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"Garrafas ao Mar" mescla documentário e reportagem sobre Joel Silveira
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MORRIS KACHANI
DE SÃO PAULO
A principal matéria-prima de "Garrafas ao Mar" são as 15 fitas cassete e três horas de entrevista feitas pelo próprio Geneton ao longo de duas décadas de amizade e convivência com Joel Silveira.
Opinião: Joel Silveira foi melhor que o repórter americano Gay Talese
Documentário revê obra de Joel Silveira, tido como um dos maiores jornalistas do Brasil
O tom que prevalece na conversa é o de mestre e aprendiz, como ressalta o texto em primeira pessoa de Geneton, narrado por Raimundo Fagner.
A escolha do cantor cearense de sotaque acentuado se deu por afinidade entre conterrâneos.
Geneton, pernambucano, se identifica com Joel como forasteiro nordestino acolhido no Rio. Ambos, afinal, chegaram à cidade com um bloco de anotações na mão e muitas ideias na cabeça.
Walter Ennes/Folhapress | ||
Escritor e repórter Joel Silveira em foto tirada de 1979 |
Coube aos atores Carlos Vereza e Othon Bastos fazer a leitura de trechos dos textos de Joel. Muitos dos protagonistas da história no século passado foram objeto de suas entrevistas e reportagens.
Joel conheceu pessoalmente Getulio Vargas 15 dias antes do suicídio (tinha "uma mão delicada, quase feminina, de unhas bem tratadas"). Trabalhou ao lado de Carlos Lacerda e Nelson Rodrigues.
Entrevistou Monteiro Lobato, e teve contato com Gilberto Freyre, Graciliano Ramos e Jorge Amado.
Sobram anedotas e observações ferinas de todos esses momentos.
Instado a falar sobre os parâmetros para o bom exercício da profissão, Joel cita Herbert Matthews, gigante do jornalismo americano, a quem conheceu pessoalmente:"É preciso paciência, persistência e sorte". E mais, "o repórter não existe --o que existe é a notícia". Já Chateaubriand teria dito certa vez: "Saiba 'Vossência' que jornalista que não enriquece é burro".
"Garrafas ao Mar" parece estar em um limbo entre dois gêneros, o documentário e a longa reportagem televisiva.
O tom pessoal e talvez exageradamente emotivo pressupõe um formato diferenciado. O ritmo também é outro, sem cortes rápidos. Há o recurso de chamar dois grandes atores para participarem de um filme que, afinal, é sobre imprensa escrita. E ainda dois belos planos-sequência.
O resultado final ecoa o que há de melhor no padrão de qualidade jornalística da emissora, o que não é pouco. Mas não escapa de certa pasteurização, a que o telespectador está habituado.
O recurso de ancorar o filme na longa sequência de entrevistas é um risco assumido. O contexto para se compreender melhor a trajetória de Joel e mesmo as histórias contadas por ele faz falta.
Ainda assim, "Garrafas ao Mar" vale muito pelo relato da "víbora" e pelo talento em perguntar de Geneton, que já produziu memoráveis entrevistas com Darcy Ribeiro, Carlos Drummond de Andrade, João Cabral de Melo Neto, além do general Newton Cruz.
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