas novos eu penso: pode ter jeito, porque esses caras são de foder! Quer dizer, acho que a música dará sua contribuição.

 

Publicidade

Publicidade

Publicidade


Voltar ao topo da página