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Festival Choro Jazz Jericoacoara, no Ceará, teve de tudo, menos jazz
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CARLOS BOZZO JUNIOR
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA
A 4ª edição do festival Choro Jazz Jericoacoara, que aconteceu de 29 de novembro a 1º de dezembro, em Fortaleza, e da última terça-feira (4) até domingo (9), em Jericoacoara, pela primeira vez não fez jus ao nome. Faltou jazz. O evento teve 90% de choro e 10% de outros gêneros, menos jazz. Contudo, apresentou 100% de música de alta qualidade.
Dos três dias de shows realizados em Fortaleza, destacaram-se as apresentações de Arismar do Espírito Santo (violão de sete cordas) com Vinícius Dorin (sax e flauta); Gabrielle Mirabassi (clarinete) com Guinga (violão e voz); Alessandro Penezzi (violão) com Alexandre Ribeiro (clarinete); e Duo Assad (violões). Arismar e Vinícius mostraram que na música instrumental brasileira que utiliza o improviso, quando se arrisca não há erros, mas sim acertos vindos deles. O italiano Mirabassi esbanjou técnica e emocionou a plateia, mas não arriscou e tocou o que já estava ensaiado e muito bem estudado com o mestre Guinga. A dupla Penezzi e Ribeiro não economizou em coragem, arriscou e fez um show onde técnica aliada a cumplicidade geram ótimos resultados no choro.
Problemas técnicos de som prejudicaram a imaculada, limpa e precisa música do Duo Assad que, entre outras, executou a barroca "Canto dos Pássaros", o tango "Batuque" de Ernesto Nazareth (1863-1934), o dramático "Choro nº 5" da série de Choros de Câmara de Heitor Villa-Lobos (1887-1959) e "Palhaço" de Egberto Gismonti.
Dos seis dias de festival que aconteceu em Jeri ouviu-se muita música no palco, nas oficinas, nas canjas dos bares e nas rodas de choro, mas nada de jazz. Entre os destaques figura a apresentação dos veteranos Cristóvão Bastos (piano) e João Lyra (violão), que tocaram, entre outras, "Do João Pra Pernambuco", que o violonista fez em homenagem ao músico João Pernambuco (1883-1947). "O baixo volume e a alta qualidade musical deles me chamaram a atenção", disse Almir Sater, detentor do maior público e solicitações para fotos do evento, além da atriz Adriana Lessa, que participou da novela " O Clone", apresentadora do festival. "Nem na Pedra Fura da escapei de tirar foto com as pessoas", disse sempre sorrindo e simpática a atriz que roubou a cena de um dos maiores pontos turísticos do local.
O grupo gaúcho Tambo do Bando foi eleito pela maioria dos músicos presentes como o mico do festival. Um deles que não quis se identificar, criticou: "Essa música funciona só em festivais de canção do Sul do país".
No entanto, as apresentações do Trio Madeira Brasil (que teve problemas com o som, além da quebra de duas cordas do bandolim de Ronaldo interrompendo a performance por longos minutos), Monica Salmaso Trio, o dançante grupo Lindigo e a do incomparável mestre Raul de Souza foram sublimes.
Surpresa boa mesmo- além do cartunista Paulo Caruso, que documentou os shows por meio de seus desenhos- foi o Bandão Choro Jazz, grupo formado por professores e alunos da escola de música criada pelo evento, que desceu do palco e contagiou a plateia unindo todos pelo som. Da mesma maneira Antônio Nóbrega fechou a festa em festa ao homenagear o sanfoneiro Luiz Gonzaga (1912-1989).
Entretanto, a ausência do jazz continuou presente. "Eu morava em Nova Iorque e lá ouvi muito jazz. Nenhuma música apresentada aqui é jazz. Eu adoro jazz, mas não tem jazz nesse festival", disse o grego Christos Kyritsis, 51, proprietário do Café Latte Project, em Jeri, que assistiu o lendário Miles Davis (1926-1991), entre vários outros nomes do gênero.
De fato o único 4x4 que se ouviu veio do som da tração dos veículos que transportaram as pessoas até Jeri.
Fica para a próxima.
O jornalista Carlos Bozzo Junior viajou a convite da organização do festival.
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