Crítica: Texto faz cruenta sátira sobre a vida no começo do século 21

Tragicomédia norte-americana. "O livro de Itens do Paciente Estevão", espetáculo da Sutil Companhia de Teatro, transporta para a cena uma cruenta sátira sobre a vida nos Estados Unidos no início do século 21.

Sam Lipsyte, o autor do texto publicou "The Subject Steve", em 2001. A novela narra as peripécias de personagem que estaria morrendo de uma doença nova, tão singular que nada se sabe sobre ela a não ser o fato de ele ter sido a única pessoa a contraí-la.

A adaptação de Felipe Hirsh é audaz. Percorre os nove "cadernos de itens" escritos pelo herói na sua peregrinação e flerta com o Grand Guignol. Isto implica em uma sessão teatral de prolixas cinco horas e no apelo a um arsenal de lances escatológicos.

A dificuldade é capturar o absurdo das circunstâncias, da virtualidade da narração literária para a concretude da linguagem cênica. A referência para essa operação é a escrita visual dos quadrinhos. Um elenco coeso compõe uma galeria de tipos caracterizados quase no registro da farsa.

Leonardo Medeiros, como o paciente, atravessa todas as situações dramáticas com ironia e naturalidade. Guilherme Weber, em contraponto, encarna os antagonistas do herói com exagero intencional.

Entre os outros sete atores, os destaques são Georgette Fadel, Isabel Teixeira e Danilo Grangheia, que colaboram para instaurar o delírio e saturar o cômico com sutilezas.

A voz visceral e amarga de Lipsyte talvez seja melhor fruída em livro, mas fazer esta passagem não deixa de ser uma realização respeitável, que confirma o talento de Hirsch para garimpar textos da América do Norte.

O LIVRO DE ITENS DO PACIENTE ESTEVÃO
QUANDO hoje, às 18h, e amanhã, às 17h; última semana
ONDE Sesc Belenzinho (r. Padre Adelino, 1.000, tel. 0/xx/11/2076-9700)
QUANTO de R$ 6 a R$ 24
CLASSIFICAÇÃO 18 anos
AVALIAÇÃO bom