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25/10/2012 - 05h33

Crítica: "Recusa" retrata cultura indígena com brilho

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LUIZ FERNANDO RAMOS
CRÍTICO DA FOLHA

Cena ameríndia. "Recusa", espetáculo da Cia. Balagan, propõe um mergulho no caldeirão das culturas indígenas do Brasil.

Mais que retratá-las, os artistas envolvidos incorporaram suas línguas, cantos e mitos até o ponto de tornarem-se índios.

A encenação de Maria Thaís se ancora no trabalho de dois atores, Antônio Salvador e Eduardo Okamoto, que concretizam esta incorporação e sustentam uma narrativa cênica contundente.

A dramaturgia de Luiz Alberto de Abreu, que partiu de lendas recolhidas, quer revelar o que é ser esse outro sem uma dramatização convencional. Contou para isso com os atuantes, fazendo de seus corpos e vozes fundo sonoro e visual com que narram algumas histórias.

Ale Catan/Divulgação
Cena da peça "Recusa", da Cia. Balagan
Cena da peça "Recusa", da Cia. Balagan

A direção musical de Marluí Miranda propiciou que os intérpretes assimilassem cantos de diversas etnias, sempre apresentados nas línguas originais, o que torna seus desempenhos um recital de musica acústica.

A forma do dueto, ou da dupla que interage em uníssono, segue a estrutura das mitologias ameríndias descrita pelo antropólogo francês Claude Lévi-Strauss.

Ele reparou que na América indígena os pares míticos não se aniquilavam entre si, mas compartilhavam suas diferenças criativamente.

Acrescente-se a percepção de outro antropólogo, o brasileiro Eduardo Viveiros de Castro, sobre a peculiar noção de humanidade daquelas culturas. Ela permite estabelecer um fluxo de mutações em que os seres flutuam por diversas formas de vida.

Ali, homens, animais, plantas e rios têm suas almas ou são igualmente pessoas.

Os dois intérpretes variam entre serem homem e onça, pássaro e árvore, narrador e coisas narrada. Contam desde cosmogonias primitivas até casos recentes, como o que inspirou a produção, sobre dois índios isolados que se recusaram a receber ajuda quando descobertos.

O único estranhamento, neste discurso indígena que se quer não mediado pelo homem branco, é quando a voz de um fazendeiro devorado ainda fala na barriga do índio. O tom ideológico contrasta com o "pensamento selvagem" que vinha sendo cultivado.

É pouco para empanar o brilho da realização da Balagan, que arrisca uma nova abordagem teatral da questão indígena.

RECUSA
QUANDO de qui. a sáb., às 21h30; dom., às 19h; última semana
ONDE SP Escola de Teatro (pça. Roosevelt, 210; tel. 0/XX/11/3775-8600)
QUANTO R$ 10
CLASSIFICAÇÃO 12 anos
AVALIAÇÃO ótimo

 

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