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Crítica: Teatro Oficina mostra boa forma no musical 'Acordes'
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LUIZ FERNANDO RAMOS
CRÍTICO DA FOLHA
Lição política à brasileira. "Acordes", o novo espetáculo do Teatro Oficina, retoma peças didáticas de Bertolt Brecht (1898-1956), traça eloquente discurso sobre a atualidade no Brasil e no mundo, e reitera a busca de entendimento com os poderes públicos para a compra do terreno em seu entorno.
Brecht escreveu "A Peça Didática de Baden-Baden sobre o Acordo" em 1929, em reação à crise econômica daquele ano. Antes, criara para o rádio "O Voo de Lindbergh", parceria com o músico Paul Hindemith (1895-1963) urdida sob o impacto da primeira travessia aérea do oceano Atlântico feita por Charles Lindbergh.
O aviador norte-americano se aliaria mais tarde aos nazistas, o que fez Brecht, em 1950, mudar o nome da primeira peça para "O Voo sobre o Oceano".
Mas o engate das duas se mantém, pois a segunda narra a experiência de aviadores que têm de pedir ajuda depois de um desastre.
A encenação de Zé Celso combina os dois textos e expõe com clareza a tese central do segundo, de que, diante da violência dominante, qualquer ajuda, pedida ou ofertada, deve ser recusada.
Com o apoio de duas bandas de músicos atuadores e um coro afinado, a montagem resgata as partituras de Hindemith e cria uma trilha original, incorporando sons e canções de vários quadrantes. Mais uma vez, o Oficina exibe seu singular teatro musical, ponto forte de sua produção nos últimos 20 anos.
Já em 1986, o grupo fez uma leitura dos textos agora encenados que se chamou "Acordes", mesclando o sentido da palavra relativo ao acerto entre partes com o referente à agregação simultânea de notas musicais.
Lenise Pinheiro /Folhapress | ||
O ator Mariano Mattos Martins em cena da peça 'Acordes' |
ATUALIZAÇÃO
Nestes novos "acordes" que o Oficina entoa em uníssono coral, envolvendo atuantes da companhia e da "multidão" (os espectadores), atualiza-se a fábula brechtiana, incluindo-se nela fatos recentes como a destruição de Gaza e a matança em São Paulo, e propõe-se um novo "voo", a construção do "teat(r)o de Estádio Oswald de Andrade".
Notáveis são o incremento técnico no uso das imagens projetadas e as invenções cenoténicas e cenográficas, como a que permite a uma réplica do 14 Bis de Santos Dumont de fato voar sobre a pista do teatro, ela própria transformada em espaço de pousos e decolagens.
O Oficina mostra que está em forma, e Zé Celso, que continua firme em suas disposições. A única dúvida que resta é quanto à demanda ao Estado brasileiro para que compre, de Silvio Santos, o terreno que circunda o seu teatro. Parece colidir com a tese de que não cabe, hoje, nem pedir nem
oferecer ajuda. Ou, talvez, neste caso, coubesse?
ACORDES
QUANDO sex., às 21h30; sáb., às 21h; dom., às 20h; até 23/12
ONDE Teat(r)o Oficina (r. Jaceguai, 520; tel. 0/xx/11/3106-2818)
QUANTO R$ 20
CLASSIFICAÇÃO 14 anos
AVALIAÇÃO bom
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