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Crítica: Diretora usa o extraordinário para sublinhar o banal na vida
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RICARDO CALIL
CRÍTICO DA FOLHA
"Chamada a Cobrar", longa de Anna Muylaert que tem como ponto de partida aquele tipo de golpe telefônico em que se simula o sequestro de um parente da vítima, é uma nova versão, mais longa, de "Para Aceitá-la, Continue na Linha", telefilme exibido pela TV Cultura em 2010.
Novo filme de Anna Muylaert une crime e descoberta pessoal
Entre a ideia original e a exibição na Mostra, o mote do filme pode não ter deixado de existir, mas certamente deixou de frequentar o imaginário da maioria das pessoas. O que não significa que "Chamada a Cobrar" tenha perdido fôlego nesse tempo.
Porque, como já havia demonstrado em "Durval Discos" (2002) e "É Proibido Fumar" (2009), Muylaert está menos interessada nas circunstâncias externas do que em registrar o impacto de um fato extraordinário na vida ordinária de uma pessoa.
Aqui a protagonista é Clara (a excelente Bete Dorgam), senhora de classe média alta de São Paulo que recebe a chamada em que um golpista diz ter sequestrado a mais jovem de suas três filhas e que parte de carro ao Rio para entregar o resgate.
A cena central desse "road movie", e chave para decifrar o cinema de Muylaert, é aquela em que Clara compra dezenas de bichos de pelúcia para a família, em meio ao completo desespero, numa parada na rodovia: o extraordinário usado para sublinhar o banal.
Em relação aos longas anteriores de Muylaert, há uma sensação de perda: vocacionada para filmar espaços fechados, a cineasta se revela menos rigorosa nos espaços abertos de "Chamada a Cobrar". Ainda assim, o filme confirma uma cineasta invulgar, justamente porque sabe filmar o banal como poucos.
CHAMADA A COBRAR
QUANDO quinta (25), às 22h, sexta (26), às 17h, e dom., às 17h30, no Espaço Itaú Frei Caneca
CLASSIFICAÇÃO 12 anos
AVALIAÇÃO bom
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